Terça-feira, 5 de Agosto de 2025

Fim das concessões de telefonia fixa impõe contrapartidas às operadoras

 Na migração da concessão de telefonia fixa para autorização no regime privado, as operadoras concessionárias (Oi, Telefônica Vivo, , Claro /Embratel, Sercontel e Algar) deixarão de ter obrigações de manter as antigas redes de telefonia fixa em todas as localidades. 

 “O processo de migração foi iniciado com a alteração da Lei Geral de Telecomunicações [LGT] em 2019. O momento oportuno ocorreu quando o Tribunal de Contas da União [TCU] criou, em 2023, a Secretaria de Controle Externo de Solução Consensual e Prevenção de Conflitos [SecexConsenso]”, diz Nilo Pasquali, superintendente de Planejamento e Regulamentação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). 

 A Oi foi avaliada em R$ 20 bilhões e foi a primeira a ter autorizada a migração, em novembro de 2024, com o valor já definido nos processos de solução consensual junto ao TCU, de R$ 5,8 bilhões em compromissos de investimento. Há ainda até R$ 4,4 bilhões em compromissos adicionais, condicionados aos resultados da arbitragem, que avalia o equilíbrio financeiro do contrato em curso entre a Anatel e a Oi junto à Câmara de Comércio Internacional. 

 “Parte desses investimentos caberá à V.tal: R$ 5,1 bilhões dos compromissos da migração [aplicados em data centers e escolas] e também R$ 2,3 bilhões dos compromissos adicionais”, esclarece Adriana da Cunha Costa, vice-presidente de regulamentação e assuntos institucionais da Oi.

 O acordo prevê, ainda, o pagamento prioritário do valor transacionado com a Advocacia-Geral da União (AGU), a título de renegociação das multas ocorridas por ocasião da primeira recuperação judicial da Oi, no valor de R$ 7,4 bilhões. “Para arcar com os compromissos que a Oi tem com a Anatel, vamos usar as receitas das operações que ainda temos com a Oi Soluções, que é rentável e crescente, com mais de 40 mil empresas no país, e com a Oi Serviços”, diz Marcelo Milliet, CEO da Oi.

 No fechamento do acordo, a Oi tinha a obrigação de continuar atendendo 10,6 mil localidades onde a rede fixa era o único meio de comunicação, número que caiu para os atuais 9,2 mil com a expansão das redes móveis. No início de 2025, antes da venda da operação de fibra, a Oi tinha 5,5 milhões de acessos de telefonia fixa, número que hoje está em 1,8 milhão. 

 “Foi a melhor solução possível para todas as partes, e tivemos de convencer todos os envolvidos – Anatel, TCU, AGU, MCom. Precisávamos encerrar a concessão o quanto antes, porque era absolutamente deficitária e absorvia todos os recursos dos negócios rentáveis. Conseguimos encerrar o processo sem um cenário litigioso. Se não houvesse acordo, o serviço terminaria no final de 2025”, diz a vice-presidente de regulação. 

 O CEO da Oi diz que a meta é substituir, até julho, a tecnologia legada por fibra ou mesmo satélite nas localidades onde só existe a Oi. E concluir a desmobilização da rede de cobre até o fim do ano. “Como a Oi é companhia aberta, não posso projetar o quanto esperamos arrecadar com a venda dos cabos e dos imóveis. Os recursos da venda dos cabos de cobre estão cobrindo os custos de manutenção dessa infraestrutura. A desmobilização deve gerar uma economia de R$ 2,5 bilhões”, diz Milliet. 

 Para a Telefônica, a contrapartida de investimentos é de R$ 4,5 bilhões. A operadora ainda deve manter o serviço em pouco mais de 300 localidades, de acordo com a Anatel. Já nos casos de Claro/Embratel, Algar e Sercontel, os processos ainda estão em andamento. 

 Christian Gebara, CEO da Telefônica Vivo, disse que pretende arrecadar R$ 4,5 bilhões com a comercialização dos fios de cobre (120 mil toneladas; R$ 3 bilhões) e dos imóveis (R$ 1,5 bilhão), cujas desmobilização e venda devem ocorrer entre 2026 e 2027. 

 “Me reuni com equipes de todas as áreas para entender o benefício da migração para a sociedade e escolher os investimentos que fazem sentido para o país. As receitas do serviço fixo representam menos de 5% do resultado da Vivo, com queda todos os anos porque a demanda é decrescente. A migração do cobre para fibra também é benéfica para os clientes” diz Gebara. 

 Hoje o país ainda tem 21,5 milhões de linhas de telefonia fixa (17 milhões de autorização e 4,5 milhões de concessão). Há cinco anos, eram 36 milhões (20 milhões de concessão e 16 milhões de autorização). “Caíram 15 milhões de acessos das concessionárias, e as autorizatárias ganharam 1 milhão de linhas, mas foi muito mais um movimento de troca de operadora do que novos consumos”, diz José Felipe Ruppenthal, diretor da Telco Advisors. 

 

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