Brasil e Bolívia negociam acordo para expandir geração das usinas do rio Madeira
Um acordo está sendo costurado entre os governos do Brasil e Bolívia para aumentar a produção de energia das usinas do rio Madeira, localizadas próxima à fronteira entre os países, e exportar o excedente de eletricidade para o país vizinho, fortalecendo ainda mais a integração energética entre ambos.
A ideia é elevar o nível do rio até a cota 90 metros, um pleito antigo da hidrelétrica de Jirau para aumentar o rendimento das unidades geradoras e aumentar o volume de energia que a usina pode entregar ao sistema (garantia física, no jargão do setor). Essa operação possibilitaria um aumento médio anual da produção de Jirau em 330 megawatts-médios.
A medida tem sido encabeçada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD/MG), que desde o ano passado vem em tratativas com autoridades do país vizinho para viabilizar o projeto. O Valor apurou que nesta quinta-feira (26) está prevista uma reunião entre ministérios dos dois países para o alinhamento final.
Como uma parte do território boliviano pode ser inundado, a contrapartida seria que parte da produção seria dada em ressarcimento para a Bolívia, que atualmente supre toda aquela região Norte com diesel, combustível muito mais caro, poluente e com logística extremamente complexa.
A medida teria potencial ainda de melhorar a controlabilidade da cascata, notadamente ante a situações climáticas críticas como a seca do ano passado no ano passado, que paralisou a parte da usina de Santo Antônio, situação crítica que ainda segue este ano, e aumentar a capacidade de regularizando o rio Madeira e torná-lo mais independente de sua sazonalidade natural. O benefício da garantia física será calculado de acordo com a regulamentação vigente.
Além de gerarem energia limpa e renovável, juntas, as usinas têm capacidade de geração que ultrapassa 7 gigawatts (GW), contribuem para a diversificação e estabilidade do sistema elétrico e desenvolvimento regional e a maior parte da energia produzida é enviada para o mercado regulado, ou seja, consumidores mais pobres atendidos pelas distribuidoras.
“A nossa intenção é aumentar a capacidade de geração das usinas do Madeira, garantindo a redução dos valores de produção e transferindo este abatimento na diminuição da conta de energia dos consumidores brasileiros, em especial o mercado regulado”, disse Silveira ao Valor.
Tanto Jirau quanto Santo Antônio são usinas a fio dágua, ou seja, não possuem reservatório de acumulação de água e por isso não têm controle da produção de energia. Com um pouco mais de água acumulada, no período seco as usinas poderiam continuar produzindo energia de maneira mais regular, além de trazer mais receita às empresas.
O presidente de Jirau, Edson Silva, disse que está acompanhando esse processo de perto e oferecendo os subsídios necessários para a sua concretização. Segundo ele, a operação permitirá o acréscimo de produção, aumentando a segurança do suprimento no Brasil, como também localmente na região de Acre e Rondônia.
“Além disso, trará benefícios à navegação fluvial e na operação da cascata frente a situações climáticas críticas tais como a seca do ano passado e que se repete este ano. Também, considerando que parte dessa energia será transferida para Bolívia, será possível reduzir as emissões de CO2 nas regiões de fronteira, que hoje são supridas precariamente por termelétricas movidas a óleo. Vale registrar que hoje Jirau entrega sua produção na região de São Paulo, a quase 3.500 quilômetros de distância e essas regiões da Bolívia estão a menos de 300 quilômetros da fronteira”, diz Silva.
O desfecho desta história pode ainda abrir portas para a retomada das discussões de um antigo projeto entre os países para tirar do papel o plano de construir uma segunda usina hidrelétrica binacional. O projeto reacende o debate sobre o uso energia limpa e renovável, mas também sobre a construção de novas usinas na Amazônia, considerando o contexto de emergência climática, segurança energética e impactos socioambientais.