Resíduos especiais: você sabe o que são e como descartar corretamente?
Alguns objetos e produtos que usamos em casa podem parecer inofensivos, mas guardam compostos químicos extremamente prejudiciais para a saúde e o meio ambiente. Por isso, devem ser descartados de forma correta para que seus componentes não se espalhem pela natureza, o que é determinado pela Lei Federal n.º 12.305, conhecida como Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), de 2010.
No âmbito doméstico, esses resíduos especiais englobam produtos como medicamentos, pilhas, baterias, lâmpadas fluorescentes, eletroeletrônicos e eletrodomésticos. Eles são considerados perigosos por conterem substâncias tóxicas, inflamáveis, corrosivas ou reativas (que podem gerar reações químicas).
“O descarte irregular pode liberar substâncias tóxicas no solo, na água e no ar. Esses poluentes podem atingir os lençóis freáticos, contaminando a água potável, afetando a fauna, a flora e a saúde da população. Em contato direto, podem causar intoxicações e doenças graves”, conta Robson Esteves, presidente da ABREE (Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos).
O principal problemas destes produtos são as suas partes que contêm metais pesados, como chumbo, mercúrio, níquel e cádmio, que podem parar na corrente sanguínea e causar danos ao sistema nervoso, rins, fígado, pulmões e ossos. Dependendo da quantidade a que se tem contato, podem até ser fatais.”Os resíduos de produtos eletroeletrônicos e eletrodomésticos precisam de uma atenção especial, com tratamento realizado por empresas especializadas com equipamentos que protejam as pessoas na sua manipulação”, alerta Robson.
Tereza Cristina Carvalho, coordenadora do LASSU (Laboratório de Sustentabilidade) da Escola Politécnica (Poli) e do Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática (CEDIR) da Universidade de São Paulo (USP), cita o exemplo das antigas TVs de tubo:
“Quando ela é descartada de maneira incorreta no lixão, algumas pessoas podem quebrar a tela para remover partes internas feitas de cobre, material que tem valor econômico de venda. Ao fazer isso, elas abrem um buraco no vidro, que contém chumbo. Quando tiver chuva, a água lavará esse vidro e levará o metal para o ambiente”, explica a especialista.
Conforme Tereza, do ponto de vista do lixo doméstico, outro grande problema é a questão dos remédios. Quando jogados sem o devido cuidado, eles podem contaminar o solo e a água e prejudicar a saúde humana por conterem uma série de substâncias químicas ou materiais biológicos.
“Você compra uma caixa com 20 antibióticos, mas você acaba não usando todos. Quando eles perdem a validade, você descarta no lixo doméstico. Eles podem terminar no lixão e contaminar o meio ambiente”, afirma.
Responsabilidade conjunta
Segundo Tereza, a PNRS brasileira (Política Nacional de Resíduos Sólidos) é considerada uma das melhores do mundo, pois incentiva a responsabilidade compartilhada por todos os agentes da cadeia. “Desta forma, fabricantes, distribuidores, comerciantes, consumidores e municípios são responsáveis por todo o ciclo de vida dos produtos”, fala Robson.
“A lei também prioriza as cooperativas e associação e catadores, reconhecendo seu papel fundamental na reciclagem. Por fim, ela coloca a responsabilidade nos municípios, para que estes encerrem os lixões ainda existentes no país”, comenta o presidente da ABREE.
Além disso, a lei federal estabelece a logística reversa, sistema que coloca sobre as empresas fabricantes a responsabilidade de recolher e dar a destinação adequada aos seus produtos e embalagens quando descartados.
Na prática, porém, isso ainda não ocorre de forma sistemática. Na avaliação de Tereza, isso acontece, principalmente, pelo alto custo de operação desse sistema.
“Fazer logística reversa para as empresas não é interessante, porque elas gastarão para recolher o equipamento e elas não têm esse custo embutido no valor do produto. O que algumas têm feito é instalar pontos de coleta nas próprias lojas, como as operadoras de celular”, conta.
Para Robson, outros gargalos incluem o desconhecimento da legislação, em especial por fabricantes menores, a falta de estrutura logística no país, a ausência de incentivos financeiros pelo governo e baixa fiscalização. “Um ponto que precisa ser melhorado também é a vistoria do cumprimento das medidas estabelecidas”, avalia o presidente da ABREE.
Educação Ambiental
No Brasil, há, ainda, a pouca conscientização dos consumidores no momento da compra, adquirindo produtos de empresas que não cumprem com a logística reversa. “Há também uma baixa percepção da sociedade sobre a importância do descarte adequado dos produtos pós-consumo”, declara Robson.
Tereza destaca que campanhas educativas, materiais informativos e ações em escolas, empresas e comunidades são estratégias eficazes para ampliar o conhecimento sobre o assunto.
“A educação ambiental contínua é essencial. Muitas pessoas ainda desconhecem os riscos do descarte incorreto e os locais apropriados para levar os seus resíduos. Há quem pense que pequenas quantidades não geram impacto, mas qualquer resíduo perigoso no lixo comum pode causar contaminações sérias”, aponta a especialista.
Tereza cita como exemplos de sucesso na área de reciclagem países como a Alemanha. “A população descarta alguns tipos de resíduos nos ecopontos e o próprio governo municipal monta lojas, revendendo objetos como móveis, roupas, vidros”, conta.
Nos países escandinavos, como a Dinamarca, o grande número de ecopontos para coleta diversas também garante a boa gestão do lixo doméstico. “Um dos fatores é a educação da população, mas há lugares que também remuneram a entrega de resíduos na forma de bônus, por exemplo, para compras no supermercado”, relata.
Onde descartar os materiais com resíduos especiais
O portal e-Cycle mantém um banco de dados de locais em todo o Brasil que recolhem os mais variados tipos de materiais recicláveis, incluindo os que contêm resíduos especiais. “As fontes são inúmeras, inclusive, em alguns casos, o próprio site da prefeitura e até do governo do estado oferecem informações sobre o assunto”, destaca Tereza.
Além disso, dependendo do produto, o próprio fabricante pode auxiliar na localização de um ponto mais próximo, segundo Robson. Basta um pouco de empenho por parte de consumidor para fazer a busca – afinal, o descarte correto é um interesse coletivo em prol do nosso planeta.
Se a sua cidade não tem um ecoponto para determinado resíduo especial, Tereza indica procurar a prefeitura para saber como proceder ou contatar gestoras de materiais especiais para saber se fazem coletas periódicas em outros municípios.
“Para cada tipo de resíduo, existe um receptor. Além disso, no caso de resíduo médico, você pode descartar em farmácias ou em agentes de saúde da prefeitura, que geralmente também aceitam remédios”, orienta a especialista da USP.
Veja alguns dos principais sites para buscar informações, segundo o tipo de material:
Lâmpadas fluorescentes
No site da Reciclus, gestora da logística reversa de lâmpadas que contêm mercúrio em sua composição, há a lista de pontos que recolhem o objeto no país.
Eletroeletrônicos e eletrodomésticos
A ABREE mantém uma lista 3.500 pontos espalhados em mais de 1.200 cidades que recebem os materiais. Outra opção é a Green Eletron, gestora de logística reversa de eletrônicos. Veja aqui os equipamentos que podem ser descartados.
Pilhas e baterias
Confira os pontos no Brasil pelo site da gestora ambiental Ambipar ou da Green Eletron, que faz a gestão da logística reversa de pilhas e também de eletrônicos.
Medicamentos
A LogMed é o programa oficial de logística reversa de medicamentos e suas embalagens no Brasil, que tem mais de 6.800 pontos no país.