Ultragaz compra controle da Witzler por R$ 110 milhões e entra no mercado livre de energia
A Ultragaz, empresa controlada pela Ultrapar, assinou contrato para a aquisição de 51,7% de participação na Witzler, companhia que atua em comercialização no mercado livre e gestão de energia. O investimento será de R$ 110 milhões, pagos no fechamento da transação. Há ainda uma parcela de R$ 40 milhões a ser desembolsada em 12 meses condicionada ao desempenho do negócio.
O mercado livre de energia é um segmento no qual os consumidores podem escolher seus fornecedores e estabelecer contratos por fonte, prazo ou preço da energia. A aquisição do controle da Witzler ocorre num contexto de ampla liberalização do setor elétrico, fruto da Portaria 50/2022 do Ministério de Minas e Energia (MME). A medida permite que empresas conectadas a redes de média e alta tensão (grupo A) possam escolher seus próprios fornecedores de eletricidade. Na prática, isso significa tirar as distribuidoras do caminho.
Ao Valor, o presidente da Ultragaz, Tabajara Bertelli, conta que a investida habilita a companhia a atender a clientes, sobretudo, de pequenos e médios negócios. Devido à sua atuação no mercado de gás liquefeito de petróleo (GLP), conhecido como gás de cozinha, o executivo vê a oportunidade de usar sua carteira de clientes empresariais para incentivar a migração dos consumidores.
“A gente tem uma atuação no mercado empresarial, que é uma operação a granel, com mais de 60 mil clientes neste segmento, mas com nossos negócios muito focados no GLP. Então, desenvolvemos uma linha de crescimento estratégico para acentuar o relacionamento com os clientes e buscar ampliar o escopo de oferta no ambiente livre de energia”, explica.
Segundo Bertelli, a compra do controle da Witzler deve ser feita com capital próprio e não deve ter impacto material na alavancagem e dívida da companhia. A ideia do negócio é aproveitar a complementaridade com o portfolio de energias, já que o setor de distribuição de gás em botijões tem forte penetração entre os consumidores.
Geração distribuída solar e biometano
O movimento é um passo na estratégia de diversificação de portfólio de energia elétrica que a empresa vem executando nos últimos anos. Em 2022, a Ultragaz entrou no setor de geração distribuída solar na esteira da sanção do marco legal, que criou um senso de urgência no desenvolvimento de novos projetos por conta dos subsídios dados, o que atraiu também o interesse de rivais, como a Supergasbras.
Ainda em 2022, a companhia adquiriu a Neogás e, no ano seguinte, ingressou no mercado de biometano, conhecido como gás natural renovável, energético obtido a partir da purificação do biogás, uma mistura de gases que têm como origem o processo natural de decomposição de resíduos orgânicos.
O energético é uma alternativa ao gás natural de origem fóssil e com forte apelo entre os consumidores no contexto de transição energética, tanto que a também concorrente Copa Energia, dona das marcas Copagaz e Liquigás, comprou a Companhia de Transporte de Gás (CTG) para entrar neste no mercado.
Executivos e 150 colaboradores devem ser mantidos
Com o novo negócio, a Witzler chega ao grupo trazendo sua carteira com mais de 3 mil unidades consumidoras contratadas nos segmentos varejista e atacadista. Os executivos e os aproximadamente 150 colaboradores devem ser mantidos.
“Não estamos olhando o mercado clássico de comercializadora de energia de grandes contas. Olhamos mais a oportunidade naquilo que a gente tem especialidade, que são pequenos comércios, indústrias, hotéis, entre outros, de médio porte e que, pela evolução da regulação, passam a ter acesso ao mercado livre de energia”.
Segundo dados mais recentes da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), quase 7.200 empresas fizeram a migração entre janeiro e abril. Apesar da ampla penetração da Ultragaz em clientes empresariais, não será fácil fazer a captação de novos clientes, já que os grandes grupos do setor elétrico têm suas comercializadoras varejistas.
As distribuidoras de energia, como Enel, Energisa, Copel e Cemig, também criaram braços no mercado livre ou no segmento de geração distribuída para manterem os clientes dentro do mesmo grupo econômico. Além disso, cerca de 95 mil potenciais clientes do Brasil usam o modelo de geração distribuída e não teriam tanto interesse na migração.
“O objetivo da Ultragaz ter geração distribuída e agora atuar no mercado livre é pela característica do cliente fazer uma oferta diferenciada na hora da abordagem comercial (…) e para a totalidade da nossa carteira, a ideia é fazer alguma oferta, seja de geração distribuída ou mercado livre”, explica.