Com desigualdade regional, cobertura 5G segue acelerada
O ritmo de expansão do 5G pelo país está acelerando o acesso a seus benefícios, como conectividade mais rápida e trânsito de muitos dados ao mesmo tempo. Para o usuário final, essas características são percebidas em velocidade de internet, enquanto empresas podem aproveitar melhor tecnologias como internet das coisas (IoT) e inteligência artificial (IA), essenciais para melhorar a produtividade.
Os esforços das operadoras de telecomunicações (telcos) permitiram ultrapassar metas definidas no leilão de frequências, em 2021. “O 5G já foi instalado em todas as cidades com mais de 200 mil habitantes, cumprindo 88% das metas de instalação de antenas previstas para 2025”, detalha Marcos Ferrari, presidente-executivo da Conexis, representante das grandes telcos. O sinal chega a 955 municípios, 102 deles com mais de 100 mil habitantes (85% do total) e 259 acima de 30 mil habitantes (30%).
O sinal alcança 71 % dos brasileiros, com 28,6 mil estações rádio-base (ERBs) instaladas de seis prestadoras. O número de acessos ultrapassou 33 milhões, cerca de 12% do total no país. O crescimento foi apoiado pela limpeza do espectro da faixa de 3,5 GHz (antes ocupada por sinais de TV via satélite), que será concluída até o fim do ano; pela oferta de smartphones, com 229 modelos certificados de 22 fabricantes, disponíveis a partir de R$ 1.000; e pelo emprego de antenas 4G habilitadas com infraestrutura 5G, detalha Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco.
Daqui por diante, os investimentos das telcos devem ser mantidos em patamares históricos acima de R$ 35 bilhões ao ano, principalmente para 5G – com mais cidades e mais antenas em cidades já cobertas – e fibra óptica. Mesmo assim, o passo da expansão dependerá de fatores externos, como investimentos em aplicações de outros setores, como indústria 4.0 e lavouras conectadas, atualização de leis municipais para instalação de antenas e monetização da tecnologia, diz Ferrari, da Conexis.
Um dos desafios do 5G é a concentração regional. Mais de 40% das antenas estão localizadas em São Paulo (7.776) e Rio de Janeiro (3.872), onde vive 30% da população do país. Isso deixa vácuos em regiões mais afastadas, mesmo dentro de algumas capitais, mas principalmente em áreas rurais e distantes de grandes centros.
A cobertura com 4G ajudou a levar conectividade mais rápida para regiões desatendidas. Hoje apenas três municípios do país não contam com o sinal, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A transformação digital das empresas foi outro acelerador, com instalações privativas ou dedicadas, tanto em 5G como em 4G.
As redes privativas são a grande promessa do 5G. Representam maior oportunidade de monetização para as operadoras e melhor aproveitamento de características como baixíssima latência (tempo de trânsito dos dados) e alta densidade, por parte das empresas clientes.
Em setembro, a Anatel contabilizou 35 empresas licenciadas para redes privativas 5G em faixas de frequência exclusivas para o segmento – 2,39 GHz e 3,7 GHz, quando a interessada pode prescindir do serviço de operadoras. Outras adotam uso de um pedaço exclusivo do sinal da operadora (fatiamento). No Brasil já se destacam casos de uso em indústria, logística e mineração. Segundo a International Data Corporation (IDC), os gastos com redes corporativas devem crescer 21% ao ano, em média, até 2028.
O 4G ajuda em regiões mais afastadas e onde a necessidade de cobertura envolve áreas extensas, já que o sinal tem capacidade de ir mais longe do que o do 5G. Com isso, investimentos privados de segmentos como agronegócios e rodovias ajudaram a espalhar o sinal em locais mais remotos.
A ConectarAgro, associação que fomenta aumento do acesso à internet em áreas remotas para estimular uso de tecnologia no agronegócio, criou com a Universidade Federal de Viçosa o Indicador de Conectividade Rural (ICR), cuja segunda edição divulgada em setembro apontou avanços em seis meses.
A cobertura 4G e 5G da área disponível para uso agropecuário no país passou de 19% para 23,8%, enquanto a quantidade de imóveis com cobertura nas áreas para agropecuária passou de 37% para 43%. O desempenho é apoiado pelo crescimento da conectividade em áreas próximas a cidades e rodovias, que concentram pequenos imóveis rurais.
“As tecnologias de 4G, 5G e redes privativas se complementam em um processo evolutivo”, avalia Paulo César Teixeira, CEO da unidade de consumo e pequenas e médias empresas (PMEs) da Claro. A telco anunciou no início do ano investimentos de R$ 40 bilhões nos próximos cinco anos no país, a maior parte em fibra óptica e redes 5G. Seu sinal 5G chegava em agosto a 265 cidades, com 11,2 milhões de clientes e cerca de nove mil estações rádio-base preparadas para 5G.
