Terça-feira, 5 de Agosto de 2025

Falta de infraestrutura e custos brecam transição

A urgência climática e a necessidade de modelos produtivos sustentáveis colocam a transição energética no centro das discussões globais. No Brasil, país com abundante potencial em fontes limpas, o setor industrial começa a acelerar esse processo, com empresas de diferentes segmentos investindo em energias renováveis.

Nos últimos anos, grandes companhias passaram a adotar estratégias para tornar suas matrizes energéticas mais sustentáveis. No setor siderúrgico, a Gerdau aplica inteligência artificial para otimizar o consumo de energia. A Heineken investe na instalação de painéis solares ou infraestrutura para energia eólica em suas fábricas, enquanto a Natura, no ramo de cosméticos, prioriza eficiência energética em seus processos. No setor de papel e celulose, a Klabin aposta na biomassa para autogeração.

Além disso, pequenas e médias empresas também seguem essa tendência. A Fazenda da Toca, em São Paulo, e a Cervejaria Brewpoint, no Rio de Janeiro, são exemplos de empreendimentos que já operam com energia solar. É o caso também da Justa Trama, uma marca de algodão agroecológico do Rio Grande do Sul. “Nós trabalhamos com energia solar no máximo dos elos, sobretudo na nossa sede. Não só a energia solar, mas também temos caixas para coletar água da chuva e buscamos através dos recursos naturais atender a necessidade que a gente tem. E a energia solar tem significado uma economia muito grande, e também o sentimento de estar fazendo a nossa parte”, diz Nelsa Nespolo, presidente da Justa Trama.

Apesar do inegável potencial e dos avanços observados das fontes renováveis, a transição energética na indústria brasileira esbarra em desafios estruturais e conjunturais que demandam atenção e ação coordenada. O descompasso entre a expansão da oferta e o crescimento da infraestrutura de transmissão e de distribuição de energia, especialmente em áreas remotas com alto potencial eólico e solar, é um dos maiores problemas. A falta de linhas de transmissão adequadas gera gargalos e limita a integração das renováveis ao sistema, impactando diretamente a capacidade da indústria de se beneficiar das fontes limpas.

Outro ponto crítico é o financiamento de longo prazo com custos acessíveis para a implementação de projetos de energia renovável, especialmente em escala industrial.

A ausência de linhas de crédito específicas com prazos adequados e taxas competitivas costuma dificultar a tomada de decisão por parte das empresas, especialmente as de menor porte. Uma atuação mais firme do setor público e a criação de mecanismos financeiros inovadores são essenciais para destravar os investimentos e acelerar a adoção de tecnologias limpas no parque industrial brasileiro, segundo Roberto Gonzalez, especialista em ESG. “O investimento inicial ainda é grande em alguns pontos para energias renováveis. Tem um custo ainda elevado e o retorno ainda é em um prazo muito alongado, por isso a importância de o Estado atuar. Além de ser positivo para o planeta, para o ar, para nós, seres humanos, também contribuiria para diminuir o longuíssimo prazo que se tem nos investimentos.”

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