A retomada de algumas indústrias, como a automobilística, deixou à mostra uma disputa de vários setores por um componente bem pequeno e que faz toda a diferença.
Uma peça pequena, mas, sem ela, celulares não funcionam, carros novos não andam. Por isso, indústrias tão diferentes travam uma disputa pelos semicondutores, matéria-prima dos chips que deixam tudo mais tecnológico. O problema é que os semicondutores estão em falta no mundo inteiro.
Um analista de tecnologia diz que a produção dos componentes é muito concentrada na Ásia e a região teve problemas, como uma grande estiagem.
“Utiliza-se muita água na produção de processadores, nas fábricas, então essa estiagem está impactando a produção de processadores em Taiwan. Nós também tivemos problema de incêndio de fábricas no Japão de chips, o que acabou também impactando”, explicou Márcio Kanamaru, sócio-líder de tecnologia, mídia e telecom da KPMG.
E os impactos já chegaram ao Brasil. A indústria automobilística sentiu primeiro.
“Estamos com cobertura baixa de estoque de peças e componentes que usam os semicondutores, então nós estamos fazendo um monitoramento diário de toda cadeia logística”, disse o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes.
Um carro mais moderno tem de 300 a 400 semicondutores. No início da pandemia, as montadoras suspenderam as encomendas porque andar de carro zero não era prioridade. Esses componentes foram parar nas fábricas de computadores e celulares, que estavam em alta com o avanço do home office. Mas aí, quando o consumidor voltou para as concessionárias, a indústria automobilística teve que ir para o fim da fila esperar pela vez de comprar semicondutores.
Na primeira semana de abril, cinco montadoras estavam com problemas nas linhas por diversos fatores ligados à pandemia. Dez fábricas em quatro estados estavam paradas total ou parcialmente.
A crise de fornecimento também bateu na porta das empresas de eletroeletrônicos, principalmente das que fabricam tablets, computadores e celulares.
“Isso tem afetado algumas empresas gerando alguns atrasos de entrega, entretanto não me parece que o consumidor tenha percebido isso, porque tanto os estoques existentes nas indústrias como no varejo deram conta de atender a essa demanda. Fica claro que a necessidade de ter uma indústria forte no Brasil é estratégica para momentos de dificuldade como esse que estamos passando”, afirmou o presidente-executivo da Abinee, Humberto Barbato.