Domingo, 3 de Agosto de 2025

Fábricas de bioplástico crescem com demanda verde

 A demanda por embalagens sustentáveis vem crescendo em todo o mundo. Na América Latina, metade dos consumidores preferem embalagens verdes, de acordo com o relatório “Who Cares, Who Does? Latam 2021”, da Kantar. Com base em matérias-primas orgânicas ou recicláveis, esse tipo de produto busca reduzir os impactos ambientais após seu descarte. 

 “Para tomar um sorvete que vai derreter em menos de 30 minutos não faz o menor sentido usar um pote que demora mais de 400 anos para se decompor”, diz Stelvio Mazza, CEO da Já Fui Mandioca!, que transforma biopolímeros da fécula da mandioca em embalagens que viram adubo em até 90 dias. Segundo Mazza, a produção dessas embalagens gasta 1% da água usada pelas plásticas e 0,2% do que é utilizado na fabricação das de papel. O material ainda é carbono negativo, por sequestrar CO2 da atmosfera em seu processo de fabricação. 

 A empresa, que dobrou o faturamento em 2023 e recebe mais pedidos do que é capaz de atender, busca novos investidores para escalar a produção. Serviços de alimentos, como deliveries, restaurantes e sorveterias, formam seu principal segmento de atuação. “Eles querem um produto que agregue valor à marca e traga retorno financeiro”, diz o CEO da companhia. 

 Já a Bioelements possui 27 formulações, elaboradas com diferentes composições, como resíduos de milho, cana-de-açúcar, mandioca ou batata e derivados de origem fóssil, para produção de sacolas, papel filme e outras embalagens de bioplástico. Elas se transformam em alimento para microrganismos e fungos em um período de três a 20 meses. 

 Sobre a inclusão de material fóssil, a empresa afirma trabalhar em pesquisa para reduzir gradativamente o uso, mas pondera que a biodegradabilidade não depende exclusivamente das matérias-primas utilizadas e, sim, da estrutura química do material. “Nossos produtos também se biodegradam em aterros sanitários, ao ar livre e no mar”, afirma o CEO Ignacio Parada. 

 Criada há oito anos, a empresa atua em seis países das Américas, incluindo o Brasil e Estados Unidos, contando com mais de 20 fábricas afiliadas. São 270 clientes na região, incluindo Mercado Livre, Uber, Walmart, Decathlon e iFood. As embalagens podem ser produzidas em uma fábrica de plástico tradicional, desde que sejam ajustados os parâmetros das máquinas. No ano passado, quando produziu 12 mil toneladas do material, a iniciativa recebeu um investimento de private equity do BTG Pactual no valor de US$ 30 milhões para expandir as operações e registrou crescimento de 350% no Brasil, onde atua há dois anos. 

 Os bioplásticos, porém, ainda engatinham no mundo. O material representou menos de 1% das embalagens plásticas produzidas em 2022, segundo a associação European Bioplastics (EUBP). Mas a perspectiva é de expansão. 

 “A disponibilidade de resíduos orgânicos da indústria do agronegócio e a biodiversidade colocam o Brasil em posição de destaque”, aponta Luciana Branchini, professora do MBA em ESG da Fundação Getulio Vargas (FGV). Segundo ela, pesquisas de organizações públicas e privadas, como Embrapa, Senai e universidades, são um potencial de inovação para o setor de embalagens verdes no país. 

 

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