“A região precisa passar da discussão para a ação”, diz Lucas Gallitto, da GSMA
O recente lançamento da iniciativa Open Gateway no México marca uma nova etapa na colaboração entre operadoras, desenvolvedores e integradores, abrindo caminho para serviços digitais mais seguros e dinâmicos. Ao mesmo tempo, a região enfrenta o desafio de atualizar seus marcos regulatórios e fechar a brecha digital, com uma visão mais ampla sobre o ecossistema digital.
Em entrevista para Mobile Time Latinoamérica, Alejandro Adamowicz, diretor de Tecnologia e Estratégia para a América Latina na GSMA, e Lucas Gallitto, diretor regional da entidade, compartilharam sua visão sobre o futuro das telecomunicações na região e o papel do Open Gateway nesse processo.
APIs contra fraudes: primeiros passos do Open Gateway no México
O Open Gateway é uma iniciativa global liderada pela GSMA que busca padronizar e abrir APIs de rede para facilitar o desenvolvimento de novos serviços digitais. No México, sua implementação inicial está focada na prevenção de fraudes digitais, uma das principais preocupações do ecossistema local.
“Existe uma demanda muito grande por soluções que reduzam as fraudes digitais. Não é um fenômeno exclusivo do México, mas aqui se manifesta com especial intensidade”, destacou Adamowicz. “As primeiras APIs que estão sendo lançadas têm justamente o objetivo de proteger o usuário e já estão sendo adotadas pelas operadoras.”
A abertura dessas interfaces não beneficia apenas as grandes operadoras. Ela também cria oportunidades para desenvolvedores e integradores locais, que poderão criar aplicações aproveitando capacidades de rede que antes não estavam acessíveis.
“A API é como uma estrada que conecta o mundo digital, ágil e imediato, com o mundo das redes móveis. Isso permite que as operadoras inovem com mais rapidez”, explicou o executivo.
Segundo Adamowicz, 92% das conexões móveis na América Latina estão prontas para o Open Gateway, um índice que supera a média global de 80%. “O México é o quinto país da região a aderir, e a América Latina é, nesse aspecto, a região mais avançada do mundo”, afirmou.
Uma regulação que acompanhe a transformação digital
Para que esse tipo de inovação se traduza em mais inclusão, melhores serviços e maior adoção dos usuários junto às operadoras, é necessário que os marcos regulatórios evoluam no mesmo ritmo do ecossistema, como detalhou Lucas Gallitto. Segundo ele, a região precisa passar da discussão para a ação.
“Já sabemos quais são os desafios e as posições estão claras. Chegou o momento de os reguladores agirem com uma visão mais ampla sobre o ecossistema digital”, afirmou. “A estrutura das agências reguladoras ainda está muito presa aos serviços tradicionais de telecomunicações, mas hoje o ambiente digital é muito mais complexo e interconectado.”
Nesse sentido, o Brasil se destaca como um país de referência, tanto pela experiência acumulada quanto pela capacidade de se antecipar às mudanças, embora Gallitto ressalte que não existe uma fórmula única para todos os países.
“O mais importante é avançar rumo a uma regulação que promova o investimento e não o trave artificialmente”, defendeu, enfatizando que é o próprio mercado quem deve determinar quantos operadores são necessários. Ele citou o caso do Brasil, onde, na última licitação de espectro, foi aberta a possibilidade de entrada de um quarto operador, com quatro blocos à disposição. No entanto, um dos blocos não recebeu propostas e acabou sendo redistribuído entre os demais.
“Fizeram um teste, mas as condições atuais no Brasil não eram favoráveis para um quarto operador. Justamente por isso é preciso entender qual é o número de operadores que permite que o capital seja investido da forma mais eficiente. Ou seja, temos que focar no resultado. Qual é a estrutura que proporciona mais conectividade, mais rapidamente, com melhor tecnologia e de forma mais acessível?”, explicou.
Inteligência artificial, nuvem e novos desafios
Ao ser questionado sobre o papel das telecomunicações diante de tendências emergentes como inteligência artificial e computação em nuvem, Gallitto destacou que as operadoras já utilizam IA na otimização de redes e na gestão de usuários. No entanto, o potencial da IA generativa traz novos desafios regulatórios e oportunidades de negócios.
Paralelamente, a brecha digital continua sendo um problema estrutural. Embora 61% dos latino-americanos estejam conectados à internet móvel, ainda há 33% que, mesmo tendo cobertura, não acessam o serviço — principalmente por barreiras como falta de conteúdos relevantes, ausência de habilidades digitais e o custo dos dispositivos.
“Não é só um problema de cobertura, mas de uso. Precisamos de mais conteúdo local, mais educação digital e de dispositivos móveis mais acessíveis”, ressaltou.
América Latina pronta para liderar
Tanto Adamowicz quanto Gallitto concordam que a América Latina tem capacidade para liderar essa nova etapa da transformação digital. A alta preparação para o Open Gateway, somada a uma crescente consciência regulatória e ao potencial criativo dos atores locais, coloca a região em uma posição de destaque.
“Temos o conhecimento e a vontade. Agora, falta que os governos também tenham a vontade de agir”, concluiu Gallitto.