Quinta-feira, 7 de Agosto de 2025

IA desvenda distúrbios na medicina através de recursos em vídeo

Na medicina, sobretudo na análise de imagens, a inteligência artificial (IA) ganha protagonismo. Avanços recentes mostram que, além de apoiar decisões terapêuticas, a ferramenta ajuda a detectar com precisão condições complexas, como distúrbios vestibulares — relacionados ao equilíbrio e orientação espacial. O diagnóstico de nistagmo — movimento involuntário dos olhos — pode ser feito, por exemplo, com o envio de vídeos por smartphones.

Para chegar a esse nível de precisão, pesquisadores da Florida Atlantic University (FAU) aperfeiçoaram os modelos tradicionais de IA baseados em dados estáticos e limitados à aplicabilidade em tempo real.

Determinadas alterações identificadas estão associadas a doenças do sistema vestibular e neurológico, embora técnicas como a videonistagmografia (VNG) sejam consideradas padrão-ouro, o custo é bastante elevado, acima de US$ 100 mil, e há necessidade de equipamentos incrementados que tornam o exame inacessível em alguns locais.

Alternativa

O modelo desenvolvido pelos pesquisadores da FAU oferece uma alternativa de baixo custo, portátil e integrada à telemedicina, utilizando a câmera de um smartphone e processamento em nuvem.

“Nosso modelo de IA oferece uma ferramenta promissora que pode complementar parcialmente – ou, em alguns casos, substituir – métodos convencionais de diagnóstico, especialmente em ambientes de telessaúde onde o acesso a cuidados especializados é limitado”, diz o professor Ali Danesh, principal autor do estudo e pesquisador da FAU.

A ferramenta analisa 468 pontos faciais para rastrear, em tempo real, os movimentos oculares e identificar características específicas do nistagmo, como a velocidade da fase lenta. Os dados são transformados em gráficos e relatórios acessíveis a médicos e fonoaudiólogos, facilitando o acompanhamento a distância.

No estudo piloto com 20 participantes, os resultados da IA coincidiram com os obtidos por dispositivos tradicionais.

Segundo Emanuelle Roberta da Silva Aquino, neurologista do Hospital Sírio-Libanês, a aplicação de modelos de IA pode avançar. “Acredito que, do ponto de vista de topografia da lesão —  ou seja, para indicar o local do sistema nervoso central afetado — a análise do nistagmo pode, sim, ajudar. Ele reflete o local da lesão, mas não necessariamente a causa. Um nistagmo cerebelar, por exemplo, pode ser provocado por AVC, esclerose múltipla ou outras síndromes, mas a informação pura do nistagmo não discrimina a etiologia”, explica.

“A clínica é soberana. Existem nistagmos fisiológicos ou que não têm relação direta com a queixa do paciente. O neurologista experiente, aquele especializado em distúrbios vestibulares, utiliza diversas manobras para sensibilizar o exame e buscar sinais como o nistagmo. Não é apenas observar o olho, mas provocar respostas por meio de estímulos como vibração craniana ou chacoalhar da cabeça”, esclarece a médica.

Limitações

Mesmo reconhecendo as limitações atuais da IA, Aquino vê potencial no uso da tecnologia como apoio diagnóstico nas consultas ambulatoriais: “O Brasil tem dimensões continentais, e há regiões em que não há neurologistas disponíveis, muito menos especialistas em equilíbrio. Nesses locais, o uso da IA para captar e analisar o nistagmo pode ser crucial para um diagnóstico precoce, sem que o paciente precise se deslocar por longas distâncias.”

A especialista reforça a importância da iniciativa para além do ambiente hospitalar. “Acho que essa tecnologia tem impacto não só na emergência, mas também em consultas ambulatoriais. Pode reduzir custos para o sistema público e privado, evitar deslocamentos desnecessários e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, principalmente se for capaz de encurtar o tempo até o diagnóstico”, defende.

O sistema da FAU foi treinado com mais de 15 mil quadros de vídeo, utilizando uma divisão de 70% para treinamento, 20% para teste e 10% para validação. O modelo tem mecanismos para filtrar ruídos e movimentos oculares irrelevantes, como o piscar dos olhos.

 

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