Domingo, 26 de Outubro de 2025

Spic, gigante chinesa, vê incerteza no setor elétrico e trava investimento

Os desarranjos do setor elétrico travaram os planos de expansão da gigante chinesa SPIC no Brasil. De acordo com a presidente da companhia, Adriana Waltrick, no momento a empresa avança apenas nas obras de um parque eólico de 105 megawatts (MW) no Rio Grande do Norte, anunciado no ano passado e previsto para começar a operar em 2026. As demais oportunidades estão em compasso de espera, até que haja maior clareza de regras no País.

Fundada em 2015, como a união de outras duas companhias, a Spic é uma das maiores empresas de energia do mundo e vem investindo em ativos de geração no Brasil, como usinas hidrelétricas, solar, além de parques eólicos.

“O setor está precisando de atenção, de governança, de clareza de regras, antes que o investidor se assuste e comece a não priorizar mais o País, que tem tanta oportunidade”, diz Adriana, em entrevista à Coluna. “Não é possível que a gente vá perder a oportunidade de trazer inovação, de aprofundar nossa vocação para as renováveis, nos perdendo nas próprias regras e nas próprias questões locais.”

Parque eólico é construído em parceria
Segundo ela, a construção do parque eólico de R$ 750 milhões apenas foi possível por causa da parceria com a fabricante de turbinas Goldwind, também chinesa, que recentemente instalou sua fábrica em Camaçari (BA). “Esse investimento já estava na nossa prateleira e trouxemos tecnologia de uma turbina gigante, de 6,2 MW, que será uma das primeiras produções da Goldwind no Brasil.”

Na visão da executiva, a principal questão que barra novos investimentos é o corte de geração. Ela afirma que, da forma como os cortes vêm sendo feitos no País, não seria possível modelar e quantificar esse risco, e consequentemente o retorno de um projeto.

Após três aquisições de usinas solares, a Spic possui quase 1 gigawatt (GW) de capacidade nessa fonte, e os parques vêm enfrentando cortes que chegam a 60%. Na média, estão em 30%, ante níveis de 5% no mundo, segundo a executiva. Os patamares elevados observados no País, associados à falta de transparência sobre as condições de ressarcimento, ameaçam provocar uma crise sistêmica. “Ela está à nossa porta”, diz.

Soluções demoram
Ela critica não só as falhas nas regras vigentes, mas a demora na solução do problema, além das promessas de resolução que não se confirmam. De fato, o governo chegou a indicar que apresentaria uma proposta até março de 2025, mas até agora isso não ocorreu. “Isso reduz nossa credibilidade enquanto destino”, afirma.

Outro motivo da percepção negativa é a demora na realização de um leilão para a contratação de “potência”, mecanismo que o Operador Nacional do Sistema Elétrica (ONS) afirma ser fundamental para garantir confiabilidade no atendimento da demanda. Inicialmente marcado para junho de 2025, o leilão foi cancelado diante da judicialização por interessados descontentes com o edital.

Adriana se mostra preocupada, ainda, com o movimento em torno da Medida Provisória nº 1.300/2025 no Congresso. Embora elogie a MP, que propõe mudanças na regulação setorial, critica o excesso de emendas ao texto: quase 600. “O planejador deixou de ser a EPE [Empresa de Pesquisa Energética] para ser o Congresso, isso diminui muito a eficiência de um setor que precisa ser pensado no médio e longo prazo, não pode ser pensado no curto prazo, na vantagem de um e de outro”, diz.

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