Brasil tem tecnologia e qualidade, mas impostos inibem exportação de smartphones
A Motorola já foi uma das maiores vendedoras de celulares do Brasil a outros países, com destaque para os anos 2000, quando o modelo V3 liderava as vendas. No entanto, a unidade brasileira deixou de lado a exportação de smartphones e hoje atende exclusivamente ao mercado interno. Segundo Rodrigo Vidigal, country manager da empresa, o principal obstáculo para retomar as exportações é a alta carga tributária nacional.
“Com o aumento dos impostos aqui no país, a nossa capacidade de competir lá fora perdeu para os preços que vêm da China”, afirmou Vidigal em entrevista ao Tele.Síntese. O executivo destaca que, apesar disso, as duas fábricas da Motorola no Brasil — localizadas em Jaguariúna (SP) e Manaus (AM) — mantêm um padrão tecnológico comparável às unidades da empresa na China e na Índia.
A diferença de custo, segundo ele, decorre sobretudo da carga tributária, que representa aproximadamente 40% do preço de um smartphone no país. “Nossa capacidade de produção é igual ou melhor. A dificuldade que a gente tem é tributária e trabalhista”, disse.
Competência técnica e estrutura industrial mantidas
Mesmo restrita ao mercado doméstico, a operação brasileira mantém produção de ponta e contribuições relevantes para o portfólio global da Motorola. Vidigal cita a estrutura automatizada das fábricas e o investimento constante em pesquisa e desenvolvimento (P&D), com mais de 1.200 engenheiros atuando no país.
A empresa também utiliza os recursos da Lei de Informática para impulsionar o desenvolvimento de tecnologias que são incorporadas a aparelhos vendidos em outros mercados. Entre os destaques estão funcionalidades de câmeras, softwares de otimização de desempenho e aplicações de inteligência artificial.
“Desenvolvemos soluções que são utilizadas em smartphones da Motorola no mundo todo. A produção aqui é altamente competitiva”, reforçou Vidigal.
Retomada depende de medidas estruturais
O executivo afirma que a Motorola tem interesse em voltar a exportar a partir do Brasil, especialmente para países vizinhos da América Latina, como Chile, Equador e Colômbia. No entanto, ressalta que isso só será possível com ajustes no sistema tributário e melhorias no ambiente de negócios.
“Nossos produtos estão indo desses países a partir da China. A gente está aqui do lado, mas não consegue competir. É uma questão que precisa ser revista”, afirmou.
A empresa participa das discussões institucionais sobre o tema por meio da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). “A gente procura conversar como segmento, com uma agenda propositiva, positiva e contributiva”, destacou.