Monetização a partir do 5G ganha nova tração no varejo
A quinta geração da telefonia móvel possibilita a oferta de novos modelos de negócios, aproveitando-se da baixa latência, da alta velocidade de conexão e do fatiamento da rede. Projetos de telemedicina e carros autônomos foram apontados como ícones para a nova tecnologia. Contudo, passados pouco mais de dois anos do lançamento comercial do 5G, a monetização está ocorrendo, principalmente, pelo varejo tradicional, enquanto as aplicações para o mercado corporativo amadurecem.
“Para nós, a monetização está na banda larga móvel aprimorada, porque conseguimos acomodar mais tráfego e temos mais espectro, já que as faixas de frequência que foram a leilão permitem uma rede mais robusta e com maior capacidade”, diz Paulo César Teixeira, CEO para a unidade de consumo e PME da Claro. Ele defende que as operadoras são habilitadoras e cabe a outras empresas inovarem em cima da infraestrutura construída.
Teixeira avalia que a Claro está no caminho certo da rentabilização, uma opinião em linha com o apontado por Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, para quem, no geral, a monetização segue dentro do planejado pelas operadoras. “A receita que vem do varejo responde por cerca de 70% do total. Já as receitas com aplicações B2B têm um prazo maior, porque a adoção é longa”, pondera Tude, acrescentando que as características da infraestrutura de 5G fazem com que o custo por bit trafegado seja menor em relação ao 4G.
Contribui para isso o aumento da demanda por dados. “O consumo individual não para de crescer e coloca pressão na rede para ter mais capacidade. Com o 5G, consigo acomodar melhor este aumento”, diz Teixeira. Em julho, o Brasil registrou 30,9 milhões de assinantes ativos de 5G, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). “O 4G levou três anos para chegar aos mesmos 31 milhões de assinantes”, assinala o executivo da Claro.
Na Algar Telecom, a monetização do 5G também vem da eficácia da rede. “Conforme aumenta a demanda de dados, o 5G permite a eficiência de custos. A evolução da infraestrutura para suportar a nossa base de clientes é uma das fontes de viabilização, já que a relação de custo por bit em 5G em comparação ao 4G é quase dez vezes melhor”, diz Marcio de Jesus, vice-presidente de negócios da Algar Telecom. A companhia também aposta em buscar dinheiro novo com projetos de redes privativas e oferta de acesso sem fio fixo (FWA).
Para além da rentabilização por meio do varejo, projetos corporativos – ainda que mais complexos – estão sendo executados pelas operadoras. Paula Fenoglio, analista de pesquisa, e Ignacio Perrone, diretor de pesquisa, ambos da Frost & Sullivan, reforçam que o potencial do 5G está em desbloquear novos casos de uso. “As operadoras móveis entenderam que é preciso proatividade, entendimento do negócio e das necessidades de cada vertical. É um processo que não acontece da noite para o dia, e é por isso que ainda não vemos muitas propostas”, analisam.
Fenoglio e Perrone ponderam que, tanto no Brasil como nos demais países da América Latina, o retorno do investimento em 5G será amortizado à medida que o segmento de assinaturas 5G crescer, enquanto o desenvolvimento de novos casos de uso será liderado pelo segmento empresarial. As redes privativas, que começaram com o 4G, serão beneficiadas pela infraestrutura robusta do 5G, habilitando aplicações de missão crítica. Além disso, o fatiamento da rede possibilita usos dedicados, como o projeto da Vivo com a Globo para o festival de música The Town.
Conseguimos acomodar mais tráfego e temos mais espectro” — Paulo C. Teixeira
Segundo Debora Bortolasi, diretora-executiva B2B da Vivo, o “network slicing” – técnica de “fatiamento” de uma rede física 5G compartilhada em várias redes virtuais, ampliando sua utilização – permitiu manter a qualidade do sinal mesmo com as entradas ao vivo na TV. “O 5G permite que a experiência do usuário final seja melhor e temos visto uma adoção importante no B2C, com games e experiências imersivas de inteligência artificial, mas a grande expectativa é com novos casos de uso no B2B”, assinala a diretora.
Bortolasi adianta que a Vivo está trabalhando em uma prova de conceito para equipar ambulâncias com antena 5G e, assim, promover teleatendimento no trânsito do paciente até o hospital. “As discussões estão mais maduras, até porque hoje olhamos para o cenário com a disponibilidade do 5G, casos de negócios e alternativas de slicing”, diz.
A aposta da TIM também está no mercado corporativo. A telco tem projetos com clientes como Usina São Martinho, no agronegócio; a Brasil Terminal Portuário (BTP), em logística, com o porto 5G; e a Stellantis, para planta industrial conectada com o 5G.
“Temos um grande desafio, junto aos clientes, que é o desenvolvimento de soluções que atendam às demandas específicas de cada segmento da indústria. Entendendo os processos industriais e o ecossistema de soluções, conseguimos monetizar o uso da rede 5G e impulsionar também este desenvolvimento para ganhos de eficiência e produtividade dos nossos clientes”, diz Fabio Avellar, vice-presidente de receitas da TIM Brasil.