Sábado, 9 de Agosto de 2025

Brisanet buscará parceria para ter 5G no Centro-Oeste

 Com cerca de R$ 800 milhões em investimentos previstos para este ano, dos quais quase 70% serão destinados ao 5G, a Brisanet aposta numa rede móvel inteiramente projetada, adquirida e instalada pela própria companhia para chegar ainda este ano a Natal e João Pessoa, além das principais cidades do Rio Grande do Norte e da Paraíba. A operadora regional era em maio a sexta maior provedora de banda larga fixa do país, com 1,34 milhão de assinantes, mas ainda “engatinha” na telefonia móvel, mercado no qual estreou este ano. Terminou junho com 128 mil clientes no seu serviço de telefonia 5G. 

 O total equivale a aproximadamente 1,4% da base de clientes de telefonia móvel no Ceará, primeiro Estado escolhido pela Brisanet para lançar o serviço de quinta geração. A operadora terminou o primeiro semestre com 115 cidades com cobertura 5G, numa área que engloba 6,5 milhões de habitantes. 

 Ao fim de maio, havia no Ceará 9,23 milhões de linhas móveis ativas, de todas as operadoras, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). “Existe uma barreira grande aqui no Nordeste: tanto na capital como no interior as pessoas conhecem a Brisanet como [provedora de] banda larga fixa, fibra. Quando se fala de telefonia móvel, na cabeça das pessoas, é TIM, Claro e Vivo ”, justificou o fundador e diretor-presidente da Brisanet, José Roberto Nogueira, em entrevista ao Valor. 

 A empresa nasceu como um provedor de acesso à internet via rádio em 1998, em Pereiro (CE), cidade que em 2022 tinha pouco mais de 15 mil habitantes de acordo com o último censo. Ainda em 2010, a Brisanet iniciou os investimentos em fibra óptica. O ponto em comum entre esses dois momentos passados e o atual é a opção por uma estratégia de crescimento totalmente orgânico, na qual a operadora participa do início ao fim de todas as fases do processo de construção da rede. 

 “O investimento no 5G não é só na torre [de telefonia móvel]. É na infraestrutura até chegar àquela torre. É a fibra chegar na cidade e, depois, chegar naquela torre”, argumenta Nogueira, numa referência à rede fixa necessária para escoar grandes quantidades de dados recebidos e enviados pela antena. No caso da Brisanet as antenas 5G são conectadas à rede da própria operadora, que conecta 158 municípios espalhados por nove Estados da região Nordeste. 

 A exceção à regra “faça-você-mesmo” é o plano de expansão do serviço móvel para a região Centro-Oeste. No leilão realizado pela Anatel em 2021, a Brisanet adquiriu licenças para operar o serviço 5G na região e também no Nordeste. “O modelo no Centro-Oeste é um com […] parcerias, mas com um vínculo mais forte. Não é um modelo de MVNO [operadora móvel virtual]”, resumiu Nogueira, referindo-se às teles sem rede própria que alugam infraestrutura de outras empresas. 

 No momento, a Brisanet mapeia empresas interessadas numa parceria de longo prazo. A expectativa é de que a operação no Centro-Oeste seja iniciada em 2026. 

 “A [telefonia] móvel normalmente é um negócio nacional”, opinou um especialista do mercado de telecomunicações que prefere não ter seu nome divulgado. “Mas isso não anula a possibilidade de um ‘player’ regional, ainda mais focado na rentabilização e fortalecimento de posição competitiva com clientes do ‘core business’ [negócio principal] da fixa”, acrescentou. 

 Nogueira argumenta que, ao desenvolver internamente todas as atividades essenciais ao seu negócio, a Brisanet adquiriu um conhecimento aprofundado das tecnologias utilizadas, além de reduzir custos e ganhar eficiência na implantação da rede. 

 Para este ano o investimento programado em 5G da Brisanet é de aproximadamente R$ 550 milhões. Só que, ao contrário de suas principais concorrentes de alcance nacional, a Brisanet enfrenta um desafio adicional na expansão de sua cobertura móvel: a empresa não conseguiu adquirir no leilão de frequências voltadas para o 5G, em 2021, a faixa de 700 megahertz (MHz). 

 A operadora conta apenas com frequências mais altas – 2,3 gigahertz (GHz) e 3,5 GHz – que têm menor alcance quando comparadas à de 700 MHz. Com as frequências mais elevadas, há necessidade de instalação de mais torres de telefonia para obter a mesma cobertura. 

 “O que [a faixa de] 700 MHz traz, num primeiro momento, é uma diminuição do investimento necessário numa capital, numa cidade grande, por exemplo, onde as torres podem ser menos adensadas. […] Poderíamos com o mesmo investimento fazer duas capitais”, reconhece Nogueira. A saída encontrada pela Brisanet foi implementar o dobro de torres de telefonia móvel para cobrir Fortaleza. Ainda assim, o executivo diz que continua com a expectativa de ter a frequência de 700 MHz. 

 “Será necessário complementar a cobertura de frequência atual com frequências mais baixas”, afirma o analista de mercado ouvido sob condição de anonimato. “Mas isso pode ser feito via um acordo com as operadoras detentoras desses espectros. Há, inclusive, a possibilidade de compra desse lote de 700 MHz por uma operadora de infraestrutura neutra”, concluiu. 

 Em fato relevante divulgado em 15 de julho, a Brisanet comunicou a captação de R$ 600 milhões por meio de debêntures, com demanda acima de R$ 1,1 bilhão. 

 

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