Sexta-feira, 12 de Setembro de 2025

Eletrobras amplia investimento em IA e data center

 Na corrida da inteligência artificial (IA) generativa, a Eletrobras, holding de geração e transmissão de energia, está investindo em unidades gráficas de processamento (GPUs, na sigla em inglês) para acelerar projetos que usam IA em projeções meteorológicas e atmosféricas, modelos de gerenciamento, predição e manutenção de suas operações. A empresa também estuda novas formas de ampliar a oferta de energia renovável a centros de dados no país. 

 Com as duas missões, executivos da empresa participaram da GTC 2025, a conferência anual da fabricante americana de GPUs Nvidia, realizada na semana passada em San Jose, na Califórnia (EUA). 

 “Estamos desenvolvendo a nossa própria capacidade de GPUs ‘on-premises’, usando o Cepel [Centro de Pesquisas de Energia Elétrica], para servir os interesses da Eletrobras como uma empresa que consome essa capacidade [de processamento]”, disse o vice-presidente de tecnologia e inovação da Eletrobras, Juliano Dantas, ao Valor, após sua participação na GTC 2025. 

 Em março, a Eletrobras começou a solicitar propostas a fornecedores para a compra de unidades gráficas de processamento. Até o fim do ano, a nova capacidade de processamento será instalada em servidores (computadores potentes) internos do Cepel, instituição que desenvolve tecnologia para o setor elétrico brasileiro e tem a Eletrobras entre suas fundadoras. O investimento nas GPUs não foi informado, mas faz parte de um projeto de R$ 100 milhões da empresa em um novo centro de monitoramento de IA, inaugurado em dezembro. 

 A empresa já aplica modelos de inteligência artificial em manutenção preditiva e programas de monitoramento atmosférico e meteorológico. Um dos projetos usa o modelo de IA GraphCast, do Google DeepMind, que usa IA generativa em projeções climáticas precisas com dez dias de antecipação. Outro projeto de análise de ventos extremos utiliza a plataforma Earth-2, da Nvidia, para acelerar previsões climáticas e meteorológicas com simulação interativa, como uma espécie de “gêmeo digital” do clima do planeta. 

 Segundo Dantas, a demanda da Eletrobras por serviços de nuvem se mantém paralela ao investimento em capacidade de processamento dentro de casa. A ideia com as GPUs próprias é estudar a tecnologia de perto, especialmente no quesito consumo de energia, um ponto crítico para a expansão da demanda computacional gerada pela IA no mundo. 

 “Como essas máquinas consomem eletricidade e tem requisitos específicos, queremos conhecer profundamente o processo [de IA] como um todo. Até porque a gente vende energia para ‘data centers’”, afirma o vice-presidente de tecnologia da Eletrobras. 

 Atualmente, a Eletrobras supre demandas de data centers com alta capacidade e estuda ampliar sua oferta de energia renovável a esse segmento. Para tanto, criou uma pequena rede de energia elétrica, um “micro grid”, que conta com fornecimento de energia eólica e solar em um data center de 1 MhW, instalado em Casa Nova (BA), perto da Usina Hidrelétrica de Sobradinho. 

 O desafio é encontrar novos modelos de fornecimento estável de energia combinados às fontes hidráulicas, que compõem a maior capacidade de geração da empresa. 

 “O modelo de negócios solar ou eólico, devido à intermitência, à variabilidade dessas fontes, está prejudicado em relação à venda de energia para os data centers”, explica o vice-presidente de comercialização da Eletrobras, Italo Freitas. O executivo também participou do evento da Nvidia com outros especialistas da área de comercialização de energia da empresa. 

 Freitas ressalta que o ajuste do modelo de energia renovável eleva o potencial do país para atrair mais investimentos em data centers. “O Brasil é um celeiro de processamento de dados”, ressalta o executivo. No segundo semestre de 2024, “big techs” como Microsoft e Amazon anunciaram investimentos bilionários em expansão de data centers no Brasil, de olho na matriz energética renovável do país. 

 

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