Tecnologia 6G: diferenças e aplicações do futuro da internet
Apesar de o 5G ainda estar ganhando terreno no Brasil, o país já prepara iniciativas visando a próxima fase da tecnologia de conectividade, o 6G. Para isso, diversas entidades e profissionais das telecomunicações estão se dedicando à pesquisas, estudos e testes que visam preparar o cenário para uma conexão ainda mais rápida.
Mas quais são as tendências que a tecnologia 6G no Brasil apresentará, e como elas impactarão a forma como utilizamos as tecnologias e os dispositivos?
O Diretor do Grupo Setorial de Telecomunicações da ABINEE (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), Wilson Cardoso, conversou com o Futurecom Digital sobre esta pauta que trará grandes transformações ao país.
O que é a tecnologia 6G?
A tecnologia 6G é a próxima geração da comunicação sem fio, que virá depois da 5G, e promete revolucionar a maneira como interagimos com o mundo digital. Ainda em fase de pesquisa e desenvolvimento, ela irá expandir as capacidades da 5G, oferecendo velocidades de conexão muito mais mais rápidas (até 100 vezes mais velozes), latência ultrabaixa (microssegundos) e uma capacidade de rede massiva.
Isso permitirá a criação de uma verdadeira rede inteligente, capaz de conectar bilhões de dispositivos simultaneamente.
Mais do que apenas uma internet mais rápida, a 6G trará uma conectividade tão onipresente e fluida que se tornará quase invisível no nosso dia a dia. Ela será a base para inovações como a comunicação holográfica, a integração perfeita entre o mundo físico e o digital (o chamado “gêmeo digital”) e o avanço de cidades inteligentes.
A ideia é que a 6G não só melhore as tecnologias atuais, mas também crie um ecossistema totalmente novo, onde a comunicação se adapta dinamicamente às nossas necessidades.
Confira abaixo as principais diferenças entre as tecnologias 5G e 6G:
| Característica | 5G | 6G |
| Velocidade de Dados (Pico) | Até 10 Gbps | Até 1 Tbps (100x mais rápido) |
| Latência | 1 ms | Menos de 1 microssegundo |
| Frequência de Banda | Sub-6 GHz e ondas milimétricas (mmWave) | Terahertz (THz) |
| Dispositivos Suportados | Milhares de dispositivos por km² | Bilhões de dispositivos conectados (cobertura ubíqua) |
| Aplicações | IoT, carros autônomos, realidade virtual (RV) e aumentada (RA) | Comunicação holográfica, gêmeos digitais, fusão de IA e rede, cidades inteligentes, internet sensorial |
| Integração com IA | Limitada, principalmente para otimização de rede | Profunda e onipresente, com a rede tomando decisões inteligentes e autônomas |
| Infraestrutura | Torres de celular e células pequenas, baseadas em hardware | Redes inteligentes e adaptáveis, com inteligência de rede distribuída |
Quais são os 4 pilares da tecnologia 6G?
As mudanças arquitetônicas na tecnologia 6G são fundamentais e atuam em conjunto, criando um novo tipo de rede: uma infraestrutura autônoma, descentralizada, onipresente e ciente do ambiente.
Essas mudanças se baseiam em quatro pilares técnicos, que são:
IA Nativa (AI-Native): essa arquitetura proporciona auto configuração e auto-reparo, garantindo uma rede inteligente e autônoma.
Computação de Borda (Edge Computing): para atingir latência de microssegundos, o 6G descentraliza o processamento de dados para a borda da rede, essencial para aplicações críticas como veículos autônomos e Realidade Aumentada imersiva.
Internet das Coisas Massiva (Massive IoT): com a frequência de rede maior e mais ampla, a transmissão de uma corrente de dados que transforma setores inteiros, torna a soberania desse fluxo uma questão de segurança nacional.
Redes Não Terrestres (NTNs – Non-Terrestrial Networks): a arquitetura 6G integra satélites para criar uma cobertura 3D global e contínua, assegurando uma rede ‘à prova de falhas’ mesmo em áreas remotas, como alto-mar, ou durante a ocorrência de desastres naturais.
Saiba mais: Leilão do 6G: como a tecnologia funcionará e o que esperar?
Como o Brasil tem investido em pesquisa e desenvolvimento do 6G?
Wilson Cardoso afirma: “O 6G é a próxima geração de redes móveis, que promete ser mais rápida e inteligente, principal ponto que o diferencia do 5G.”
Estudos e visões a respeito das características e casos de uso do 6G seguem a todo vapor no mundo. O Brasil não é exceção e já se prepara para esse futuro, estruturando uma colaboração essencial entre academia, indústria e governo.
Essa união se materializa em diversas iniciativas estratégicas:
O Projeto Brasil 6G: lançado em fevereiro de 2021, reúne várias instituições de pesquisa para criar um ecossistema favorável ao desenvolvimento da nova rede. O objetivo central é construir um ambiente de testes (testbed) para novas aplicações em redes móveis 6G e além.
O Centro de Pesquisa Smartness: constituído pela FAPESP e pela Ericsson na Unicamp, foi inaugurado em dezembro de 2022. Com mais de 50 especialistas, seu desafio é explorar soluções inovadoras na infraestrutura de telecom, focando em redes cognitivas, nuvem e o uso de Inteligência Artificial (IA) para projetar os serviços de conectividade da próxima década.
