Coleta de lixo eletrônico esbarra em falta de conhecimento, diz estudo. Você sabe o que é?
Valor Online - 07/10/2021

Coleta de lixo eletrônico esbarra em falta de conhecimento, diz estudo. Você sabe o que é?

 A maioria dos brasileiros ouviu falar em lixo eletrônico, mas poucos sabem o que realmente é isso. Essa foi a constatação de um estudo inédito feito pela empresa Radar Pesquisas e encomendado pela Green Eletron, gestora de sistema coletivo de coleta criada em 2016 pela associação brasileira da indústria elétrica eletrônica (Abinee). 

 A disseminação das informações sobre lixo eletrônico e os meios de coleta e descarte correto desses equipamentos ganhou especial importância em 2021. A partir deste ano, fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de eletroeletrônicos precisam implementar um sistema de logística reversa dos produtos usados pelo consumidor. A decisão foi estabelecida por decreto presidencial em fevereiro de 2020. 

 O não cumprimento pode levar à suspensão de licenças de funcionamento ou à não concessão de licença de importação, por exemplo, e, dependendo do caso, multas aplicadas podem chegar a R$ 50 milhões. As regras estão em vigor desde o dia 1º de janeiro. Em 2021 será necessário coletar e reciclar 1% de tudo o que a indústria produziu em 2018. E esse índice deverá chegar a 17% em 2025.

“Com os resultados da pesquisa vamos revisitar nossa estratégia de comunicação. O consumidor tem o papel mais importante na logística reversa”, diz Ademir Brescansin, gerente executivo da Green Eletron. 

 Para este ano, a meta da gestora e suas empresas representadas é coletar 500 toneladas de lixo eletrônico, mas “não está fácil chegar”, segundo o executivo, pois muitos pontos foram afetados pela pandemia, com isolamento social e fechamento temporário de lojas. 

Em 2020, 88,7 toneladas de eletroeletrônicos foram recolhidos pela rede de coleta da Green Eletron, bem abaixo das 332,4 toneladas de 2019. A expectativa é de que com a retomada mais consistente das atividades até o fim do ano dê um impulso para a coleta em 2021, diz Brescansin. 

 O levantamento “Resíduos eletrônicos no Brasil - 2021”, divulgado agora, foi feito em maio deste ano com 2.075 pessoas de 13 Estados e do Distrito Federal. Entre os que mais conheciam o termo estão homens, das classes A e B e mais velhos. Dos entrevistados, 71% alegaram que não há muita informação na mídia sobre o lixo eletrônico e seu descarte correto. 

 Numa segunda etapa, foi pedido que o respondente identificasse se determinado aparelho poderia ser considerado lixo eletrônico. “Conforme o aparelho aumenta de tamanho, diminui a impressão de que seja lixo eletrônico”, afirma Joana Belo, sócia-diretora da Radar Pesquisa. Microondas, geladeiras e televisores foram menos classificados como lixo eletrônico do que celulares, carregadores e teclados de computador, por exemplo. Além dos itens de maior volume, lâmpadas também não foram identificadas como lixo eletrônico para 39% dos entrevistados. A dificuldade dessa definição é fator limitante para o descarte correto. 

 Mas muitos brasileiros também não conhecem pontos de entrega voluntária (PEV). Pelo menos um terço (33%) nunca ouviu falar sobre esses pontos ou locais de destinação correta dos equipamentos, em especial os entrevistados da classe C (41% não sabiam). Dos que conheciam, 20% alegaram não ter um ponto próximo e 21% disseram não existir onde moram. 

 De acordo com o Acordo Setorial para a Logística Reversa de Produtos Eletroeletrônicos, um documento complementar à PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos), até 2025, as empresas terão que instalar mais de 5 mil PEVs nas 400 maiores cidades do Brasil. Atualmente a Green Eletron, que representa 64 fabricantes e importadoras de eletroeletrônicos e 30 fabricantes de pilhas, tem 731 PEVs. 

 Se falta conhecimento para o consumidor se enxergar como elemento no ciclo da logística reversa, falta também estrutura para processar o que é recolhido atualmente, diz Brescansin. 

“Existe uma cadeia de empresas certificadas, mas está concentrada no Sudeste e no Sul. Hoje, são apenas 6 processadoras homologadas pela Green. O que coletamos no país precisamos trazer para o Sudeste”, conta.

 Ele diz, ainda, que há também limitação para processar alguns materiais, como metais preciosos presentes em placas eletrônicas, que precisam ser exportadas para haver reciclagem. “Espero que com o aumento da coleta alguma empresa se instale aqui.”