Avanço desordenado da energia solar causa crise financeira e risco de apagão
O Brasil corre risco de apagões por excesso de energia e falta de infraestrutura, informam Renée Pereira e Luiz Guilherme Gerbelli. A oferta maior do que a demanda ocorre sobretudo pela escalada da geração distribuída, aquela produzida pelos próprios consumidores com painéis solares no telhado de residências e no comércio. Ela é inje
tada diretamente na rede de distribuição. Em 10 de agosto, um dia frio e de baixo consumo, um colapso só foi evitado com o corte de cerca de 90% da geração e o desligamento de várias usinas. Especialistas apontam a necessidade de modernizar a gestão do sistema elétrico, algo que o Operador Nacional do Sistema (ONS) diz estar em curso. Cortes resultam em perda bilionária, trazem insegurança jurídica e inibem investimentos. Entre outubro de 2021 e agosto de 2025, o prejuízo foi de R$ 6 bilhões, metade só neste ano, até agosto.
No domingo de 10 de agosto, Dia dos Pais, o Brasil enfrentou uma situação crítica. Enquanto a produção de energia aumentava, o consumo despencava por causa do feriado e da temperatura baixa (em Parelheiros chegou a f a zer 2,5ºC). Para evitar que o sistema entrasse em colapso e provocasse um apagão, cerca de 90% da geração precisou ser cortada e várias usinas, desligadas. A crise já é comparada ao racionamento de 2001, com restrições técnicas e financeiras. Mas, desta vez, o problema é o oposto.
Naquela época, o Brasil adotou um programa de redução do consumo de energia para se adequar à oferta, baixa em razão do nível dos reservatórios, com a escassez de chuva.
Agora, a geração está maior do que a demanda. Isso ocorre sobretudo por causa da escalada da geração distribuída, aquela produzida pelos próprios consumidores com painéis solares instalados no telhado das residências e estabelecimentos comerciais.
O sistema no País é interligado e coordenado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), responsável por de
ONS prevê que apenas 45% da capacidade instalada estará sob a sua coordenação em 2029
cidir quais usinas devem gerar energia e quais precisam reduzir a produção, de acordo com a oferta e a demanda. O desafio é que o ONS vem perdendo parte desse controle devido ao avanço da geração distribuída, que injeta energia diretamente na rede de distribuição.
Como não consegue regular esse tipo de produção conforme a necessidade, o operador é obrigado a cortar a geração das grandes usinas, especialmente eólicas e solares. A dinâmica, conhecida no setor como curtailment, gera impactos financeiros significativos.
“O aumento da micro e minigeração distribuída traz desafios adicionais para a operação do sistema, pois, com o crescimento da geração distribuída e de usinas conectadas à rede das distribuidoras, a projeção é de que, em 2029, apenas 45% da capacidade instalada estará sob a coordenação do ONS”, diz o órgão, em nota. Especialistas ressaltam que 55% do sistema estaria sem gerenciamento.
“A geração distribuída tem de ser marginal, e não determinante. Caso contrário, coloca o sistema em risco e põe em xeque todo o modelo do setor”, diz a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoun. Segundo a associação, entre outubro de 2021 e agosto de 2025, a energia solar e eólica cortada somou 39 terawatt-hora, o equivalente a todo o consumo do Nordeste em 2024.
Os cortes resultam em perda bilionária para o setor, trazem insegurança jurídica e inibem novos investimentos. Entre outubro de 2021 e agosto de 2025, o prejuízo foi de R$ 6 bilhões, metade só neste ano, até agosto, segundo a Abeeólica.
