Leilão de baterias pode ser esvaziado, alerta diretor do ONS
A depender do modelo de contratação de usinas no Leilão de Reserva de Capacidade (LRCap) no setor elétrico, o governo pode esvaziar a demanda por armazenamento de energia esperada na primeira contratação de sistema de baterias no Brasil. A avaliação é do diretor de planejamento do Operador Nacional do Sistema (ONS), Alexandre Zucarato, que trabalha na elaboração de cenários de riscos para o suprimento de energia elétrica no país.
“O poder concedente [o governo] vai precisar, ao organizar o calendário desses leilões, pegar a demanda requerida para o horizonte e dividir essa demanda para os diversos produtos”, disse Zucarato em entrevista a jornalistas, durante evento do portal especializado “MegaWhat”.
Os “produtos” são os tipos diferentes de energia ofertada (térmica ou hidráulica), com prazos para início da entrega dos montantes negociados no certame. “A demanda tem que ser fatiada para todos esses produtos”, explicou. “Se você contratou tudo que precisa no leilão de térmico-hidráulico, por definição, a demanda para o leilão de bateria é zero”, completou.
O Ministério de Minas e Energia (MME) chegou a definir, no início do ano, as diretrizes do LRCap, com data da disputa para o dia 27 deste mês. Porém, uma guerra de liminares deflagrada no fim de março, puxada por grupos ligados à geração térmica a gás natural e biodiesel, levou o governo a cancelar a licitação.
O LRCap é uma das principais resposta do governo à crescente demanda por potência, aspecto da operação do sistema capaz de fazer frente às fortes oscilações na oferta de energia por fontes renováveis (eólica e solar). O ONS tem sido desafiado a lidar com o fato de o consumo de energia ao longo do dia não coincidir com os montantes gerados pelos ventos e pelos painéis solares localizados especialmente no Nordeste.
O MME ainda não conseguiu fechar o modelo final de contratação do LRCap, que tem provocado disputa entre os diferentes geradores. Esse cenário coloca em dúvida a possibilidade de realizar o leilão ainda este ano.
Para 2025, o ONS projeta um déficit estrutural de potência de 4,2 gigawatts (GW), conforme parâmetro de risco definido pelo governo, por meio do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Embora as renováveis respondam pela maior parte do desafio da operação, a dificuldade reposição dos reservatórios das hidrelétricas também demanda maior oferta de potência.
“Não é o pior cenário, é um cenário com uma métrica de risco embutido que a gente utiliza. Quando compara com essa métrica de risco, considerando onde é que está a potência firme do sistema e onde é que está a demanda esperada para o ano, a gente identifica uma diferença de 4,2 GW”, disse Zucarato. Segundo ele, parte dessa demanda está sendo suprida com a antecipação de projetos do LRCap realizado em 2021.
Em paralelo à discussão sobre a contratação de potência, o mercado aguarda a definição das diretrizes do primeiro leilão de armazenamento de energia por baterias. A nova modalidade de serviço ao sistema tem mobilizado fornecedores nacionais e multinacionais com interesse em buscar investidores para participar do certame.
A expectativa é que as baterias sejam introduzidas aos poucos devido ao custo elevado de aquisição dos equipamentos. Zucarato defende o caráter estratégico desses sistemas de armazenamento de energia – seja com as hidrelétricas, preservando água nos reservatórios, seja por meio dos grandes bancos de baterias.
“O ‘santo graal’ da transição energética é o armazenamento de energia”, disse o diretor do ONS. “Permite extrair energia de uma hora do dia e devolver essa energia em outra hora do dia. Muitos dos operadores no mundo estão buscando uma forma de integrar tecnologias de armazenamento, de diversos tipos, para ajudar a transferir o excesso do meio-dia para as necessidades noturnas”.