Gestão de resíduos e valorização de cooperativas de reciclagem são foco em evento no Porto de Santos
O Fórum da Lei de Incentivo à Reciclagem propôs, na tarde desta terça-feira (3), uma reflexão que interessa a toda a sociedade: a gestão de resíduos sólidos e a valorização dos profissionais que atuam na coleta desses materiais. O evento, que integrou a programação do Porto Sustentável, preencheu uma das salas do Centro de Treinamento da Autoridade Portuária de Santos, no Macuco, com três atividades interativas para o público.
Um painel com líderes de cooperativas abriu o debate. Uma delas, a Coopernatureza, foi fundada em 2018, em São Vicente, por um casal que já trabalhava com reciclagem desde a infância. Apesar de prestar serviços de coleta seletiva e mutirões de limpeza ao poder público por quatro anos consecutivos, a representante Viviane de Melo destacou que a falta de apoio faz com que os proprietários cogitem encerrar as atividades.
“Participamos de um chamamento público, prestamos serviço e ficamos dois anos com o ateliê de lixo inteligente. Contudo, no momento, o material está em baixa e não temos nenhum tipo de ajuda ou incentivo. Isso dificulta as atividades devido às despesas mensais, como caminhão, borracharia, aluguel, entre outros”, revelou.
Parte das dificuldades apontadas por Viviane são as mesmas relatadas pelos representantes da ABC Marbas, ONG Sem Fronteiras e do projeto Meio Ambiente é Vida, da Miza Consultoria Estratégica Ambiental. Entre as soluções apresentadas, sobressaíram a implementação da educação ambiental e parcerias com a indústria para produções e descartes mais responsáveis. Além disso, o superintendente de Meio Ambiente do Porto de Santos, Sidnei Aranha, avaliou positivamente a criação de um consórcio metropolitano para tratar da coleta de resíduos.
“Todos os problemas relacionados a resíduos serão resolvidos quando houver escala, ou seja, quanto mais resíduo tiver, mais potencial econômico. Ainda há esperança na resolução desses problemas enfrentados. Vejo várias pessoas aqui debruçadas tentando resolver a situação, mas entendo que um consórcio entre os municípios é a saída para que nós possamos aproveitar mais resíduos e ter um retorno financeiro”, disse.
Parcerias para projetos
Na sequência, o fundador da Nunes Projetos Incentivados, Diego Nunes, comandou uma oficina sobre o funcionamento da Lei Federal de Incentivo à Reciclagem (Lei nº 14.260/2021). O especialista explicou o passo a passo para se beneficiar da legislação que tem como objetivo fomentar a cadeia produtiva da reciclagem no Brasil, incentivando a reutilização, o tratamento e a destinação adequada de resíduos sólidos. O público ainda pôde tirar dúvidas pessoalmente após a explanação.
Já o fundador da Plank, Luis Badona, apresentou a Copera, plataforma digital para apoiar a gestão da coleta seletiva e da logística reversa. A ferramenta pode ser contratada diretamente por cooperativas e prefeituras, a depender da estrutura e da fonte de financiamento disponível. O CEO destacou a rastreabilidade, o controle em tempo real e as informações sobre todo o processo de reciclagem.
“A Copera gera dados estruturados que fundamentam relatórios, prestação de contas e políticas públicas, permitindo maior transparência e efetividade na gestão dos resíduos. Também contabiliza impactos ambientais mensuráveis, como árvores preservadas, água economizada, quantidade de CO₂ evitada e energia poupada”, destacou.
A ex-secretária de Meio Ambiente de Paranapanema, Lisandra DAuria, celebrou a realização do evento, organizado pela Autoridade Portuária de Santos (APS), em parceria com o ColaBora Mundo, o Manifesto ESG do Porto de Santos e o Movimento ODS Santos 2030 – dos quais a Prefeitura de Santos é signatária. De volta à Cidade, a empresária está elaborando um projeto voltado à sustentabilidade e acompanhou as atividades do início ao fim, além de interagir com os palestrantes.
“Esse tipo de evento é muito importante. Já estava acompanhando ações sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em Santos, através de um grupo de empreendedores. É fundamental essa abertura que estão dando, tanto a Prefeitura quanto o Porto, para conversar com a comunidade, criar parcerias e escalar projetos. Todos deveriam se empoderar dessa oportunidade”, concluiu.
Exposição sustentável
Do lado de fora da sala, muita arte e criatividade abrilhantaram o evento. Cerca de dez artesãos que utilizam material reciclado para produzir peças participaram de uma mostra com os mais diversos itens no estacionamento . O shaper de pranchas de surfe João Monteiro, 57 anos, chamou a atenção do público com suas esculturas marinhas, como cavalos-marinhos e tubarões, feitas de resina.
Monteiro contou que trabalha com produção artística há 20 anos e sempre gostou de trabalhar com a cultura marinha e esculturas que remetem a Santos. Com o tempo, o morador da Ponta da Praia passou a coletar resinas que eram desperdiçadas e, por conta das cores chamativas, resolveu utilizá-las para fazer obras de arte. Após fazer sucesso entre os amigos, o artista resolveu expor para mais pessoas.
“É a primeira vez que eu saio para um ambiente totalmente diferenciado, que não conheço ninguém, e interajo com o público, que tem um bom recebimento das peças assim. Antes eu as deixava penduradas na minha parede, mas agora vivenciei essa experiência legal e espero participar de outras mais”, descreveu.
Além da mostra, o evento ao ar livre ainda contou com apresentações circenses com temas sobre oceano, biodiversidade e sustentabilidade: “O Futuro é Agora – 18 Objetivos e 18 Artistas para Mudar o Mundo”, participação da ONG Gremar e seus projetos de conservação marinha, e do Projeto Banco de Alimentos e Agricultura Urbana.
O chefe do Departamento de Políticas Públicas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (Depods/GPM), Fábio Tatsubô, ressaltou que “eventos como este demonstram que a sustentabilidade só se consolida quando conseguimos reunir poder público, sociedade civil e iniciativa privada em torno de objetivos comuns. É esse engajamento coletivo que permitirá transformar boas práticas em políticas permanentes e eficazes”.