Gradiente abre empresa de energia solar e quer ser líder em microgeração
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Staub diz que há no País 2 mil instalações diárias de painéis solares em casas e pequenos negócios
Um dos ícones da indústria brasileira de produtos eletrônicos, com a marca Gradiente, o empresário Eugênio Staub, no alto de seus 82 anos, garimpou um novo negócio para a sua empresa. O alvo agora é o setor elétrico, ao qual está chegando neste mês com a Gradiente Solar (GS), que irá atuar no segmento de geração distribuída de energia. A empresa nasce com a meta de ser um fornecedor de referência de sistemas de microgeração de energia renovável obtida por meio de painéis solares.
O projeto começou a ganhar corpo em outubro de 2023, e o que saltou aos olhos do investidor Staub e de sua equipe foi o contínuo aumento das instalações de sistemas em residências e pequenos negócios no País nos últimos anos. “São mais de 2 mil instalações ao dia, ou mais de 700 mil por ano, e a tendência é de continuar crescendo”, afirma Marcelo Ribeiro, CEO da Gradiente Solar. Ele diz que há um amplo espaço para o negócio crescer e cita várias dezenas de milhões de residências que poderão ser geradoras de energia.
“Nossa meta é ser uma marca de referência nesse segmento, que não existe hoje, e que vai fazer diferença”, diz Staub, presidente do conselho de administração da holding Gradiente (IGB). Ele observa que esse é um ramo ainda não estruturado, com mais de 20 mil instaladores de sistemas de geração, que são micro e pequenos empreendedores, em sua maioria não qualificados. Está no plano de negócios da GS consolidar esse mercado.
“Temos uma história de consolidadores, sempre compramos ativos”, afirma o empresário, que adquiriu concorrentes da Gradiente. “Estamos diante de um mercado com enorme potencial, que combina economia de recursos financeiros, já que o consumidor passa a gerar sua própria energia e deixa de pagar à distribuidora, com sustentabilidade ambiental”, afirma. “O crescimento será exponencial. Vamos nos posicionar para ser, em cinco anos, a principal referência nesse segmento de energia.” O empresário vê potencial para a GS deter 10% do mercado nesse período.
O foco da GS, explica o CEO, é a instalação de usinas solares em residências e em pequenos e médios negócios, com serviço que vai incluir desde o projeto e escolha dos equipamentos à instalação, homologação, monitoramento e manutenção. Atualmente, DIZ ELE, isso é feito por instaladores autônomos que fornecem sistemas residenciais de geração de energia solar.
Os projetos poderão ser financiados por bancos e instituições financeiras credenciados pelo prazo de até 120 meses (dez anos). “Com uma usina fotovoltaica, o consumidor faz investimento que se paga, no máximo, em cinco anos”, afirma Ribeiro.
EXPANSÃO. Segundo o executivo, citando dados da Absolar (associação dos geradores de energia solar), existem hoje cerca de 2 milhões desses sistemas instalados em casas espalhadas pelo País. A GS informa ainda que, de acordo com dados da Agência Internacional de Energia (IEA), a geração de energia solar deverá acrescentar ao sistema uma média anual de 7 gigawatts (GW) até 2028.
Inicialmente, o Estado de São Paulo será o foco de atuação da empresa, com destaque para a Grande São Paulo, Vinhedo, Campinas, litoral, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e São José dos Campos. O passo seguinte será avançar para outros Estados. “É um mercado gigante, hoje estimado em R$ 12 bilhões, considerando um tíquete médio por consumidor de R$ 15 mil. O País tem 56 milhões de residências para serem exploradas”, afirma Ribeiro.
O investimento inicial da GS será de R$ 50 milhões, voltado para contratação de pessoal técnico e treinamento de equipes de engenheiros próprias e de parceiros instaladores credenciados. A previsão é atingir o ponto de equilíbrio (“break even”) entre receita e custos em seis a oito meses de atuação da companhia.
A empresa focará em projetos de até 75 kWp de potência, o suficiente para suprir o consumo de famílias (residências e casas de campo), empreendimentos como padarias, pet shops, lojas, mercados e pequenos negócios no campo, como granjas. A GS fez parcerias com fabricantes de placas e componentes solares da China e com grandes distribuidores no Brasil.
VOCAÇÃO. A Gradiente, diz Staub, está voltando à sua vocação de empreender. A empresa, que foi pioneira na fabricação de aparelhos de som e de vídeo DVD e a primeira a trazer aparelhos de celular ao País, vai fazer 60 anos. Viveu o auge nos anos 80 e 90 e começo dos anos 2000, mas enfrentou tropeços nos negócios, entrando em processo de recuperação extrajudicial – que se arrastou por dez anos – até a ação judicial em 2018, com dívida de R$ 976 milhões a mais de 300 credores. Teve de vender ativos, incluindo imóveis. O caso foi encerrado no início do ano passado.
Atualmente, a holding IGB tem como negócios a locação de imóveis industriais – são 40 em Manaus, onde teve unidade fabril – e arrendamento da marca Gradiente para fabricação de linhas de aparelhos de som e de eletrodomésticos portáteis, informa o empresário.