Inteligência artificial ajuda a gerir sistemas de energia e melhora eficiência
De planejamento estratégico a operações ou relacionamento com clientes, a inteligência artificial (IA) está trazendo eficiência e produtividade a empresas do setor de energia.
A Eletrobras criou no ano passado o programa Eletro.ia, para desenvolver produtos e escalar o uso de IA na companhia. Nos últimos 12 meses, foram cerca de 20 novos produtos e outros 30 estão em desenvolvimento. Um exemplo é o projeto para detecção de rajadas de ventos extremos, que integra o Centro de Monitoramento e Inteligência Meteorológica (Atmos), um investimento de cerca de R$ 30 milhões para prevenção e mitigação de eventos climáticos extremos. Outro é o uso de modelos de aprendizado de máquina para detectar e prevenir queimadas próximas a linhas de transmissão, parceria com a startup Inspectral.
Em manutenção preditiva, aprendizado de máquina e aprendizado profundo (deep learning) ajudam a antecipar falhas em equipamentos de geração e transmissão. As iniciativas integram o programa de gestão centralizada de ativos, o Liga, que combina tecnologias como IA, internet das coisas (IoT) e gêmeos digitais (reproduções digitais de ativo fixo) para ajudar a gerir sistema de geração e transmissão. Em outra frente, a companhia, por meio do Centro de Pesquisas da Eletrobras (Cepel), está investindo na construção de supercomputador para IA. “Serão cerca de 5 petaflops dedicados à execução de modelos avançados”, conta Lucas Pinz, diretor de centros de excelência digitais da Eletrobras.
A Energisa emprega IA para aprimorar a eficiência operacional. Uma das iniciativas é o Soma 4.0, modelo de IA para selecionar com precisão trechos de alimentadores a serem inspecionados. Já o Vera, baseado em imagens de satélite, gerencia e prioriza serviços de poda da vegetação próxima à rede elétrica. Análise de dados e IA apoiam detecção automatizada de perfis fraudadores. “Em 2024, a solução ajudou a recuperar 7,8 GWh de energia”, conta Gustavo Valfre, vice-presidente de tecnologia do Grupo Energisa.
Na ISA Brasil Energia, a IA foi incorporada ao manual unificado, utilizado na operação para treinar e orientar colaboradores, usando linguagem natural para agilizar a busca por informações e otimizar a tomada de decisão em campo. No backoffice, está em desenvolvimento solução com câmeras inteligentes para identificar uso correto de equipamentos de segurança (EPIs) por colaboradores ou sua capacitação para estar em determinado ambiente.
A empresa testa o modelo de gêmeos digitais em manutenção preditiva e gerenciamento remoto, com base em subestações digitais, que integram tecnologias como fibra ótica e internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) . “Um projeto em estudo é usar a tecnologia para avaliar impactos dos eventos climáticos extremos nos ativos”, diz o diretor-executivo de regulação, estratégia e inovação, Claudio Domingorena.
Em uso há mais de uma década, a IA está presente na Neoenergia desde o planejamento estratégico, com modelos preditivos analisando tendências de consumo e comportamento do mercado de energia, algoritmos para identificar as melhores oportunidades na contratação de energia e projeções climáticas de médio e longo prazo, até operação de redes e ativos, com análise de imagens térmicas e variáveis operacionais para manutenção preditiva e cobrança inteligente, com recomendação de estratégias personalizadas para recuperação de crédito. Mas o destaque é a iniciativa Voz do Cliente 360°, com integração de múltiplas fontes de feedback com IA. Os comentários dos consumidores são consolidados em plataforma única, classificados como positivos ou negativos, agrupados e categorizados. “Modelos de GenAI geram então diagnósticos personalizados sobre a experiência do cliente”, descreve o diretor de transformação digital Felipe Vale.
A GenAI também é destaque na Casa dos Ventos. Na área comercial, processa pedidos de cotação por e-mail. “Extrai informações, dispara sistemas internos de cálculo de preço e prepara a resposta”, detalha Roberto Oikawa, diretor de tecnologia e analytics. Na área jurídica, ajuda a gerir contratos complexos, reduzindo o tempo médio de avaliação de cada um de 40 para 8 minutos. Mais recentemente, a área de comercialização ganhou algoritmos para automatizar parte das vendas da parcela de energia não atrelada a clientes fixos. O projeto já rendeu 7% a mais de volume financeiro sobre os 10 MW negociados pela IA.
A Comerc, da Vibra, também combinou IA e processamento robótico (RPA) para leitura inteligente de documentos, reduzindo o tempo de análise em 85% e eliminando 250 horas mensais de trabalho operacional. “Agentes de IA buscam emendas parlamentares em assuntos de interesse da companhia, como a MP do setor elétrico, 1.300/25, e já trazem resumo das alterações e sugestões previstas”, afirma a CEO Clarissa Sadock.
