Sexta-feira, 8 de Agosto de 2025

Setor eletroeletrônico corre para negociar

A indústria brasileira de semicondutores, equipamentos elétricos e eletrônicos corre para negociar a entrada dos segmentos nas exceções ao tarifaço anunciado pelo governo Trump, antes da entrada em vigor das tarifas, em 6 de agosto.

“Nossa expectativa é ingressar na lista de exceções mostrando que também há uma oportunidade ao mercado americano, que busca descentralização de fornecedores da Ásia”, diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Semicondutores (Abisemi), Rogério Nunes.

Embora as exportações de circuitos integrados de memória (usados em computador, celular e TV) sejam pouco representativas, a tarifa de 50% sobre estes componentes inviabiliza negociações em andamento para abastecer o mercado americano, diz Nunes.

A Abisemi se reuniu com o vice-presidente da República Geraldo Alckmin há duas semanas e segue articulando a inclusão dos componentes na lista de exceções de tarifas. “Como o Brasil não é um exportador importante no momento, ele foi desconsiderado pelos EUA, mas pretendemos mostrar essa relevância”, diz o presidente da Abisemi. “Para isso é importante que tenhamos um processo de negociação sadio”.

Em 2025, o setor brasileiro de semicondutores deve faturar US$ 1,2 bilhão, alta de 20% ante o resultado de 2024. As exportações, segundo Nunes, são pouco representativas.

Nunes também é presidente da fabricante de memórias Zilia Technologies, subsidiária da chinesa Longsys, que está em negociações avançadas com empresas americanas para exportar sua produção das fábricas de Atibaia (SP) e Manaus (AM). “A tributação agora inviabiliza o processo, mas estamos atuando com muita cautela”, nota Nunes. “Não temos como tomar decisões em um ambiente mutante, incerto e recente”.

Os planos de exportação aos EUA Unidos pela fabricante de memórias Adata, também estão em pausa, informou o diretor-presidente da empresa, Paulo Júnior, ao Valor esta semana.

A Adata, de origem taiwanesa, prevê investir R$ 400 milhões em pesquisa e desenvolvimento no Brasil nos próximos cinco anos. Depois de China e Taiwan, o Brasil é seu terceiro maior mercado.

A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) reforçou sua preocupação com a ausência de equipamentos elétricos na lista de exceções ao tarifaço de Trump. “A continuidade das negociações pelo governo brasileiro é essencial para que possamos incluir esses produtos na lista”, disse o presidente da Abinee, Humberto Barbato.

No primeiro semestre, os EUA representaram 29% do total exportado pelo setor eletroeletrônico brasileiro, sendo o principal destino das vendas externas.

Acordos de cooperação tecnológica para o desenvolvimento da indústria de centros de dados e o mapeamento de reservas de minerais críticos que abastecem o mercado de semicondutores estão entre as frentes trabalhadas pelo Fórum de CEOs Brasil – Estados Unidos para ampliar as exceções ao tarifaço americano.

“Colocamos, dentro das recomendações, a exploração de minérios em terras raras como uma área de transferência bilateral de tecnologia [com os EUA]”, informou o secretário-geral do Fórum de CEOs e vice-presidente global da empresa de tecnologia Stefanini, Ailtom Nascimento. “É um mercado de grande interesse e possuímos uma oferta imensa destas matérias-primas para semicondutores e telas”, ilustrou.

Além do impacto direto sobre equipamentos, a indústria de tecnologia pode sofrer com cortes de verbas de setores econômicos afetados pelo tarifaço. “Vemos com muita preocupação sobretudo os efeitos das tarifas sobre as empresas que investem em tecnologia”, disse Andriei Gutierrez, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes).

As empresas brasileiras que integram o Fórum de CEOs colocaram técnicos tributários e de comércio exterior à disposição do governo. “É o momento de aprofundar as negociações antes da vigência das tarifas, no dia 6”, diz Nascimento. “Ganhamos cinco dias, o que, para o brasileiro é um prazo imenso”, afirma.

 

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