Terça-feira, 5 de Agosto de 2025

Open Gateway chega ao México; operadoras começam com 3 APIs

O México tornou-se o quinto país da América Latina e o 14º no mundo a adotar de forma colaborativa o Open Gateway, uma iniciativa da GSMA que padroniza APIs para facilitar a inovação digital a partir das redes móveis. O anúncio foi feito durante o M360 Latam, onde representantes da Altán Redes, Telefónica Movistar, AT&T e Telcel confirmaram sua participação conjunta nesta iniciativa.

O país inicia sua integração com três APIs fundamentais: SIM Swap, Number Verification e Device Location. Elas foram selecionadas por sua alta demanda no setor financeiro e por sua capacidade de prevenir fraudes, melhorar a experiência do usuário e simplificar processos de autenticação digital.

Roberto López, subdiretor de Serviços de Valor Agregado da Telcel, detalhou que a API de Number Verification permite validar se um número de telefone continua nas mãos do usuário legítimo. Já a Device Location oferece informações sobre a localização do dispositivo, ajudando a detectar anomalias em transações, como tentativas de acesso a partir de outro país.

“Essas APIs já estão em fase de testes com instituições bancárias no país. Na verdade, algumas transações atuais já passam por essas validações sem que os usuários percebam”, confirmou López.

Para que essas APIs funcionem como serviços em nuvem, as operadoras precisam transformar suas redes e processos internos. Em vez de operar em silos, devem migrar para uma arquitetura baseada em componentes reutilizáveis, seguros, escaláveis e auditáveis.

Durante a apresentação, falou-se sobre redesenhar a lógica das telecomunicações a partir das APIs. O que antes era um processo interno — como verificar se um número está ativo — agora precisa estar documentado, monitorado e disponível como serviço externo, com SLAs e total rastreabilidade.

Além da camada técnica, há uma transformação cultural. As operadoras deixam de ser apenas fornecedoras de conectividade e passam a oferecer capacidades modulares que terceiros podem integrar aos seus próprios produtos. A operadora se transforma em uma techco (telcos associadas à tecnologia) de infraestrutura, com uma camada de serviços prontos para serem consumidos via API.

Mais do que uma mudança tecnológica, o Open Gateway representa uma transformação cultural para as operadoras, que deixam de ser meras vendedoras de minutos e dados para se tornarem habilitadoras de inovação. Como destacou Boris Velandia, vice-presidente de Negócios Atacado da AT&T México:

“Isso elimina atritos em múltiplos setores. Não se trata mais apenas de vender minutos ou dados; agora oferecemos capacidades modulares para construir serviços digitais em tempo real.”

O modelo promove a interoperabilidade entre operadoras e abre espaço para novos ecossistemas de negócios, incluindo fintechs, startups, governos e desenvolvedores. Irving Sánchez Tinajero, da Altán Redes, acrescentou:

“O Open Gateway nos permite criar um ecossistema no qual até as MVNOs possam acessar essas APIs e oferecer valor agregado aos seus usuários.”

Próxima parada: 5G, edge e casos de uso avançados
Embora as três APIs iniciais atendam a uma necessidade imediata do setor financeiro, o roadmap contempla funcionalidades mais avançadas baseadas em 5G e edge computing. Entre elas, estão APIs para controle dinâmico de qualidade de serviço, baixa latência para jogos e experiências imersivas, além de validação de identidade para serviços públicos e saúde digital.

Adamowicz antecipou que o verdadeiro potencial surgirá quando a comunidade de desenvolvedores adotar massivamente essas capacidades:

“Vamos assistir a uma explosão de APIs e casos de negócio nos próximos dois a cinco anos. O mais importante é que qualquer pessoa com uma ideia possa se conectar à rede e construir sobre ela.”

Uma oportunidade para escalar a inovação a partir do México
Com 130 milhões de habitantes e alta penetração de serviços móveis, o México tem potencial para se tornar um hub regional de inovação baseada em APIs. Para que isso aconteça, as operadoras decidiram atuar de forma conjunta.

“Raramente vemos todas as operadoras trabalhando de forma coordenada em uma mesma implementação. Aqui estamos fazendo isso”, afirmou Sánchez.

A GSMA confirmou que o México inicia com uma implementação técnica alinhada entre as quatro operadoras, o que garante uniformidade na oferta e elimina barreiras para o desenvolvimento de novos serviços. As APIs estarão disponíveis por meio de agregadores certificados, dentro de um framework de governança que inclui validação legal e técnica.

Essa iniciativa surgiu para conectar os recursos das redes móveis ao ecossistema global de desenvolvedores de maneira simples e segura, explicou Alejandro Adamowicz, diretor de Tecnologia e Engajamento Estratégico da GSMA na América Latina. Trata-se de um framework técnico e comercial para oferecer recursos da rede como serviços componíveis, utilizáveis por qualquer desenvolvedor em qualquer país que adote o padrão. A ideia é replicar o que a web fez com o HTTP: definir uma forma comum de interagir com as operadoras móveis, independentemente de quem seja o carrier.

E é justamente aí que está a mudança de paradigma. Se antes cada operadora desenvolvia APIs sob medida, agora todas expõem as mesmas interfaces, com a mesma documentação e o mesmo funcionamento, permitindo que uma solução criada no México possa ser replicada sem fricções na Europa, Ásia ou em qualquer país que tenha o Open Gateway implementado.

Como concluiu Adamowicz:

“Assim como o HTTP abriu a web para o mundo, o Open Gateway abrirá as redes móveis para uma nova geração de serviços. E, desta vez, o México está entre aqueles que estão liderando essa transformação.”

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