Busca por redução na conta de luz acelera migração para o mercado livre
Milhares de pequenas e médias empresas têm migrado desde janeiro de 2024 para o mercado livre de energia elétrica, ambiente em que têm liberdade para escolher o fornecedor e o tipo de contrato. Um exemplo é a Oscar Flues, fundada em 1911 e líder na fabricação e fornecimento completo de soluções de tampografia no Brasil. Com as máquinas fabricadas pela empresa nas unidades de São Paulo, Manaus (AM) e Pinhais (PR), é possível imprimir em roupas, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, óculos, brinquedos, etiquetas, canetas, copos, canecas, peças automotivas e outros.
Com receita de R$ 20 milhões anuais, a empresa migrou para o mercado livre de olho em reduzir a conta de luz, uma das principais despesas operacionais. “Sempre acompanhamos o mercado de energia elétrica e, quando vimos a abertura, passamos a ver como poderíamos migrar”, afirma o empresário Dimitri Flues, sócio da Oscar Flues.
No fim de 2022, o governo federal divulgou a portaria 50, pela qual se estabeleceu que todas as indústrias ligadas à alta tensão poderiam migrar para o mercado livre de energia a partir de janeiro de 2024. Essa norma concedeu a todos os consumidores de energia em média e alta tensão o direito de escolher o fornecedor de energia, desde que os menores o fizessem por intermédio de agentes varejistas.
Foi essa possibilidade que fez a Oscar Flues buscar uma comercializadora e fazer a migração. “Fomos buscar uma empresa idônea e que pudesse atender ao que queríamos. Não houve necessidade de mudanças para ir para o mercado livre, a rede de energia é a mesma. A migração permite uma economia de 20% mensais”, afirma. O perfil de quem tem migrado é de pequenas e médias empresas.
Em junho de 2025, números da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) mostram que o mercado livre de energia soma mais de 77 mil unidades consumidoras, um recorde na linha do tempo de migração para esse mercado, que existe desde 1995, mas cuja ampliação se deu a partir de 2024.
O número atingido em junho deste ano – 77 mil unidades consumidoras – é 57,7% maior que o de 12 meses atrás (48,9 mil em junho de 2024) e 123,8% maior que há 24 meses (34, 4 mil em junho de 2023), quando o mercado livre de energia começou a atrair novos consumidores em um ritmo mais veloz.
Segundo Rodrigo Ferreira, presidente da Associação Brasileira das Comercializadoras de Energia Elétrica (Abraceel), a atual fase de crescimento do mercado livre apresenta características de “atacarejo”, por combinar características de atacado e varejo. “O primeiro grande salto foi dar a liberdade de escolha para as mais de 200 mil unidades consumidoras de média e alta tensão que, embora sejam menos de 1% da quantidade total, são responsáveis por aproximadamente metade do consumo nacional”, explicou.
Uma das vantagens no mercado livre é a maior previsibilidade nas despesas com energia elétrica. A empresa fica livre do sistema de bandeiras tarifárias, existente no mercado cativo (atendido pelas distribuidoras). Pelo sistema, por exemplo, o acionamento de térmicas, cuja energia é mais cara, em um determinado mês, pode fazer a conta de luz ficar mais alta no mês seguinte, com a divulgação de bandeira vermelha.
A possibilidade de aderir ao mercado livre também pode permitir que a empresa compre certificados de energia renovável, os chamados I-Recs, que comprovam o consumo de energia renovável. Desta maneira, funcionam como uma forma de rastrear e garantir a origem da energia. “As empresas estão buscando essa forma de atestar a preocupação com o uso de energia sustentável”, observa Fernando Lopes, diretor do Instituto Totum.
