Quinta-feira, 18 de Setembro de 2025

Vendas de celulares voltaram a crescer, diz presidente da Motorola no Brasil

Após anos seguidos de queda, o mercado brasileiro de celulares está se recuperando em 2025, puxado pelas vendas de aparelhos com tíquete médio mais alto. A avaliação é do presidente da Motorola, Rodrigo Vidigal, em entrevista exclusiva à Coluna. “Estamos vendo uma inversão. O mercado não só parou de cair como voltou a crescer”, afirmou.

Desde 2020, as vendas recuaram ano após ano, afetadas por um conjunto de fatores que abrangeram pandemia, subida dos juros e encarecimento dos aparelhos. Mas, segundo pesquisas de mercado monitoradas pela Motorola, o jogo começou a virar.

O faturamento com as vendas entre janeiro e julho de 2025 subiu 8% na comparação com os mesmos meses de 2024, enquanto a quantidade de aparelhos comercializados ficou estável. Ou seja: o consumidor está comprando aparelhos de um tíquete médio mais alto.

“O consumidor está buscando smartphones com novas tecnologias, como 5G, inteligência artificial, mais memória, câmera melhor, tela maior e outras coisas do tipo”, apontou o executivo. “As pessoas usam muito mais o celular hoje em dia. Desde trabalho até streaming de futebol. Então, elas querem ter um celular melhor.”

Aposta é em aparelhos mais sofisticados

A própria Motorola tem surfando essa onda e apostado em aparelhos com mais tecnologia e design embarcados, como as linhas mais novas de smartphones com telas dobráveis. O resultado tem sido um crescimento acima da média de mercado, disse Vidigal. A companhia não revela os números exatos.

Um exemplo dessa estratégia foi a parceria com a Swarovski para o lançamento, em agosto, de um kit com celular (o modelo dobrável Razr 60), fones de ouvido (Moto Buds Loop) e estojo, todos cravejados com os famosos cristais da marca. O pacote está saindo a partir de R$ 6,7 mil no site da Motorola. Para essa iniciativa foi aberto um quiosque temporário no Shopping JK Iguatemi, em São Paulo. “Estamos buscando o consumidor de lifestyle e tech, e a aceitação foi muito grande”, relatou Vidigal.

Outra iniciativa na mesma linha foi a parceria com a Pantone para uma consultoria de cores. O resultado é que os celulares coloridos respondem, atualmente, por 65% das vendas totais da Motorola. “Antes era o oposto. O preto e o cinza dominavam. As cores nos ajudaram a chegar a novos públicos e alavancar as vendas”, disse o presidente.

Pressões de custo elevaram preços
A despeito das inovações, outro fator para elevação do tíquete médio dos smartphones foi a pressão de custos sobre a produção local, marcada pela desvalorização do real frente ao dólar e o encarecimento do frete. Além disso, há escassez de determinadas peças, como chips e memórias, que passaram a ser disputados não só pelos aparelhos eletrônicos de costume, como também por carros, relógios e geladeiras, entre outros produtos.

O presidente da Motorola apontou também o peso dos juros elevados da economia brasileira. “É um grande desafio conviver com essa taxa. Isso encarece o crédito e aumenta a inadimplência. As vendas poderiam ser maiores se não fossem os juros altos.”

A Motorola é segunda maior vendedora de celulares no Brasil, com 30% de participação de mercado, ficando atrás apenas de Samsung (com quase 50%), mas à frente da Apple (cerca de 10%). O presidente da empresa vê com naturalidade a competição mais acirrada após o desembarque de novas marcas no País, como Xiaomi, Oppo, Realme, Vivo, Honor e Huawei. “É natural a entrada de novos concorrentes, porque o Brasil é o quarto maior mercado de celulares do mundo. Seria até uma surpresa se não viessem novos players. Vemos isso com bons olhos e estamos prontos para a competição”, disse.

Contrabando representa 19% das vendas
Segundo Vidigal, o verdadeiro incômodo vem de um velho concorrente: os aparelhos que entram irregularmente no Brasil. “O grande problema é competir com o contrabando”, ponderou. A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) estima que os celulares irregulares representaram 19% de todas as vendas em 2024. Esse negócio deu um salto nos últimos anos por causa da facilidade de se vender tais mercadorias na internet.

É muito fácil comprar um celular no Paraguai e vender em um marketplace por aqui”, criticou o executivo, lembrando que esses aparelhos não estão sujeitos à carga tributária de 38%. “O ambiente dos marketplaces permite a venda de itens de contrabando. Antes isso acontecia nos camelódromos nas ruas. Agora, eles levaram os camelódromos para dentro dos sites”, apontou.

O presidente da Motorola elogiou a resolução tomada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em agosto, segundo a qual os marketplaces passarão a ter responsabilidade pela oferta de produtos piratas. Os sites também serão obrigados a divulgar o código de homologação nos anúncios e verificar a regularidade dos itens ofertados. Segundo Vidigal, a expectativa é que a resolução ajude a coibir o contrabando. “A decisão ainda não fez efeito porque é muito recente, mas a nossa expectativa é que isso ajude”.

 

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