Indústria mantém otimismo, mas enfrenta escassez de insumos e elevação dos custos
Jornal do Comércio/RS - 25/05/2022

Semicondutores são um dos componentes que ainda estão em falta no mercado, segundo a Abinee

Semicondutores são um dos componentes que ainda estão em falta no mercado, segundo a Abinee
CLAITON DORNELLES/ARQUIVO/JC

Diversos segmentos industriais esperam crescer em 2022 após as medidas mais restritivas quanto ao combate ao coronavírus terem ficado para trás. No entanto, algumas dificuldades estão sendo enfrentadas em determinadas áreas, como a escassez de materiais e a elevação acentuada dos custos, um efeito mundial que também se reflete no Brasil e no Rio Grande do Sul.

Particularmente quanto à falta de insumos, a maior preocupação concentra-se no campo dos eletroeletrônicos. O diretor da regional da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) no Rio Grande do Sul, Régis Haubert, detalha que itens que apresentaram problemas de abastecimento em 2021,como polímeros e metais, não representam mais um obstáculo neste ano. No entanto, no que diz respeito a semicondutores, o dirigente informa que ainda se verifica falta de oferta no mercado. “Não está nada fácil e a previsão é que isso se estenda até o final de 2023”, adianta.

Conforme o diretor da Abinee, a carência desses componentes passa por um aquecimento do mercado da Internet das Coisas (IoT). Ele frisa que a transformação digital que está ocorrendo no mundo hoje está exigindo muitos insumos e as fábricas não estão conseguindo atender às demandas apresentadas. Além disso, outra questão citada por Haubert é a guerra entre Rússia e Ucrânia, países que são grandes produtores de paládio e gás neônio, elementos utilizados na produção de chips. A falta de contêineres, operação padrão da Receita Federal e os elevados valores dos fretes também são fatores que atrapalham o transporte de matérias-primas.

O dirigente adverte que todos os segmentos que utilizam microchips são impactados por essa situação. “Na Abinee, estamos prevendo que haverá uma redução de 10% na oferta de celulares (no mercado brasileiro) neste ano devido ao desabastecimento”, informa Haubert. A escassez de semicondutores, segundo o diretor da Abinee, começou no início da pandemia de coronavírus, em 2020, e foi se agravando quando algumas companhias tiveram que parar a produção. Haubert ressalta que a menor oferta de insumos reflete nos custos.

“Virou um leilão. As empresas estão buscando os componentes em qualquer parte do mundo e os reajustes em dólar variam de 5% a 250%, conforme o item”, comenta o dirigente. Apesar desses desafios, o diretor da Abinee diz que o setor está otimista e esperando crescimento para este ano. Dependendo do segmento, a perspectiva é de uma evolução de 5% a 15%, em âmbito nacional, com o Rio Grande do Sul devendo ter um desempenho semelhante.

O vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos da regional Rio Grande do Sul (Abimaq- S), Hernane Cauduro, comenta que o problema de fornecimento de insumos do setor diminuiu em relação ao ano passado, apesar de continuar principalmente na área eletroeletrônica. O dirigente relata que esse segmento tem apresentado reprogramações e prazos de entregas muito longos em razão das dificuldades de abastecimento, sobretudo de semicondutores, que são materiais básicos de qualquer componente eletrônico.

“Uma boa parte desse incremento, no Estado particularmente, será puxada por máquinas agrícolas”, prevê o vice-presidente da Abimaq-RS. Ele lembra que em torno de 60% do que é produzido nessa área no País é proveniente do Estado. Uma prova que esse setor está aquecido, salientada por Cauduro, foi a feira Agrishow, realizada em Ribeirão Preto (SP) no mês passado e que gerou um recorde em negócios de R$ 11,2 bilhões.

Quanto à Covid-19, o representante da Abimaq-RS diz que o assunto ainda gera apreensão. “Claro que já aprendemos a conviver melhor com isso, não tem as radicalizações de fechar, bloquear ou parar, mas preocupa sim”, afirma.