Terça-feira, 5 de Agosto de 2025

Com inteligência artificial a bordo, Nokia faz 4G para a Lua

 Depois de um longo período de desenvolvimento, desafios tecnológicos e testes no deserto, a rede 4G com tecnologia LTE da Nokia está pronta para ser levada à Lua. O projeto foi entregue à Nokia Bell Labs em 2020 pela agência espacial americana, a Nasa, que planeja voos tripulados para a Lua a partir de 2025, por meio do programa Artemis. Os equipamentos, por sua vez, devem ser enviados à Lua até o fim deste ano, pelo foguete SpaceX, da empresa do bilionário Elon Musk. O módulo de pouso instalará o sistema, que será controlado remotamente da Terra. 

 Em outra frente, a fabricante finlandesa foi uma das 14 empresas selecionadas pela Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa dos Estados Unidos (Darpa, na sigla em inglês), este ano, para participar do Programa de Arquitetura Lunar de 10 anos (LunA-10), por meio de seu braço de pesquisa e desenvolvimento. A construção da estação radiobase lunar pode ter ajudado na escolha da Nokia Bell Labs, mas a unidade de pesquisa já tem histórico na exploração espacial da Nasa, por sua participação no programa Mercury. 

 Para os testes, no acordo com a Darpa, o Bell Labs recebeu US$ 14,1 milhões (cerca de R$ 73 milhões) em 2020. O valor do contrato com a Nasa não foi revelado. 

 “Para começar, não existe aterramento [de cabos] na Lua, o que precisamos resolver”, diz Claudio Saes, líder de prática de telecomunicações e sócio da Bell Labs Consulting, uma divisão da Nokia Bell Labs. “Imagina um sinal [celular] sem atmosfera, uma pressão atmosférica totalmente diferente da nossa. Depois, o transporte, quando a espaçonave chegar lá, retirar o equipamento inteiro, são e salvo. Todos esses pontos são desafios.” 

 Um trabalho tão complexo como esse conta com recursos de inteligência artificial (IA) em toda a sua extensão. É assim que a tecnologia desembarcará na Lua. 

 Residente em Dalas, nos Estados Unidos, Saes conversou com o Valor durante uma rápida visita ao Brasil. Aqui, embora não tenha uma unidade, o Bell Labs desenvolve projetos nas instalações dos seus clientes, com pesquisadores brasileiros, como o próprio Saes. 

 O Bell Labs trabalha com a iniciativa Tipping Point, da Nasa. A rede 4G/LTE conectará dois veículos ao módulo lunar Nova-C na superfície da Lua. Os veículos são o rover Mapp, do Lunar Outpost, e o funil Micro-Nova, da Intuitive Machines. 

 Outro problema que teve de ser solucionado pela inteligência artificial é a radiação no espaço, que interfere nos próprios bits, que são as menores unidades de informação, invertendo-os. “O que é 0 pode se transformar em 1. Para corrigir isso, também usamos inteligência artificial”, explica Saes. “E depois, temos que entender qual é o impacto do espaço, que é a próxima fronteira da humanidade, sobre as comunicações celulares.” 

 Até hoje, os astronautas se comunicam por rádio nas missões espaciais. Isso já não satisfaz a Nasa, que deseja um sistema de comunicação que possa suportar vídeo de alta resolução e dados científicos e comunicação de missão crítica em futuras missões lunares ou marcianas, segundo especialistas da Artemis. Por isso, a opção pela rede celular. O projeto começou com tecnologia de 4G, porque a 5G não estava madura, mas a evolução é um caminho considerado natural. A rede permitirá a comunicação entre astronautas em solo lunar e as interações Terra-Lua. 

 Para longo prazo, e pensando não apenas no espaço sideral, a Nokia está desenvolvendo tecnologias que incluem 6G, para usar as redes com sensores. Ondas de radiofrequência podem contar objetos, entender o batimento cardíaco de uma população dentro de determinado ambiente, saber se uma pessoa está deitada ou em pé para decidir algum tipo de ação. “Hoje em dia, a AI está presente em todo esse tipo de desenvolvimento para essas tecnologias futuras”, observa Saes. 

 “Se conseguirmos fazer a comunicação funcionar e resolver os problemas na Lua, ou em qualquer outro planeta, nós podemos fazer muitas coisas de missão crítica aqui na Terra.” 

 No grupo de consultoria da Bell Labs, 70% dos clientes são do setor de telecomunicações e 30% da indústria. A empresa desenvolve para a indústria, por exemplo, diversos projetos baseados em IA. 

 

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