Operadoras de satélite disputam acesso Wi-Fi em aviões
Num cenário de competição crescente, com a entrada em operação de novas constelações de satélites e subsídios à expansão das redes de fibra óptica, a americana Viasat redireciona seus esforços para os segmentos de comunicação aérea e marítima. Longe de ser uma tendência isolada, outras companhias de comunicação via satélite – como a Hughes e a Starlink – também buscam clientes no ar e no mar.
A Viasat contabilizava mais de 3.500 aeronaves comerciais atendidas por seus satélites ao fim de 2023. No Brasil, a empresa entrou nesse mercado em 2021 por meio de um acordo para fornecer acesso à internet em aviões da Azul. A aérea disponibilizou o serviço de Wi-Fi – via satélite – em 48 aeronaves.
Já em terra, pelo menos no segmento de banda larga fixa residencial via satélite, as perspectivas são menos favoráveis. “Não competimos apenas umas com as outras”, argumenta Evan Dixon, presidente global da Viasat para a área de banda larga fixa voltada ao consumidor final, referindo-se às outras empresas do ramo. “Estamos também competindo com subsídios do governo para a banda larga terrestre”, acrescenta.
O executivo cita como exemplo o programa da administração do presidente americano Joe Biden que destina US$ 42,4 bilhões para subsidiar a expansão de redes de fibra óptica. A expectativa de Dixon é que o programa reduza à metade o mercado potencial – estimado em 12 milhões a 15 milhões de lares americanos – para as empresas que prestam o serviço de banda larga fixa residencial via satélite, como a Viasat.
Nos Estados Unidos, maior mercado da companhia, a Viasat tinha 596 mil assinantes no quarto trimestre do ano fiscal de 2021, terminado em 31 de março. Em divulgações de resultados subsequentes, a empresa passou a não informar mais este número. Já no Brasil a Viasat tinha em dezembro do ano passado 29,4 mil contratos residenciais e mais 28,2 mil pontos de acesso operados pela Telebras, como parte de um contrato firmado em 2018 para atender hospitais, escolas e postos de saúde.
“A Viasat acaba de fazer uma mudança muito grande de estratégia em direção aos mercados de aviação e marítimo. Isso ficou mais evidente a partir da aquisição da Inmarsat”, explica Dixon, referindo-se à compra da rival, concluída em 2023, após aprovações regulatórias. Depois da aquisição, as maiores áreas de negócio da Viasat são a de mobilidade e a de governo e defesa. “O negócio de banda larga fixa responde, hoje, por cerca de 12% das nossas receitas”, conta Dixon.
No Brasil, dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) indicam que em abril havia no país 412,3 mil conexões de banda larga via satélite ativas. Esse total corresponde a menos de 1% dos acessos de banda larga à internet. Ainda assim, o mercado de comunicação via satélite passa por um momento de ebulição em termos globais, principalmente devido à entrada em operação de satélites de baixa órbita.
Esse tipo de satélite pode estar situado a apenas algumas centenas de quilômetros da superfície da Terra, enquanto os geoestaciários ficam em órbita a 36 mil quilômetros de distância. A maior proximidade torna o tempo de resposta dos satélites de baixa órbita menor. Em março, a Anatel contabilizava mais de 10 mil autorizações para satélites não geoestacionários de diferentes constelações.
Nos EUA, há neste momento pedidos para mais de 50 mil novos satélites” — Evan Dixon
Com satélites já autorizados pelo regulador brasileiro, o Projeto Kuiper, da Amazon, começa a implantar sua constelação de satélites de baixa órbita este ano. O lançamento do serviço comercial está previsto para 2025 e vai concorrer diretamente com a Starlink, do bilionário Elon Musk.
No país desde 2022, a Starlink conseguiu em pouco mais de dois anos assumir a vice-liderança no mercado de banda larga fixa via satélite, com 162,5 mil acessos em abril deste ano. A empresa de Musk também avança sobre o segmento de mobilidade.
Na versão em português do site da Starlink, constam ofertas de serviços de acesso à internet via satélite tanto para jatinhos executivos como para aviões de rotas comerciais. Há também a possibilidade de contratar o serviço em navios de carga, barcos pesqueiros e de pesquisa, e em veículos terrestres, segundo informações disponíveis no site.
No fim de maio, a Qatar Airways anunciou que em dois anos todas as suas aeronaves vão dispor de acesso à internet gratuito, graças a um acordo com a Starlink. Em fevereiro, a companhia aérea Hawaiian Airlines já havia anunciado o lançamento do serviço de Wi-Fi em alguns de seus voos utilizando a constelação de satélites de baixa órbita da empresa de Musk.
Outra companhia americana do ramo, a Hughes, anunciou em junho do ano passado parceria com a OneWeb, que utiliza satélites de baixa órbita, para oferecer conexão à internet no mercado de aviação. O serviço está disponível no Brasil.
Dixon, da Viasat, acredita que a concorrência entre as operadoras de satélites vai aumentar: “Nos Estados Unidos, a FCC [Comissão Federal de Comunicações, agência reguladora americana] tem neste momento pedidos [de autorização] para mais de 50 mil novos satélites. E esses satélites não são apenas para atender os Estados Unidos, mas também muitos países ao redor do mundo”.