Em entrevista ao Radar, Omar Aziz afirma que seu apoio a David Alemida está indefinido: “estamos conversando”
Líder da bancada amazonense no Congresso Nacional, o senador Omar Aziz (PSD) afirmou, em entrevista ao quadro “Na Mira de Any” do portal Radar Amazônico nesta quinta-feira (18), que não descarta apoio ao prefeito de Manaus e candidato à reeleição, David Almeida (Avante) nas eleições de outubro, mas que o apoio ainda não está totalmente definido. Recentemente, a imprensa local ventilou a hipótese de o parlamentar e seu principal aliado no Senado, Eduardo Braga (MDB), apoiarem o pré-candidato do PT, Marcelo Ramos, ao cargo máximo do Executivo municipal, devido a uma suposta insatisfação de ambos com a atual gestão da capital amazonense.
“Nos aproximamos com o David nas eleições de 2022. Ele me apoiou (na campanha para reeleição ao Senado). Às vésperas do fim das convenções partidárias, o Marcelo decide ser candidato (a deputado federal pelo PSD). Ele é um cara superpreparado. Sobre a questão deapoiar o David, estamos conversando. É uma decisão que o Eduardo [Braga] vai ter. Não é uma questão política. É uma questão de compromisso com a população de Manaus”,explicou à jornalista Any Margareth. Omar afirmou, sem revelar detalhes, que atuou para resolver a solicitação do empréstimo de R$ 580 milhões feita por David e aprovada pela Câmara Municipal de Manaus (CMM) em abril, após críticas da população e de vereadores de oposição contra a medida.
As eleições municipais não serão ideológicas, mas pautadas pela capacidade de empatia dos candidatos com a população, prevê Omar, ao contrário de uma eleição majoritária, em que o candidato a presidente influencia a escolha dos presidentes da Câmara e do Senado.
Reforma Tributária
Coordenador do projeto do arcabouço fiscal, Omar criticou a mobilização entre entidades de defesa de setores da indústria, grandes empresas de mídia e o mercado de financeiro para descredibilizar as isenções fiscais da Zona Franca de Manaus (ZFM), um dos pontos mais debatidos no projeto de reforma tributária elaborado pelo governo federal.
“O Estadão deu, ontem e hoje, manchetes sobre o “lobby a favor da Zona Franca. Pelo contrário. O lobby é contra a Zona Franca. É o lobby da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Faria de Lima (centro comercial e financeiro de São Paulo), que é uma brincadeira. O presidente Lula
não pode dizer que uma pessoa é bonita, senão o dólar sobe”, ironizou. “O mercado não está preocupado com o pobre, com emprego, e sim com a especulação. Ganham dinheiro aplicando”.
O parlamentar disse que articula com o presidente Lula e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PL-AL), medidas para proteger a população de baixa renda dos efeitos da reforma tributária. “O Lula me ligou e disse: “Aziz, já fui mecânico, eu não iria deixar prejudicar os mais pobres* “, contou. Por outro lado, o senador lamentou a retirada do comércio
local da lista de desonerações do PIS/Cofins, impostos destinados à arrecadação de fundos para a seguridade social, o que vai tornar os produtos consumidos pela população do interior mais caros. O Senador, sobre o tema, afirmou que a bancada amazonense no Senado estará unida para reverter esse cenário.
Alianças em defesa do Amazonas
Omar diz que, em votações decisivas no Congresso, costuma relevar as diferenças ideológicas com parlamentares da bancada amazonense no Congresso, como os deputados federais e pré-candidatos a prefeito Amom Mandel (Cidadania) e Alberto Neto (PL), e aliar forças com o objetivo de alcançar decisões favoráveis ao estado. No entanto, ele classificou de “equivocado” 0 voto do deputado Silas Câmara (Republicanos) a favor do projeto de regulamentação do projeto de reforma tributária, que excluiu medidas de proteção à ZFM.
“Fiquei chateado, foi um grande equívoco do deputado Silas. Ele poderia ter votado contra”, sentenciou. “Se eu sou amigo do cara, tenho que falar a verdade. Mas isso já é passado, vamos falar na votação do Senado”.
Nem mesmo o deputado federal Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, adversário histórico de Omar, escapa da política de “boas relações” defendida pelo senador. E antecipou: “ele vai votar a favor da Zona Franca (no projeto de reforma tributária). Ele é a cabeça. O (deputado federal pelo PL de São Paulo) Eduardo Bolsonaro é muito mais arroz, e o Carlos (Bolsonaro, vereador pelo Rio de Janeiro) trabalha na surdina fazendo maldade”.
Fiel ao estilo diplomático, Omar reafirma que o partido do ex-presidente da República cometeu uma injustiça contra o pré-candidato a vereador Coronel Menezes (Progressistas), seu principal oponente à vaga no Senado nas eleições de 2022, derrotado por uma diferença apertada de votos (783.589 a 737.627).
“O Menezes foi expulso do PL. Dei uma entrevista afirmando que isso não se faz. Sei muito bem da lealdade do Menezes ao Bolsonaro. Discordamos de muita coisa, mas lealdade não é coisa de direita nem de esquerda. É questão de caráter.”, enfatizou.
Candidato ao governo?
Ao ser questionado sobre uma eventual candidatura ao governo do Amazonas em 2026, Omar desconversou, porém disse que tiraria o desafio de letra por conta do apoio da população do interior e da própria experiência ao longo de mais de três décadas na política. “Não tenho que matar um leão por dia para me eleger governador. Só fui governador por quatro anos. Fiz 30 mil casas e entreguei pro povo. Botei o (Instituto da Mulher) Dona Lindu para funcionar, concluí (a construção) da ponte Rio Negro, fiz quatro estádios e dobrei o número de delegacias”, citou.
Com extenso currículo no Executivo e Legislativo – eleito vereador (1992), deputado estadual (1994) e vice-governador (2002), além de ter atuado como secretário de Obras e de Segurança Pública -, Omar se prontificou a aconselhar o governador Wilson Lima (UB) sobre a importância do controle das finanças públicas.
“Wilson Lima cometeu um erro após a reeleição: ter se recusado a enxugar a máquina pública. Tive uma conversa com ele e disse: rapaz, reveja cada contrato. Você tem que enxugar a máquina pública ou não vai conseguir governar. Isso tem dificultado muito a vida do Wilson. Ele ganhou a eleição em outubro – o admiro muito por isso- e, em novembro, deveria ter montado uma equipe para rever cada contrato na saúde e na educação. O custeio é muito alto”, contou. Um exemplo do argumento, na análise do senador, é a manutenção do Hospital e Pronto-Socorro Delphina Aziz, na zona Norte de Manaus, que custa R$ 25 milhões de reais por mês.
Confira a entrevista: