La Niña pode prolongar estiagem e impactar geração de energia hidrelétrica no Brasil
O período de estiagem, que se estende até outubro, promete ser mais seco do que a média histórica, segundo previsões recentes da empresa de meteorologia Tempo OK. A energia natural afluente (ENA), que é crucial para a geração de energia hidrelétrica, pode começar o período úmido com valores em torno de 40% da Média de Longo Termo (MLT) que abrange os anos de 1931 a 2022.
Ao Valor, o CEO da Tempo OK, João Hackerott, explica que existe uma grande probabilidade de que o fenômeno La Niña, cuja principal característica é prolongar os períodos secos do ano, se manifeste no início da primavera, apesar de ainda ser bastante incerto com relação à intensidade e à evolução do fenômeno.
Os efeitos típicos do fenômeno meteorológico podem trazer chuvas acima da média para a região Norte do Brasil, enquanto o Sul do país pode enfrentar um padrão de tempo mais seco. O Sudeste, por sua vez, tende a experimentar temperaturas mais amenas.
“Porém, no caso de um La Niña fraco ao longo do período úmido (entre outubro e março), as chuvas poderão ser menos intensas e pouco organizadas no Centro-Norte do país, além de haver maior dependência das condições do Atlântico Tropical, que é o principal fornecedor de umidade para as chuvas nesta época do ano”, diz Hackerott.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) adotou medidas para poupar água em importantes usinas do sistema Sudeste/Centro-Oeste para mitigar os impactos da falta de chuvas e minimizar eventuais custos de geração. Outra medida foi a redução das vazões das usinas hidrelétricas de Jupiá e Porto Primavera, no Rio Paraná, em medida adotada pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE).
Por outro lado, o Sul do país pode apresentar um padrão menos seco. Ao mesmo tempo, as temperaturas podem ser mais elevadas no interior das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte, devido à menor cobertura de nuvens densas e persistentes, numa época do ano em que a incidência de radiação solar na superfície é maior.
Outra preocupação do setor é como se dará a geração eólica e solar até o fim do ano. No primeiro trimestre de 2024, a chamada “safra dos ventos” veio mais fraca e diversas empresas reportaram em seus balanços que a geração eólica ficou abaixo do esperado. O executivo acredita que a geração eólica pode ser mais favorável no interior do Nordeste, durante a primeira metade do período úmido, visto o menor potencial de canais de umidade deslocados para Norte, típicos dos anos com La Niña mais forte.
“Nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e no interior do Nordeste a tendência de nuvens localizadas, pouco densas e passageiras irá contribuir para uma maior quantidade de irradiação solar, o que favorece a geração fotovoltaica neste período”, afirma.