Sábado, 18 de Outubro de 2025

Iniciativa do Instituto CEJAM transforma unidades de saúde em pontos de coleta de resíduos

O Brasil ainda enfrenta grandes desafios quando o assunto é descarte correto de resíduos. Estima-se que o país produza mais de 2 milhões de toneladas de lixo eletrônico por ano, mas apenas cerca de 3% desse total recebe destinação adequada. No caso do óleo de cozinha, de um volume anual que ultrapassa 4,7 bilhões de litros, pouco mais de 2% chegam a processos de reaproveitamento ou reciclagem​.​

Em regiões afastadas, o descarte correto de resíduos se torna ainda mais ​​difícil​​.​​A população encontra poucos pontos de entrega voluntária, concentrados nas áreas centrais, o que desestimula a prática e leva ao descarte incorreto de materiais poluentes.​​ Esse cenário gera impactos diretos no meio ambiente, como a contaminação de solos, rios e lençóis freáticos, além de ameaçar a saúde da população exposta a substâncias tóxicas.

Frente a isso, o CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” criou o Projeto Devolva-me, com ​​o objetivo de aproximar o serviço das comunidades atendidas pela instituição. A ação amplia o acesso à destinação correta de resíduos e garante uma alternativa local.​​​​ ​​“Implantamos os pontos de entrega dentro das unidades de saúde justamente para aproximar esse serviço da comunidade, integrando o cuidado ambiental ao cuidado em saúde”, explica Michele Assunção, gestora local do Programa Ambientes Verdes e Saudáveis (PAVS) no CEJAM.

​​Com dez anos da implementação, o projeto, que acontece em 30 Unidades Básicas de Saúde (UBS) gerenciadas pela instituição​, em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo (SMS-SP),​ nas regiões do Jardim Ângela e Capão Redondo, na zona sul ​​da cidade​​​​​​, já coletou 41 mil litros de óleo de cozinha, evitando a contaminação de cerca de 1 bilhão de litros de água, um volume equivalente a 500 piscinas olímpicas. ​​​

Além disso, 13 toneladas de resíduos eletrônicos deixaram de ser destinadas aos aterros sanitários, ​​levando à​​​​ ​​ redução da extração de matéria-prima virgem necessária à produção de novos eletrônicos. ​No mesmo período, ​nove​​​​ ​​toneladas de pilhas deixaram de liberar metais pesados no solo e mais de 2,3 toneladas de placas de raio-X tiveram destinação correta. “Quando falamos desses números, estamos ​​tratando​​​​ de toneladas de materiais altamente poluentes que deixaram de contaminar o solo e a água. Mas, mais do que isso, estamos ​​estimulando​​ um processo educativo: cada entrega feita representa uma mudança de hábito, uma escolha consciente da comunidade”, destaca Michele.

O impacto do Devolva-me vai além da gestão de resíduos. Ao transformar as unidades de saúde em pontos de coleta voluntária, a iniciativa também cria laços de pertencimento e engajamento social. “O projeto aproxima a população das unidades de saúde ao transformá-las em espaços de referência socioambiental. Isso fortalece o vínculo comunitário, incentiva a participação coletiva e cria um senso de corresponsabilidade pelo cuidado com o território”, reforça a gestora.

Entre os materiais mais entregues estão as pilhas, seguidas de eletrônicos de diferentes portes, que variam de celulares a geladeiras. ​​Os itens​​ coletado​s​ ​​são encaminhados​​ a polos de consolidação e, em seguida, ​​destinados​ ​a parceiros certificados, como a Green Eletron, responsável pela logística reversa desses resíduos em âmbito nacional.

“O projeto tem ganhado um novo rumo: além dos pontos de entrega voluntária já existentes nos serviços de saúde, ele vem sendo ampliado para equipamentos locais e estabelecimentos comerciais, incluindo aqueles que realizam a venda de pilhas, fortalecendo ainda mais a rede de coleta.”

Apesar dos avanços, ainda existem desafios, como a logística de transporte dos resíduos, a ampliação da rede de parceiros e a sustentabilidade do processo em larga escala. Mesmo assim, a ação está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente aos relacionados a consumo responsável, saúde, proteção da vida terrestre e aquática e combate às mudanças climáticas. “Nosso compromisso é crescer de forma responsável, ​​aumentando​​​​ o escopo de materiais coletados e ​​consolidando​​​​ parcerias locais. Queremos que cada vez mais pessoas enxerguem no Devolva-me um aliado no dia a dia, um espaço que conecta saúde, meio ambiente e cidadania”, conclui Assunção.

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