Mesmo assim, Teixeira avalia que o 5G caminha bem, mas está em fase primária, com oportunidades como sustentar conexões fixas de internet (FWA) e redes privativas. Neste segmento, tem projetos em empresas como Rumo Logística, Nestlé, porto de Suape e Gerdau.
A Vivo, em agosto, registrava presença em todos os municípios com mais de 200 mil habitantes, chegando a 362 cidades. “Devemos cobrir ainda em 2024 municípios com menos de 30 mil habitantes”, diz o diretor de marketing B2B, Gabriel Domingos. No primeiro semestre do ano, os investimentos da telco somaram R$ 4,2 bilhões. A operadora tem ofertas como FWA e Vivo Total, convergência entre plano de celular pós-pago e internet fixa por acesso móvel, e mira o mercado corporativo como catalisador de novos serviços e aplicações. Um dos exemplos é a parceria com a Huawei, cujo centro de distribuição conta com carros autônomos autoguiados, empilhadeiras autônomas e câmeras com IA, o que aumentou a eficiência operacional em 30%.
A TIM tem estratégia similar. O 5G da operadora chega e 495 cidades, com mais de 9,5 mil sites, 11 milhões de acessos e 11 capitais com cobertura em todos os bairros, destaca o CTO Marco Di Costanzo. Além de tocar projetos em redes privativas 5G para clientes como São Martinho, no agronegócio, e Brasil Terminal Portuário (BTP), em logística, o 4G da marca já chega a praticamente 100% dos municípios do país.
Com parceria de clientes corporativos, são 17,5 milhões de hectares cobertos no agronegócio, ao redor dos quais gravitam 1,6 milhão de habitantes em quase mil municípios em 15 Estados. Outros 4,7 mil quilômetros de estradas cobertas com 4G em Estados como Mato Grosso também ajudam na inclusão de populações e propriedades ao longo do percurso.
Operadoras regionais e provedores de internet levam cobertura a áreas desguarnecidas, inclusive com apoio do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust). Entre as regionais com espectro distribuído pelo leilão de 5G, a Brisanet recebeu R$ 146,1 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para levar 5G a 168 comunidades localizadas em Fortaleza, Caucaia, Maracanaú e Maranguape (CE). Hoje, com cerca de 1,1 mil antenas, já oferece serviço de FWA em 76 cidades do Nordeste.
Já a Unifique, com 34 antenas registradas no painel da Anatel, recebeu R$ 71 milhões para cobrir 28 cidades no Rio Grande do Sul e Santa Catarina com 614 quilômetros de fibra óptica, além de instalar 97 estações rádio-base (54 delas 5G) em 13 cidades. Desde outubro de 2023 o BNDES aprovou R$ 721,65 milhões para 11 projetos do Fust, em 250 municípios de 12 Estados. A Ligga, por sua vez, está prestes a lançar 5G com parceiras que já possuem backbone e backhaul nas regiões onde têm obrigações e o modelo de negócios é baseado em operação móvel virtual (MVNO).
Na região amazônica, a cobertura é apoiada por investimentos públicos e privados. O programa Norte Conectado prevê nove infovias com dez mil quilômetros de cabos ópticos subaquáticos distribuídos ao longo de rios, com investimentos de R$ 1,34 bilhão. A primeira (00) ficou pronta em fevereiro de 2022, ligando Macapá (AP) a Alenquer (PA). Em março foi finalizada a 01, conectando Santarém (PA) e Alenquer a Manaus (AM). As infovias 02, 03 e 04 ligarão municípios no interior do Amazonas, Amapá, Pará e Roraima, e as demais ligarão cidades do Amazonas, Rondônia e Acre.
Um exemplo de iniciativa privada é da varejista Bemol, de Manaus, onde desde 2012 provê wi-fi gratuito em suas lojas. Em 2018 a empresa levou internet gratuita para Autazes (AM), para expandir o e-commerce. Hoje, com dois pontos de venda instalados na cidade, as vendas físicas somam R$ 1,6 milhão, com mais R$ 400 mil on-line. A iniciativa recebeu investimentos de R$ 10 milhões e abrange 67 localidades, com torres de até 115 metros de altura e fibra em florestas e rios, mas rende R$ 150 milhões em e-commerce. “O sinal é entregue de graça e, além de inclusão digital na cidade, traz retorno”, conta Jesaias Arruda, responsável por tecnologia e operações na Bemol e vice-presidente da Associação Brasileira de Internet (Abranet).