Chegou a hora do armazenamento em baterias?
EPBR, ESG Energia e Negócios - 26/04/2024

Com custos em queda e incentivos políticos, o crescimento na indústria de baterias superou quase todas as outras tecnologias de energia limpa em 2023, aponta relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês).

O estudo mostra uma tendência: em menos de 15 anos, os preços caíram mais de 90%, uma das quedas mais aceleradas no segmento de tecnologias relacionadas à transição energética.

Os preços das baterias de íon-lítio caíram de US$ 1,4 mil por quilowatt-hora em 2010 para menos de US$ 140 por quilowatt-hora em 2023, como resultado do ganho de escala na fabricação. A densidade energética também melhorou, o que permite o empilhamento em “pacotes muito mais leves e compactos” para transporte.

A corrida por instalações solares e eólicas e a necessidade de garantir o fornecimento de energia independente das condições climáticas está acelerando a demanda por sistemas de armazenamento associado às renováveis.

De acordo com a IEA, hoje o setor de energia responde por mais 90% da demanda total por baterias baseadas em íon-lítio – mercado que já foi dominado pelos produtos eletrônicos.

Apenas em 2023, o crescimento no setor de energia foi de mais de 130% em relação ao ano anterior, adicionando um total de 42 gigawatts (GW) ao redor do mundo.

No setor de transporte, a procura também se manteve aquecida, com as vendas de mais de 14 milhões de veículos elétricos no ano passado.

Previsão de expansão acelerada
A fabricação global de baterias mais do que triplicou nos últimos três anos – a maior parte da capacidade na China. Mas o relatório mostra que 40% dos planos anunciados para novas fábricas estão em países ricos como Estados Unidos e os membros da União Europeia.

“Se todos esses projetos forem construídos, essas economias teriam quase fabricação suficiente para atender suas próprias necessidades até 2030 no caminho para emissões líquidas zero”, diz a agência.

Para triplicar a capacidade global de energia renovável até 2030, como foi acordado na COP28, serão necessários 1.500 GW de armazenamento. Isso significa multiplicar por seis a capacidade atual.

Os custos vão precisar cair ainda mais para viabilizar essa meta. E as cadeias de suprimentos precisam se diversificar – da extração e processamento dos minerais críticos até a fabricação das próprias baterias.

Alguns já entraram nessa corrida [contra a China]: Estados Unidos, União Europeia e Índia são exemplos de economias com programas e políticas industriais que tratam diretamente do tema.

Mercado brasileiro
No Brasil, o armazenamento de energia dá os primeiros passos para ganhar mercado e espaço nas políticas associadas à transição.

Entrou no Paten (PL 5174/2023), na lista de setores prioritários para financiamento. O texto também insere as baterias entre os produtos que recebem benefícios do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (Padis). Aprovado pela Câmara em março de 2024, o projeto de lei ainda precisa passar pelo Senado.

Há ainda um movimento de associações empresariais para incluir a solução em leilões de energia.

Em recente nota conjunta (.pdf), Abaque, ABEEólica, Absae, Absolar e Abinee defendem a contratação de baterias associadas à geração renovável no leilão de reserva de capacidade marcado para agosto.

O grupo cita exemplos de China, Estados Unidos e Europa, que juntos somam cerca de 34 GW de energia renovável associada às baterias.

Novos investimentos
O potencial do mercado brasileiro já desperta a atenção de companhias nacionais e estrangeiras.

Esta semana, a brasileira UBC Power (antiga Unicoba) anunciou o investimento de R$ 380 milhões em uma fábrica no Sul de Minas Gerais para o desenvolvimento de soluções de armazenamento de energia em BESS.

Os aportes previstos para aplicação entre 2024 e 2028 foram viabilizados a partir de uma parceria com o Governo de Minas e a agência de fomento Invest Minas.

As BESS são containers de baterias utilizadas em projetos de grande porte.

Em outra frente, a chinesa SolaX reestruturou seus negócios no Brasil no último ano para levar a solução de armazenamento às residências.

O grupo lançou sua tecnologia no mercado asiático em 2013 e no Europeu em 2015. A chegada ao Brasil, no entanto, só ocorreu no ano passado, após a publicação da portaria 140 do Inmetro que permite a comercialização dos inversores híbridos.

“O mercado de armazenamento de energia no Brasil, assim como no resto do mundo, acaba ganhando mais relevância com a popularização dos veículos elétricos que contribuíram para a redução dos custos das baterias e, consequentemente, tornando esse produto mais acessível”, explica Gilberto Camargos, diretor-executivo da SolaX Power no Brasil.

Ele conta que a aplicação das baterias aos sistemas fotovoltaicos residenciais se popularizou em mercados como Europa, EUA, Austrália e Japão, como uma solução de segurança energética.

Aqui no Brasil, ele aponta que é uma forma de proteger o consumidor contra apagões, além de reduzir gastos com energia elétrica.

“Estamos vendo a classe residencial abrindo portas, gerando demanda e, consequentemente, vamos começar a ver grandes projetos aqui. Porque o armazenamento faz parte do processo de transição energética, as baterias entram na rede para contribuir e para trazer equilíbrio. Então, as próprias políticas públicas já estão olhando para esse ponto. É uma evolução da infraestrutura elétrica”, completa Camargos.

Substituindo geradores
No início deste mês, RD Saúde, rede que engloba as drogarias Raia e Drogasil, passou a testar o armazenamento em uma de suas farmácias em São Paulo, substituindo um gerador a diesel.

Desenvolvido pela Tecnogera, o sistema móvel de energia reaproveita baterias de lítio e  teve investimento de R$ 1 milhão. A tecnologia é totalmente brasileira e a empresa espera movimentar o mercado de locação de energia em até R$ 5 milhões nos próximos cinco anos.

É uma solução para o fim da vida útil dos sistemas, cujo descarte ainda é uma questão desafiadora dada a necessidade de expansão desse mercado.

“Haviam poucas soluções para o que fazer com esse tipo de descarte depois que seu ciclo de vida em aplicações da mobilidade acabasse. Nós encontramos a solução: usá-las para o armazenamento e fornecimento de energia em mercados já existentes e que geralmente usam equipamentos a diesel”, explica Arthur Lavieri, CEO da Tecnogera.

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