Redes neutras enfrentam o desafio de crescer além do cliente-âncora
As empresas de redes neutras de fibra óptica ganharam força no Brasil a partir de 2021, quando as três grandes operadoras de telecomunicações – Oi, Vivo e TIM – criaram empresas separadas para gerir suas infraestruturas. Surgiram a V.Tal (Oi), a FiBrasil (Vivo) e a I-Systems (TIM), antiga FiberCo e parte do grupo IHS Brasil. Agora, elas enfrentam o desafio de crescer para além dos clientes-âncoras em um mercado com vasta cobertura de redes de banda larga fixa implantadas por milhares de provedores de internet (ISP, na sigla em inglês).
“O cliente-âncora é o que sustenta. Elas ainda têm de convencer parte do mercado dos provedores de internet a trabalharem com elas e os ISPs são muito heterogêneos. São dez a 15 grupos grandes com escala importante que usam as redes neutras, mas existe uma grande massa de ISPs que tem a própria rede e acha importante tê-la”, avalia Ari Lopes, gerente para setor de telecom de Américas da consultoria Omdia.
Os grandes ISPs, normalmente, contratam redes neutras para expandir a cobertura, eliminando a necessidade de investimentos iniciais significativos em infraestrutura. No entanto, muitos dos pequenos preferem construir e operar suas próprias redes. “Elas não cresceram para além da própria operadora, que é do cliente-master delas e quem paga a conta”, diz Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco. “De modo geral, encontraram um mercado saturado de redes e não conseguiram expandir. Pelas estimativas, são 2,5 redes de fibra ótica passando na porta de cada casa”, completa.
Do lado das empresas, Fernando Barros, CEO da I-Systems, diz que a adoção de redes neutras entre os principais provedores de serviços de internet tem se expandido. “O crescimento foi impulsionado pelo aumento da demanda por banda larga de alta velocidade, expansão mais rápida e eficiente da cobertura de rede e a oportunidade de redução de custos operacionais, especialmente, para provedores menores”, afirma.
Presente em 43 cidades em nove Estados, a I-Systems contabiliza 9 milhões de residências passadas e tem como principais clientes TIM, Sky e Vero, somando cerca de 40 contratos. Já a FiBrasil soma quase 5 milhões de domicílios passados em 151 cidades em 22 Estados e, além da Vivo, como cliente-âncora, tem 40 clientes.
“A FiBrasil nasceu na pandemia, em um momento de acelerada expansão dos ISPs e dos serviços de banda larga de fibra ótica no Brasil. Identificamos uma grande saturação de redes de fibras nas cidades com mais de 30 mil habitantes e encontramos muito desordenamento na ocupação de postes. Optamos em desenvolver uma estratégia focada em diferenciação pela qualidade e densificação em áreas de alta demanda, com foco em aumentar nossa taxa de ocupação de rede”, diz Atila Branco, CTIO da FiBrasil.
Em um cenário com ocupação desordenada dos postes, as redes neutras aparecem como alternativa para organizar o mercado, oferecendo infraestrutura compartilhada e em conformidade com as regulações. Branco calcula que o mercado brasileiro de redes neutras movimentou entre R$ 3,5 bilhões e R$ 4,5 bilhões em 2024. “A evolução regulatória, sobretudo no que se refere à ocupação dos postes e a busca por eficiência operacional, deve definir os próximos capítulos”, destaca o CTIO.
Excluindo-se as sobreposições, Barros vislumbra que existam cerca de 30 milhões de domicílios que podem ser atendidos por uma rede neutra estabelecida. “Esse modelo vem ganhando espaço como alternativa para proporcionar melhor retorno sobre os investimentos em infraestrutura”, diz.
Emerson Hugues, vice-presidente e diretor-geral na American Tower do Brasil, avalia que o setor de redes neutras no Brasil apresentou crescimento significativo nos últimos anos impulsionado pela demanda crescente por conectividade de alta velocidade, pela massificação do acesso à banda larga e pelo avanço da digitalização em diferentes setores da economia.
Sem cliente-âncora, a ATC atua no país desde o ano 2000. Possui rede com cerca de 30 mil quilômetros de fibra óptica, conectando 144 cidades. Também atua em redes neutras para internet das coisas (IoT), baseada na tecnologia LoRaWAN. A necessidade de capilaridade e a alta exigência regulatória e técnica são desafios, mas Hugues analisa que o setor hoje está mais maduro e os provedores demonstram maior interesse e adesão ao modelo de rede neutra, “o que possibilita uma operação mais escalável”.