Âmbar, da J&F, compra térmicas da Eletrobras
A Eletrobras anunciou a venda, por R$ 4,7 bilhões, de um conjunto de térmicas a gás natural para a Âmbar Energia, do grupo J&F, que pertence aos irmãos Batista. As unidades ficam no Amazonas e no Rio de Janeiro. O negócio inclui sete térmicas em operação, um projeto de nova usina e cinco “direitos de reversão” de empreendimentos que teriam controle entregue para a Eletrobras até maio de 2025.
As 13 usinas totalizam 2 gigawatts (GW) de capacidade instalada e a venda abre uma saída para Amazonas Energia, distribuidora em dificuldades com quem as termelétricas têm contratos de venda de eletricidade firmados. Com a compra, a Âmbar passa a deter 40 usinas de energia de diferentes fontes, chegando a 4,6 GW.
O Valor apurou que a Âmbar Energia não descarta assumir a Amazonas Energia, caso a empresa não encontre compradores. A distribuidora possui uma situação delicada, com uma concessão deficitária e passivo elevado. Essa possível assunção pela Âmbar não teria caráter estratégico: seria vista como uma saída para viabilizar a reestruturação da concessionária, dizem fontes a par do tema.
A Eletrobras vendeu a Amazonas Energia em 2018 para a Oliveira Energia. No entanto, a grave crise financeira da distribuidora levou o governo a estudar saídas, como intervenção, caducidade (fim do contrato com leilão da concessão) e troca do controle acionário. Só com a Eletrobras, a Amazonas Energia acumula dívidas de fornecimento de combustíveis e dos contratos de energia elétrica da ordem de R$ 10 bilhões.
De acordo com a Eletrobras, o portfólio de usinas “não tem dívida ou caixa”. A Âmbar assume também os riscos de crédito dos contratos de energia das térmicas com a Amazonas Energia, que não vinha pagando pela eletricidade fornecida pelas usinas.
O processo de venda das térmicas teve início em julho de 2023. O interesse da Eletrobras em se desfazer das usinas é parte dos planos da companhia de se tornar uma empresa de geração 100% renovável, além de iniciar soluções para o passivo da Amazonas Energia.
A Âmbar foi a compradora ideal porque assumiu o risco de calote da Amazonas Energia nos contratos e aceitou o desenho de um mecanismo de recuperação de crédito. Caso a Âmbar Energia decida comprar a distribuidora, a Eletrobras ganhará uma opção de compra que, segundo a empresa informou em nota, vai possibilitar “a captura do benefício econômico fruto da recuperação operacional e financeira da distribuidora.”
O mecanismo funcionaria da seguinte maneira: no caso de compra da Amazonas Energia pela Âmbar, em vez de aportar os créditos que tem contra a distribuidora em ações da empresa, a Eletrobras ganhará uma opção com valor equivalente a esses créditos.
A Eletrobras poderá converter esse valor em participação acionária na Amazonas Energia; poderá vender essa opção para terceiros – que virariam sócios na distribuidora -; ou poderá exercer esse crédito contra a Âmbar.
É o segundo negócio de empresas da J&F envolvendo ativos de energia. Semana passada, a Fluxus, petroleira do grupo, adquiriu a Pluspetrol Bolívia, dona de três campos de gás naquele país.
Para o ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) Edvaldo Santana, a Eletrobras “se livra” de usinas que contrataram eletricidade para a Amazonas Energia, que não paga por essa compra. Para ele, a operação é “extremamente complexa de entender”, por serem ativos que quase não recebem pela energia que geram, mesmo que tenham direito à Conta Consumo de Combustíveis (CCC), subsídio pago via tarifa de energia para bancar o combustível de usinas dos sistemas isolados.
“A distribuidora [Amazonas Energia] recolhe a CCC mas não repassa para as térmicas. E o resultado final da operação irá depender do que acontecerá com a distribuidora, já em processo de caducidade”, afirmou Santana.
Para o Bradesco BBI, a venda dos ativos foi um movimento positivo ao encerrar o risco da Eletrobras lidar com a Amazonas Energia. O Itaú BBA destacou que a operação simplifica o portfólio da Eletrobras.