Mercado cinza de celulares recua e agora responde por 12% das vendas, diz Abinee
A participação dos telefones celulares irregulares nas vendas de smartphones no Brasil registrou um recuo 7 p.p., de 19%, em 2024, para 12%, em 2025. De acordo com dados preliminares da IDC, o mercado cinza de smartphones deverá somar 4,5 milhões de aparelhos este ano. No ano passado, o, volume chegou a 7,7 milhões. Em 2023, auge do mercado pirata no País, o market share era de 25%. Os dados foram apresentados nesta quinta-feira, 4, em coletiva de imprensa com diretores da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica Eletrônica).
Vale dizer que a projeção para o mercado formal de telefones celulares em 2025 é de aumento de 9% ano contra ano, com um volume de vendas na ordem de 32,4 milhões de unidades em 2025, sendo 31,8 milhões de smartphones e 577 mil de celulares tradicionais.
“Essa queda (do mercado cinza) é resultado do trabalho feito junto aos órgãos de fiscalização. Tivemos um empenho muito grande de Anatel, Senacon, Ministério da Justiça, Polícia Federal, Receita Federal e secretarias de fazenda estaduais. Todos têm trabalhado em conjunto na questão dos marketplaces, principalmente, aumentando a fiscalização e a pressão para que eles derrubem os anúncios de telefones irregulares”, explicou Luiz Cláudio Carneiro, responsável pela área de dispositivos móveis da associação.
Outro ponto que Carneiro reforçou foi que o conjunto de ações, mais a divulgação pela imprensa, despertou a atenção do consumidor final, que está mais atento ao que compra.
Abinee: meta é zerar número
A Abinee encerrou o ano contente, mas espera uma queda maior ao longo de 2026. Não há prazo estipulado, mas a expectativa é zerar o número.
“Estamos satisfeitos e continuamos na nossa guerra para que os números reduzam e cheguem a zero e o mercado irregular seja eliminado de vez”, afirmou.
Carneiro salientou, sem citar nomes, que o principal obstáculo são alguns marketplaces que judicializaram as medidas da Anatel e até da Receita Federal. “Mas a pressão não é só frente aos celulares irregulares, mas também a outros produtos, não é só a Abinee que é afetada. Vários outros setores são afetados pelo comércio irregular, em especial dos marketplaces, e a pressão vinda de outros setores ajuda”, resumiu.
Maurício Helfer, diretor do setor de informática da Abinee, acredita que, com a judicialização, os marketplaces demonstram que não querem retirar os anúncios de celulares irregulares. “É uma sinalização de que não querem cumprir a regra e que preferem gastar com escritório de advocacia em detrimento de tecnologia para retirar os anúncios irregulares de suas plataformas”, resumiu.
Para reduzir ainda mais os números, a Abinee aposta na continuidade dos trabalhos que estão sendo feitos. A nova resolução 780 da Anatel, que atribui responsabilidade solidária entre marketplaces e vendedores que neles anunciam um produto pirata, deixa clara a responsabilidade fiscalizatória no mercado online pela Anatel quando o assunto são produtos de telecomunicações.
Há também a nova portaria do Inmetro, que cria a delegacia cibernética para ampliar a fiscalização digital e combater fraudes no comércio on-line, além dos projetos de lei que dispõem sobre a responsabilidade solidária.
“E a gente insiste muito no ponto de que esses marketplaces fazem parte do processo porque eles recebem uma comissão por isso. É o negócio deles e não tem como eles dizerem que não são responsáveis porque faz parte do negócio deles. Existem muitas ferramentas que ajudam na retirada desses anúncios”, explicou Carneiro.
O diretor da Abinee lembrou que os comércios eletrônicos foram muito eficientes ao retirar anúncios de vendas de garrafas e de selos. “Uma garrafa custa R$ 5, o selo, R$ 0,10 e o celular custa R$ 2 mil. Tem uma questão econômica muito forte, mas a gente entende que não só o nosso setor, mas a sociedade como um todo. O cerco vem se fechando e acho que vamos acabar levando-os a implementarem ferramentas que retirem esses anúncios de celulares irregulares do ar e o número se reduza ainda mais.”
Xiaomi e Realme
A Xiaomi continua sendo a número um dos telefones irregulares, mas a Realme entrou no mercado cinza de maneira “forte”, como disse Carneiro. E o modelo de pirataria continua o mesmo.
“É o mesmo modelo de importações via Paraguai de onde acontece a operação de contrabando e descaminho para o Brasil e distribuição para venda nos marketplaces”, explicou.
Humberto Barbato, presidente executivo da Abinee, explicou que é esperado que haja uma substituição de celulares que estão no mercado na ordem de 20% ao ano. O Paraguai importa duas vezes a população dele por ano. Ou seja, se o Paraguai usasse internamente o volume de telefones celulares que entram no país, a população trocaria de celular a cada seis meses.
A Abinee explicou também que das três fabricantes chinesas que entraram há pouco no mercado nacional, Jovi, Honor e Oppo, a Jovi já é uma associada da Abinee e “outras”, sem especificar se essas entrantes ou mais antigas, estão em vias de entrar para a associação.
“A pauta delas também têm foco no mercado irregular para que elas entrem no país de forma mais tranquila. É importante que venham de forma regular e que fabriquem aqui, paguem impostos. A nossa briga é contra a irregularidade. As que chegam para fabricar, pagar impostos são sempre bem-vindas”, explicou Carneiro.
