Desafio da eficiência energética acende sinal de alerta
Uma busca no ChatGPT com oito parâmetros (como um ponto, uma exclamação ou outro caractere) consome aproximadamente a mesma quantidade de energia elétrica necessária para acender quatro lâmpadas. A comparação, feita por Luiz Tonisi, presidente da Qualcomm para a América Latina, mostra como a eficiência energética se tornou o novo ponto de preocupação e debate das companhias diante do avanço exponencial da inteligência artificial (IA).
Segundo Tonisi, a questão central é como reduzir o consumo de energia no momento em que aparelhos eletrônicos e data centers processam cada vez mais informações em meio ao avanço de aplicativos e comandos que usam IA. “Se todo mundo fosse fazer uma consulta no ChatGPT ao mesmo tempo, não haveria energia elétrica suficiente”, diz.
Por isso, olhando para eficiência energética, o executivo destaca iniciativas como o desenvolvimento de modelos com novas arquiteturas de processamento que consomem menos energia. Ele ressalta o avanço de aplicações como a chinesa DeepSeek, rival do americano ChatGPT. É que a ferramenta de IA generativa asiática consome menos energia que seu par criado nos EUA por usar menos parâmetros no processamento da informação.
“Vamos ter uma união de nova arquitetura em equipamentos e novas aplicações. Tudo vai rodar em um modelo híbrido, com os comandos gerados a partir de IA sendo processados no data center e no próprio aparelho”, explica Tonisi. “A mistura dessas três coisas vai reduzir o custo da IA na ordem de 70%. Então, a combinação dessas vertentes vai ajudar o setor a ser mais sustentável, reduzindo o custo e usando menos energia”, diz.
Rafael Segrera, CEO da Schneider Electric para a América do Sul, aponta iniciativas de empresas privadas para acelerar as ações sustentáveis, sobretudo com a realização da COP30 em Belém (PA), no Brasil. Ele cita a Sustainable Business COP (Ação Empresarial pelo Desenvolvimento Sustentável), da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que busca soluções em transição energética.
“Além de olhar para a agenda verde, tem outro fator importante, que é entender quais as habilidades e formações (profissionais) são necessárias para buscar um futuro que seja mais proveitoso para todos e que tenha um impacto positivo no meio ambiente, no mercado, nas pessoas e nas empresas. Isso porque, para que seja sustentável, tem que ser economicamente viável”, pondera Segrera.
Iniciativas como essa, diz ele, têm como meta trazer recomendações concretas, tendo a inteligência humana no centro das discussões. “Os negócios são feitos pelas e para as pessoas. O impacto desses negócios tem que ser positivo para elas também, com inclusão, possibilidade de desenvolvimento e impacto positivo na natureza.”
Segrera lembra que tecnologias como IA e assistentes virtuais podem ser instrumentos para que empresas e profissionais reduzam o consumo de energia e busquem fontes mais limpas para ganhar competitividade. “É usar a IA para revisar os modelos. Imagine o potencial de um assistente virtual para ajudar as empresas a serem mais competitivas. Mas, ao mesmo tempo, as companhias precisam de funcionários curiosos para adotar essas tecnologias. É produzir mais consumindo menos”, afirma.
Carlos Augusto Lopes, vice-presidente da IBM Consulting para a América Latina, frisa haver um longo caminho para reduzir custos e ampliar a eficiência energética. “Mas a IA veio para ficar, porque traz melhorias de custo para as empresas”, diz. Para Lopes, o custo da IA precisa ser acessível, sobretudo para pequenas e médias empresas. Ele defende que o modelo de IA seja aberto. “A IA não deveria, e não deve, estar nas mãos apenas das grandes empresas, em modelos fechados, em que você começa a competir com sistemas restritos, tornando isso um artigo de luxo.
Para Marcelo Viana, diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), é possível implementar ações colocando o ser humano no centro da equação. “Em relação ao consumo energético, recebi o conselho de um colega, no exterior, e é algo de que gosto, pois recoloca o ser humano no centro da equação: think twice, compute once (pense duas vezes, compute uma).