Sábado, 2 de Agosto de 2025

Cai demanda em redes fixas, mas 5G puxa redes móveis

 A receita global do setor de equipamentos de telecomunicações diminuiu 5% em 2023, em relação a 2022, de acordo com o relatório divulgado pela consultoria Dell’Oro. O resultado negativo, o primeiro em cinco anos, é decorrente da redução de investimentos em banda larga doméstica por parte das operadoras. Ainda segundo o levantamento – que analisou os segmentos de acesso de banda larga, transporte ótico e de micro-ondas, rede central móvel, rede de acesso via rádio (RAN), roteadores e switches para provedores de serviços de internet -, o mercado encolheu mais do que o esperado na América do Norte, onde houve queda anual de cerca de 20%, influenciada pelo fraco desempenho de equipamentos de RAN e banda larga. 

 Presente no Brasil há 50 anos, a Furukawa Eletric, uma das principais fornecedoras de fibra ótica do país, registrou no ano fiscal de 2023 (encerrado em março) o primeiro resultado negativo em 20 anos. A receita na América Latina caiu 30% em comparação ao ano anterior, 80% da redução atribuída ao segmento de telecomunicação. “O derrame de produtos chineses no mercado, principalmente no Brasil, que levou a um cenário competitivo desfavorável, aliado a uma desaceleração pós-pandemia, quando o setor assistiu a um boom da demanda, colaboraram para a queda do faturamento”, afirmou Foad Shaikhzadeh, CEO da Furukawa LatAm, durante o Furukawa Summit 2024. “A estabilização do mercado em termos de estoque e demanda, porém, deve acontecer em um ano e meio”. 

 Segundo Celso Motizuqui, gerente geral da Furukawa Eletric LatAm, a queda só não foi maior porque a companhia atua em várias frentes. “Focamos em projetos de infraestrutura de fibras óticas em países da América Latina que estão mais atrasados que o Brasil e na instalação de novos datacenters, um movimento forte em razão do avanço da inteligência artificial”, afirma. “Também trabalhamos para agregar mais valor às soluções oferecidas e levar a fibra invisível para dentro da casa do consumidor”. 

 Se por um lado o setor de redes fixas teve queda, o de redes móveis registrou bom momento e a tendência é de expansão com o avanço do 5G. De acordo com o relatório Ericsson Mobility Report, até 2030 as receitas decorrentes da digitalização no Brasil deverão totalizar R$ 391 bilhões, desses R$ 153 bilhões impulsionados pelo 5G. “ A tecnologia não traz apenas maior capacidade de dados e velocidade, mas redes de performance diferente, possíveis de serem programadas e com oferta de camadas para diversos usos”, diz Rodrigo Dienstmann, presidente da Ericsson para o Cone Sul da América Latina. “O nosso propósito é criar plataformas para os clientes desenvolverem novos modelos de negócios a partir do 5G”. 

 Na visão de Carlos Roseiro, diretor de ICM marketing da Huawei, quatro importantes frentes nortearão os trabalhos num futuro próximo: melhora da experiência das pessoas no consumo de dados, o que levará ao surgimento de novos serviços; a fibra chegando em mais lugares, sobretudo cidades com menos de 30 mil habitantes; empresas com mais apetite por redes privativas, e veículos autônomos. “Se temos mais consumo de dados, mais carros conectados, precisamos de estradas mais conectadas” diz. “Uma coisa puxa a outra”. Líder de infraestrutura para Tecnologia da Informação e Comunicação e dispositivos inteligentes, a Huawei alcançou um faturamento global de US$ 97,3 bilhões em 2023, com 23,4% da receita investidos em P&D, cerca de US$ 22,7 bilhões. 

 “Estamos diante de uma mudança total de paradigmas, que demandará combinação eficiente de baixa latência e alta velocidade de resposta”, diz Sergio Calado, diretor de soluções em redes fixas da Nokia Brasil. No primeiro trimestre de 2024, a Nokia América Latina registrou aumento de 4% no volume total de vendas em relação ao mesmo período de 2023. Parte do resultado deve-se ao Corteca, software de conectividade residencial de ponta a ponta para dispositivos de banda larga, que permite aos provedores de serviço uma melhor experiência do cliente, geração de novas receitas e redução dos custos operacionais. 

 Quem também enxerga um horizonte promissor é Sinclair Fidelis, country manager da Alcatel-Lucent Enterprise no Brasil (ALE). “Quanto maior a demanda por conectividade e aplicação de internet das coisas (IoT) e inteligência artificial (IA), maior a necessidade de bandas e equipamentos robustos”, assegura. “Há cinco anos, a switch de 1 gigabite por segundo era a mais procurada. Hoje a demanda é por equipamentos de 10 e 25 gbps. Para 2027, a busca será por 100gbps”. Fidelis observa que entre 2020 e 2023, a companhia triplicou o faturamento no Brasil, que responde por 2,5% da receita global. Entre os principais investimentos da ALE estão uso de IA aplicada para automatizar e otimizar a gestão das redes, ampliação dos serviços de segurança e incremento de soluções de IOT. 

 

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