Sábado, 2 de Agosto de 2025

Internet deve puxar fusões e aquisições

 O movimento de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) no setor de telecomunicações tende a ser capitaneado este ano pelos provedores regionais de internet, um universo formado por 20 mil pequenas e médias empresas detentoras de 53% do mercado de banda larga no país, avaliam os especialistas. 

 As grandes empresas provavelmente não participarão das próximas operações do tipo no setor, acredita Marcio Kanamaru, sócio-líder de tecnologia, mídia e telecomunicações da KPMG. “O bastão da consolidação está agora com os players menores, que precisam manter-se competitivos”, ressalta. 

 A junção de forças entre pequenas empresas inaugura uma nova era do setor de telecomunicações, aponta Fabiano Ferreira, CEO da Vero. Em dezembro do ano passado, a empresa adquiriu a Americanet, tornando-se a quinta operadora de telecomunicações do país, com atuação em 425 cidades e uma carteira de 1,35 milhão de assinantes. No mesmo mês, a Unifique incorporou a Vex Telecomunicações, de Santa Catarina, que está presente em 50 cidades do Estado. 

 Este ano, novas operações de M&A foram realizadas. Entre elas, a da Master Internet, localizada no município de Divinópolis (MG), que absorveu quatro empresas do interior paulista para fortalecer a sua presença no Vale do Paraíba (SP). Com a transação, a provedora aumentou de 130 mil para 145 mil a sua base de assinantes. 

 A inclusão de serviços digitais ganha força no processo de consolidação nessa faixa do mercado, já que os provedores regionais lidam com desafios de ganhar escala, expandir a cobertura e manter preços competitivos para evitar a perda de assinantes. A telefonia móvel, que os provedores regionais podem oferecer através da infraestrutura de rede das grandes operadoras, e streaming são exemplos. 

 A Vero, que já oferecia TV por assinatura aos seus assinantes, incluiu em maio no seu portfólio o serviço de vídeo YouTube Premium. A integração de novas ofertas relacionadas à casa conectada, segurança digital e serviços financeiros também está no radar. 

 As operações de M&A vêm caindo no mercado brasileiro, segundo um estudo da KPMG. Juntas, as empresas de telecomunicações e de mídia fizeram 58 transações no ano passado ante as 80 sacramentadas no exercício 2022 – números muito abaixo do pico de 115 negócios realizados em 2021. 

 O estudo da KPMG contabilizou oito acordos de aquisição e fusão no setor de telecomunicações nos três primeiros meses de 2024, mas na avaliação de Marcio Kanamaru dificilmente o total de negócios até dezembro chegará perto do patamar de três anos atrás. 

 Em 2021, a digitalização e a pandemia aguçaram o apetite por aquisições de ativos estratégicos. No cenário atual, porém, os movimentos de M&A tendem a ser mais cautelosos e com um olhar atento ao cenário macroeconômico. “O custo do capital será determinante para análise de transações”, analisa o especialista da KPMG. 

 Um dos fatores que contribuíram para a desaceleração de M&A foram as perdas da base de assinantes após algumas transações, diz Mauricélio Oliveira, presidente da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint). “Isso ocorreu por falta de sinergia das operações ou porque o DNA das compradoras era diferente do das compradas.” 

 

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