Redes 4G e 5G privativas viabilizam uso de IoT em larga escala
As redes privativas 4G e 5G estão permitindo a empresas de setores altamente competitivos colocar em prática projetos de inovação, como “massive IoT” (internet das coisas em larga escala), realidades virtual e aumentada, veículos autônomos, gêmeo digital e indústria 4.0. De acordo com a Global mobile Suppliers Association (GSA), 77 países e 1.384 empresas implantaram ao menos uma rede privativa até dezembro de 2023. Manufatura, educação e mineração são os três setores mais avançados.
No Brasil, dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) revelam que já há 25 autorizações para redes privativas na frequência exclusiva de 3,7 GHz, enquanto a consultoria Teleco lista 40 projetos de redes privativas em diferentes bandas.
Alexandre Gomes, diretor de marketing da Claro, diz que as redes privativas tornaram-se importante vertente de negócios para a empresa. “Há casos de sucesso e provas de conceito com a Gerdau, a Nestlé, o Porto de Suape, o Hospital Albert Einstein e o Banco do Brasil ”, enumera Gomes.
A Nestlé conclui, em junho, a expansão do projeto, que ocupa uma área de 2.000 m², da planta dedicada à produção do chocolate KitKat, na fábrica de Caçapava, interior de São Paulo. Trata-se de uma rede privativa 5G Standalone fornecida pela Embratel /Claro com equipamentos Ericsson.
“As aplicações atuais incluem o AGV [automated guided vehicle], um robô autônomo usado para transportar para a linha de produção waffers que vão no KitKat”, diz Gustavo Moura, gerente de automação e transformação digital da Nestlé. Outra aplicação usa a velocidade da rede 5G para ampliar a qualidade e a renderização de imagens em treinamento sinestésico com óculos de realidade virtual.
“Também utilizamos óculos de realidade aumentada para supervisão da produção. O operador consegue ver no virtual a temperatura do chocolate ou quantos moldes estão passando no momento. Com a rede 5G, conseguimos criar uma realidade mista devido à baixa latência”, explica Moura. O próximo passo é usar IoT em massa e usar computação na nuvem com virtualização de algumas aplicações aproveitando a baixa latência do 5G.
O projeto da Gerdau foi iniciado com rede 4,5 G na maior planta da siderúrgica, em Ouro Branco (MG). Em janeiro, migrou para o 5G a fim de acelerar o projeto de indústria 4.0. São cinco torres privadas usando a frequência de 3,7 GHz, exclusiva para redes privativas. “Tivemos uma outorga da Anatel para uma das primeiras redes privativas, e a nossa está totalmente operacional, iluminando uma área de 8,5 milhões de m2 ”, diz Gustavo França, diretor global de TI e digital da Gerdau. Além de resolver a comunicação básica, que era precária, o 5G habilitou cases de indústria 4.0.
“Temos câmeras com 5G e ‘video analytics’ monitorando o processo produtivo. Usamos carboxímetros conectados, equipamentos de segurança pessoal que medem se há vazamento de gás ou se o colaborador entrou em zona de risco”, conta o diretor da Gerdau.
Na logística, não é mais necessário ter pessoas para contagem e localização de produtos, agora feitas com coletores conectados ao 5G que leem o código de barras dos itens. “Há ainda mais de 900 ativos conectados, usando sensores IoT, monitorando velocidade, consumo de combustível e geolocalização. Na ferrovia de 90 quilômetros, estamos testando sensores para monitoramento e manutenção preditiva”, elenca França.
Ele destaca que a rede da fábrica de Ouro Branco virou um grande backbone 5G privado para todo o grupo. Outras unidades podem acessá-la por meio da rede pública com o recurso APN (access point network).
Paulo Humberto Gouvêa, diretor de soluções corporativas da TIM Brasil, destaca que a operadora tem forte presença do agro em projetos pioneiros como o da Usina São Martinho. Na logística o destaque é a rede 5G da BTP, terminal de contêineres do porto de Santos. Com a montadora Stellantis, a rede 5G é utilizada no processo de identificação de modelos na planta de Goiana (PE) com “core” dedicado e “edge computing”.
“São Martinho usa redes públicas e privadas 4G e 5G. A BTP é mais avançada porque tinha benchmark global. No Brasil, a empresa é 50% menos eficiente por carregar um navio em 24 horas, ante 16 em outras operações. Eles têm essa referência mundial e um planejamento para a rede 5G que vai trazer eficiência”, diz Gouvêa.
Na Vivo, dois dos cases divulgados pela empresa são referências globais: Petrobras e Vale. Diego Aguiar, diretor de IoT e big data da Vivo, diz que a empresa deve anunciar um terceiro grande projeto. Na Petrobras, são dezenas de unidades onshore e offshore – plataformas, refinarias, embarcações – atendidas pela rede 4G. “A rede alavanca diversas iniciativas de transformação digital da Petrobras, pavimentando o caminho para futuras operações com 5G”, afirma Aguiar.
Na Vale, há projetos de automação das minas de Carajás (PA) e de São Gonçalo do Rio Abaixo (MG) para o uso de perfuratrizes e caminhões autônomos. Nos 980 quilômetros da ferrovia Carajás, foram instaladas 49 novas torres de telefonia e houve ativação de sinal em outras 27 torres já instaladas, beneficiando também a população do entorno.