Brasil pode perder bilhões com tarifa dos EUA; café, carne e suco são os mais afetados
A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto representa um duro golpe nas exportações nacionais e pode desencadear prejuízos bilionários em diversos setores.
Embora o petróleo e produtos específicos como semicondutores e fármacos permaneçam isentos, a medida atinge diretamente indústrias com maior valor agregado, como aeronáutica, alimentos e manufaturados.
Os Estados Unidos são o segundo maior destino das exportações brasileiras, atrás apenas da China, e figuram como mercado estratégico para produtos como café, carne bovina, suco de laranja, aeronaves, autopeças e máquinas.
A nova taxação, ainda que não seja cumulativa com outras tarifas já existentes, deve reduzir de forma drástica a competitividade nacional.
Segundo o banco BTG Pactual, setores que já enfrentam margens apertadas devem ser os mais afetados. O café, por exemplo, cujas exportações aos EUA renderam quase US$ 2 bilhões neste ano, pode ter aumento de preço para o consumidor norte-americano e compressão de lucros para os produtores brasileiros.
O Cecafé alertou para o impacto direto sobre o mercado consumidor nos Estados Unidos, onde o grão brasileiro é tradicionalmente dominante.
No setor de carnes, os EUA responderam por 16,7% das exportações de carne bovina em 2024. A Minerva, uma das maiores do setor, estima uma perda de até 5% na receita líquida. Já empresas como JBS e Marfrig, com forte presença nos EUA, tendem a amortecer os efeitos localmente, mas a cadeia exportadora no Brasil será afetada.
O caso do suco de laranja é ainda mais preocupante. Os EUA foram responsáveis por mais de 40% das exportações brasileiras na safra 2024/25. Com a tarifa, o custo por tonelada saltaria mais de 500%, segundo a CitrusBR, que classifica a situação como insustentável. A consultoria Cogo alerta para o risco de colapso da cadeia citrícola, diante da dificuldade de encontrar mercados alternativos.
O setor de petróleo, embora isento da nova tarifa, não escapa da pressão. O BTG aponta que os impactos seriam limitados graças à flexibilidade comercial da indústria, mas dados mostram queda na exportação da commodity aos EUA no primeiro trimestre, o que indica perda de espaço mesmo antes da medida.
Na aviação, os prejuízos recaem sobre a Embraer, que vendeu US$ 2,4 bilhões em aeronaves para os EUA neste ano. O mercado norte-americano representa mais de 60% da receita da empresa nesse segmento. O mesmo vale para o setor de metais, com US$ 2,8 bilhões em vendas de produtos de ferro e aço, dos quais mais de 70% vão para os EUA.
Materiais de construção e engenharia, madeira, máquinas e equipamentos, eletrônicos e motores completam a lista de setores ameaçados. Juntas, essas indústrias movimentaram bilhões em exportações aos EUA apenas em 2024, com alta dependência desse mercado.
A indústria elétrica e eletrônica, que exportou mais de US$ 1 bilhão no primeiro semestre, está entre as mais vulneráveis. A Abinee afirma que os Estados Unidos são o principal destino das vendas brasileiras do setor, o que amplia os danos potenciais da tarifa.