Prejuízos com apagão em SP podem superar R$ 1 bi, calculam entidades
Diante da demora no restabelecimento de energia elétrica de milhões de clientes após a tempestade em São Paulo na última sexta-feira, representantes dos setores econômicos afetados iniciaram a semana fazendo estimativas sobre o tamanho das perdas, que podem já ter ultrapasso o patamar de R$ 1 bilhão.
Os números das entidades são difusos, mas elas destacam a complexidade dos cálculos e que as novas projeções consideram eventos anteriores de características parecidas – em novembro do ano passado, também após chuvas intensas, estabelecimentos paulistanos chegaram a ficar uma semana inteira sem energia elétrica.
Segundo cálculo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), a falta de energia em “parte significativa” da Grande São Paulo por três dias já causou perdas brutas de R$ 1,6 bilhão aos setores de varejo e serviços da capital paulista.
A estimativa considera tanto o faturamento que as empresas afetadas deixaram de obter no fim de semana quanto a perda de estoques, que afeta principalmente estabelecimentos que trabalham com alimentos e se veem obrigados a se desfazer dos insumos devido à falta de condições de armazenar seguramente esses produtos.
“Esse valor [R$ de 1,6 bilhão] deverá ser maior porque a empresa responsável pela distribuição de energia, a Enel, ainda não forneceu respostas concretas sobre o retorno do serviço à totalidade dos imóveis que dependem da rede”, reclama a FecomercioSP em nota enviada ao Valor.
Inicialmente, logo após a tempestade na sexta-feira, mais de 2 milhões de clientes ficaram sem energia. Ao longo do fim de semana, o número caiu para cerca de 700 mil clientes no domingo. Ontem, segundo a Enel, 400 mil clientes estavam no escuro.
Segundo a FecomercioSP somente o varejo paulistano teve prejuízos de R$ 536 milhões nos dias em que parte dos estabelecimentos do setor ficou sem funcionar. No caso dos serviços, as perdas somaram R$ 1,1 bilhão. Os dados foram compilados levando em conta que, aos fins de semana, o comércio de São Paulo tende a faturar, em média, R$ 1,1 bilhão por dia, enquanto os serviços têm receitas de R$ 2,3 bilhões.
Outras entidades também calcularam perdas consideráveis, embora em patamares mais modestos. Segundo a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o varejo na Grande São Paulo pode ter deixado de arrecadar até R$ 98,6 milhões devido à falta de energia na sexta-feira – a projeção não inclui bares e restaurantes. A estimativa é baseada no volume movimentado diariamente na cidade de São Paulo e na região metropolitana.
Para o economista da ACSP Ulisses Ruiz de Gamboa, os prejuízos são difíceis de estimar, pois os efeitos do temporal não foram homogêneos na cidade de São Paulo. “Várias regiões ainda não tiveram o restabelecimento da energia, mas podemos dizer que o prejuízo se dá, principalmente, por reduções nas compras imediatas e por [falta de] impulso dos consumidores”, diz.
Já a Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp) calcula que, de sexta a domingo, os serviços representados pela entidade verificaram perdas de até R$ 100 milhões.
Conforme explica o diretor-executivo da entidade, Edson Pinto, o setor é o mais impactado porque a grande maioria das empresas é pequena e trabalha com lucros apertados, o que inviabiliza o aluguel de geradores. Primeiramente porque a falta de prazo da Enel não permite planejamento para saber até quando o equipamento seria necessário. Além disso, fornecedores de gerados aumentam o preço ou exigem que o aluguel seja contratado por vários dias.
“A operação de restaurantes, por exemplo, ficou inviabilizada em seis períodos de serviços. Desde o jantar de sexta-feira, o almoço e o jantar de sábado, e novamente o almoço e o jantar de domingo”, disse o diretor da Fhoresp, destacando que os fins de semana são os dias mais importante para o setor, ainda mais considerando o Dia das Crianças, que caiu no sábado.
“Tem também toda a perda de estoque. Diferentemente do comércio, que perde só a venda do dia, nós lidamos com bens perecíveis que acabam sendo perdidos se não forem acondicionados da maneira correta. Uma parte estamos doando para comunidades carentes, mas produtos como pescado já se perderam.”
As entidades criticam a Enel pela demora no restabelecimento do serviço e ao menos a Fhoresp já comunicou que o seu departamento jurídico irá auxiliar os associados a acionarem a distribuidora de energia na Justiça para tentar reaver as perdas.
Na área de saúde, procurado pelo Valor, o Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo informou que “não houve impacto na assistência aos pacientes, pois as unidades utilizaram os geradores. Houve impacto no sistema de informática por algumas horas, mas sem prejuízo ao atendimento dos pacientes”.