6G pode contribuir para aumentar a inclusão digital
As redes de banda larga avançam pelo país, mas ainda permanecem as desigualdades de acesso à informação e ao conhecimento. “É uma questão de direitos humanos, já que, além de democratizar a informação, é possível oferecer educação a distância e outras aplicações”, diz o cientista Paulo Rufino, afiliado à CTIF Global Capsule Foundation e líder em pesquisas em tecnologias quânticas e redes 6G.
Rufino diz que é fundamental haver regulamentação para a educação, não apenas para os povos originários e mais vulneráveis, mas também para jovens, que podem fazer mau uso da rede e não ter segurança. A questão já permeia o desenvolvimento do 6G, que só chega ao mercado em 2030.
O crescimento da conectividade é vital para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. “Pela primeira vez, o desenvolvimento do 6G traz uma discussão multidisciplinar que passa por questões éticas. As tecnologias disruptivas devem seguir padrões de proteção, com base nas leis universais dos direitos humanos”, afirma Rufino.
Pontos como o etarismo também estão no radar, já que novas tecnologias são projetadas para usuários de diferentes condições. “Por ser a primeira multissensorial, com interações imersivas e realistas entre os mundos físico e digital, a rede 6G abre possibilidades para pessoas com níveis de deficiência ou de carências psicológicas”, diz Hermano Pinto, diretor do Futurecom.
O estudo da instituição GSMA mostra as barreiras para a inserção de grupos e comunidades vulneráveis com um recorte de gênero. “No acesso, temos melhorias no Brasil e somos um ‘benchmark’, porém, temos dificuldades na questão de gênero. A probabilidade de uma menina ter acesso a um celular com internet é 70% menor às de um menino em países de baixa e média renda”, diz Camila Achutti, CEO da Mastertech e delegada do W20 Brasil (um dos grupos de engajamento do G20).
Achutti avalia que o país tem boas ideias no papel. A computação, por exemplo, é parte da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) há alguns anos. “Só não conseguimos treinar professores em escala para promover a transformação. Já sabemos o que fazer, só ainda não sabemos como.”
Pesquisa encomendada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em 2023 mostrou que 30% da população tem habilidades básicas e 18%, intermediárias. A meta é que o total da população com aptidões intermediárias chegue a 30% em 2027.
Já sabemos o que fazer, só ainda não sabemos como” — Camila Achutti
Aprimorar a experiência do usuário é outro tema recorrente na pauta do ecossistema. “Não é de hoje a busca por soluções e dispositivos mais amigáveis, por exemplo, para um usuário com dificuldade visual, que pode utilizar recursos de fala”, diz Rafael Figueiredo, gerente da área de comunicações ópticas e quânticas do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD).
Em relação à expansão do 5G, todas as cidades do país devem ter sinal em plenitude até o fim de 2029. “O Brasil é referência em qualidade do 5G. Estamos no terceiro lugar do ranking global da consultoria Opensignal”, diz Vinicius Oliveira Caram Guimarães, superintendente de outorga e recursos à prestação da Anatel. No leilão 5G, o modelo foi não arrecadatório, tendo como contrapartida investimentos para levar o serviço a regiões com pouca ou nenhuma infraestrutura. “Temos esse plano inédito de inclusão digital e fixamos compromissos para garantir isso”, afirma Caram.
O Norte Conectado visa expandir a estrutura na região pan-amazônica, com cabos de fibra subfluviais, em oito infovias abrangendo 13 mil quilômetros e investimentos de R$ 1,3 bilhão. “Mais de 50% foram lançados. Iniciamos tratativas com países vizinhos para criar um corredor óptico intercontinental Atlântico-Pacífico”, diz Sidney Azeredo Nince, assessor da agência.
A competitividade gerou redução média no preço da telefonia móvel em torno de 34% entre 2020 e 2023, segundo a Anatel. “Em comparação ao setor de ‘utilities’, os serviços foram os únicos que registraram queda. Nos demais, tudo subiu”, diz Marcos Ferrari, presidente-executivo da Conexis Brasil Digital e da Confederação Nacional de TI e Comunicação.