A Cooperação internacional: o Brasil também participa de acordos estratégicos, como a parceria com a Finlândia dentro do renomado 6G Flagship. Esta aliança envolve universidades brasileiras e finlandesas no desenvolvimento de diversas camadas do ecossistema 6G.
Mais do que apenas criar centros de pesquisa, a estratégia nacional foca em como esses diferentes agentes (academia, operadoras e indústria) se unem para transformar a pesquisa em aplicações práticas.
Segundo Wilson Cardoso, esse esforço conjunto se desdobra em várias frentes de ação:
Definição de casos de uso: o debate está centrado em definir requisitos para o 6G que atendam às necessidades específicas da sociedade brasileira e às características do país.
Exploração de tecnologias habilitadoras: além da IA e redes cognitivas, o ecossistema explora ativamente o potencial de gêmeos digitais e comunicação quântica.
Planejamento de espectro: um pilar fundamental é o planejamento estratégico das frequências que serão necessárias para o 6G, buscando harmonização e eficiência.
Uso do 5G como alicerce: as aplicações atuais do 5G na indústria 4.0 (como automação, IoT e realidade aumentada) são vistas como a base experimental e evolutiva para o 6G.
Fomento à inovação: institutos associados ao IPD Eletron (iniciativa da ABINEE) também cooperam com empresas em grupos globais de pesquisa, focando tanto nas bases tecnológicas do 6G quanto no desenvolvimento de casos de uso voltados ao mercado local.
Compartilhamento de conhecimento: a comunidade se reúne para compartilhar resultados e desafios em eventos estratégicos, como o workshop Brazil 6G, promovido pelo Inatel.
Veja mais: Futuro Da Internet: 6G, inteligência artificial e previsões
Quando a tecnologia 6g deve chegar ao Brasil?
A expectativa consensual na indústria global, incluindo os principais órgãos de padronização, é que as primeiras redes 6G comerciais comecem a operar por volta de 2030. Este é o horizonte de maturidade tecnológica e viabilidade comercial.
No entanto, é crucial entender que o ciclo de desenvolvimento de uma nova geração de rede leva, em média, uma década. Neste exato momento, a tecnologia 6G avança globalmente da fase de pesquisa fundamental e estudos teóricos para a validação de seus atributos iniciais.
Para o Brasil, o cronograma do 6G está intrinsecamente ligado ao sucesso da implementação do 5G. O 6G não será uma rede totalmente nova que substitui o 5G; ele será uma evolução construída sobre a fundação que o 5G Standalone (SA) está estabelecendo agora.
O núcleo de rede (Core) nativo em nuvem, a virtualização e a arquitetura orientada a serviços do 5G SA são os alicerces que o 6G usará para levar a automação, a Inteligência Artificial e a baixíssima latência a um patamar extremo.
Isso levanta uma questão estratégica para o país: por que investir pesadamente em pesquisa de 6G agora, se o 5G ainda está em plena fase de expansão territorial?
A resposta é que o investimento atual em P&D não visa apressar a implantação, mas sim garantir que o Brasil participe ativamente da definição dos padrões globais. Esperar o 5G “terminar” para então começar a pensar no 6G colocaria o país na posição de mero comprador de tecnologia, forçado a adaptar soluções desenhadas para outras realidades.
Ao pesquisar agora, em iniciativas como o Projeto Brasil 6G e o Smartness, o ecossistema brasileiro (academia e indústria) pode influenciar o desenvolvimento da tecnologia. O objetivo é assegurar que casos de uso vitais para a economia nacional sejam contemplados na arquitetura final da rede. Trata-se, portanto, de um movimento estratégico para moldar o futuro da conectividade, e não apenas consumi-lo.
Quais serão as aplicações da tecnologia 6G?
A internet 6G irá possibilitar uma conectividade muito mais sensorial, expandindo os metaversos imersivos e concretizando os sistemas com suporte de inteligência artificial. Para Wilson Cardoso, algumas aplicações da tecnologia 6G são:
| Tecnologia | Descrição |
| Inteligência Artificial | Integrada à rede, aprenderá com os dados para otimizar serviços e oferecer assistência personalizada aos usuários. |
| Hologramas Sensíveis | Permitirão chamadas de vídeo com sensação de toque, transmitindo sentimentos e aproximando pessoas à distância. |
| Gêmeos Digitais | Modelos virtuais de objetos, pessoas ou ambientes que interagem com o mundo real, criando novas experiências e soluções. |
| Comunicação Quântica | Baseada na física quântica, garantirá comunicação mais segura e eficiente, viabilizando aplicações como computação e criptografia quântica. |
| Redes Cognitivas | Capazes de se adaptar dinamicamente ao ambiente e às necessidades dos usuários, utilizando aprendizado de máquina e Inteligência Artificial. |
Essas são algumas das aplicações de 6G, mas há muitas outras em estudo”, conclui o especialista da Abinee.
Para ficar por dentro dos avanços da tecnologia 6G no Brasil e de tudo o que acontece nas áreas de conectividade e inovação tecnológica, continue acompanhando o Futurecom Digital, o canal de conteúdo do evento Futurecom.
