Terça-feira, 5 de Agosto de 2025

Finanças inovadoras reduzem custo da transição para energia verde

 Estudo da consultoria Deloitte, intitulado Financing the Green Energy Transition (financiando a transição para energia verde), destaca que até US$ 50 trilhões poderiam ser economizados na transição para a economia de energia verde até 2050, se forem implementadas estratégias financeiras inovadoras. O relatório aponta que muitos projetos de energia limpa enfrentam dificuldades para obter financiamento devido ao alto risco percebido e à falta de atratividade para investidores. 

 Segundo Luiz Paulo Pereira Assis, sócio responsável pela prática ESG da área de Financial Advisory da Deloitte, existe uma diferença de aproximadamente US$ 3 trilhões entre o montante que especialistas estimam que é necessário para financiar toda a transição energética para uma economia verde (entre US$ 5 trilhões e US$ 7 trilhões por ano), e o que efetivamente hoje está direcionado a essa finalidade (US$ 2 trilhões por ano). Isso é explicado por uma série de fatores, que vão desde a falta de projetos que sejam vistos pelos bancos como “financiáveis” até uma dificuldade de mobilização de recursos globalmente de países desenvolvidos para emergentes. 

 “Há uma diferença entre o risco efetivo dos projetos de transição e o risco percebido pelo mercado financeiro. O que buscamos foi tangibilizar para os investidores, empresas e partes relacionadas que existem limitadores na percepção de risco e retorno que podem ser trabalhados”, comenta. 

 Assis explica que são observados ao menos quatro tipos de risco: macroeconômico global e local (relacionado à oscilação de moedas, juros e fatores econômico); risco do projeto em si (se será viável comercialmente); risco técnico (da tecnologia implementada na iniciativa); e o risco ligado ao retorno esperado do investimento, seja ele via crédito, seja via compra de participação acionária (equity). 

 “O custo do capital está na diferença entre o risco efetivo de um projeto e a percepção do risco, que inclui o que não se sabe com clareza [incertezas] e a falta de histórico”, diz Assis. 

 O estudo identifica duas principais áreas de redução de custos. A primeira envolve a implementação de mecanismos de mitigação de riscos, que poderiam reduzir em até US$ 40 trilhões os custos da transição energética até 2050. Estes mecanismos incluem políticas regulatórias eficazes e informações transparentes que reduzem a incerteza para os investidores. 

 Entre as medidas apontadas no documento da Deloitte como “essenciais” para acelerar essa transição, está o financiamento via capital concessional, de fundos de desenvolvimento ou capital filantrópico. Esse tipo de apoio financeiro geralmente é oferecido em condições mais favoráveis do que as do mercado comercial, como taxas de juros mais baixas, prazos de pagamento mais longos e períodos de carência mais extensos. 

 O financiamento concessional poderia, pelos cálculos da Deloitte, facilitar o fluxo de capital privado, reduzindo a necessidade de investimentos em US$ 2 trilhões por ano. Isso acontece porque o uso desse recurso reduz o risco geral percebido dos projetos e os tornam mais atrativos para o mercado financeiro tradicional. 

 Sem esse tipo de financiamento, a transição para emissões líquidas zero (net zero) custaria mais de US$ 7 trilhões por ano até 2050. E ao menos 70% desses investimentos seriam necessários em mercados emergentes e economias em desenvolvimento, onde o acesso ao capital é mais limitado. 

 A segunda área destaca a evolução do aprendizado financeiro (chamado em inglês de “financial learning”) ao longo do tempo. À medida que os investidores se familiarizam com projetos de sustentabilidade e os mercados se ajustam, os custos de capital podem diminuir, potencialmente gerando economias adicionais de até US$ 10 trilhões até 2050. O refinanciamento da dívida e do capital é mencionado como uma estratégia eficaz para aproveitar essas reduções de custos. 

 O sócio da Deloitte traz como exemplos as tecnologias para produção de energia solar e eólica e de alguns biocombustíveis. “De dez anos para cá, esses segmentos amadureceram muito. Com o hidrogênio verde, provavelmente veremos o mesmo movimento. O mercado financeiro aprende também a mapear corretamente os riscos e isso, o que antes poderia parecer muito mais arriscado, hoje é bem menos. Isso se reflete em custo de capital”, diz. 

 Como é esperado que as taxas de juros para projetos sustentáveis caiam com o passar dos anos, os projetos podem ser beneficiados com a redução dos custos mesmo após a finalização da execução. O refinanciamento da dívida e do capital pode gerar economia adicional de até US$ 10 trilhões até 2050. 

 O relatório sublinha o papel crucial das instituições financeiras de desenvolvimento (DFIs) e dos bancos multilaterais de desenvolvimento na mitigação de riscos de projetos sustentáveis. Propõe-se uma mudança da estratégia tradicional de “originar e manter” para o modelo “originar e distribuir”, em que as DFIs entram nos projetos inicialmente para reduzir riscos críticos e depois compartilham esses projetos com o mercado secundário, aumentando assim o acesso ao financiamento privado. 

 Luiz Assis enfatiza que o foco deve ser na transformação dos investimentos climáticos em oportunidades de crescimento econômico sustentável. O assunto, lembra, está, inclusive, em discussão no B20, grupo do setor privado relacionado ao G20, das grandes economias do mundo. 

 

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