Contrabando de celulares dispara e indústria quer punição à Amazon e Mercado Livre
Convergência Digital - 26/03/2024

A indústria de celulares instalada no Brasil está em pânico com a disparada do contrabando de celulares. Segundo a Abinee, em 2023 um em cada quatro celulares vendidos no país entrou no país ilegalmente, pelo Paraguai, em movimento liderado pelas fabricantes chinesas Xiaomi, Realme e OPPO. 

Segundo a Abinee, a responsabilidade é especialmente da Amazon e do Mercado Livre, mas a associação reconhece que a prática já foi generalizada – exatamente pelo sucesso de vendas de telefones irregulares vendidos por essas plataformas. 

“A facilitação do comércio foi que fez esse volume disparar. Enquanto não tiver responsabilidade solidária dos marketplaces, quando colocam produto à venda, não tem como frear esse aumento exponencial da venda. Em dezembro, mencionamos Mercado Livre e Amazon, mas por sentirem que perderam esse mercado, outros marketplaces passaram a vender também”, afirma o presidente da Abinee, Humberto Barbato. 

Segundo a entidade, o mercado “cinza” mordia 8% do total em 2022, quando calcula terem sido comercializados 3 milhões de aparelhos contrabandeados. Em 2023, esse número não parou de crescer a cada trimestre: 9%, 11%, 17% e 25% no fim do ano passado, quando o total de aparelhos irregulares chegou a 6,2 milhões. 

 

“Contrabando sempre existiu, nossa fronteira é pulverizada. A diferença é a facilidade de escoamento desse contrabando por meio dos marketplaces. E como eles continuam a impulsionar de forma ostensiva os telefones contrabandeados, os outros marketplaces se viram em situação de perda total de mercado e reabriram para anúncios de telefones irregulares de novo. Como isso está  crescendo de forma exponencial, se continuar esses 25% vão chegar a 30% ou 35%”, diz o diretor de dispositivos móveis da Abinee, Luiz Cláudio Carneiro.

Preço

O foco desse mercado cinza são aparelhos mais baratos, entre R$ 1 mil e R$ 1,3 mil. Como não recolhem imposto, eles competem com as versões legítimas desses aparelhos, que custam entre R$ 1,9 mil e R$ 2 mil. Até por isso, a Abinee estima a perda de arrecadação em R$ 4 bilhões por ano – R$ 1 bilhão só no estado de São Paulo. 

Vale lembrar que em 2022, a Anatel anunciou medidas sobre os marketplaces. Segundo a Abinee, a ação teve efeito em um primeiro momento, mas o mercado logo se rearranjou. “Mudou a forma de operação. Na época, havia estoques físicos de distribuição. Agora não tem mais. Os aparelhos chegam 10h, às 11h já saem para entrega. Por isso, as autoridades alegam que dificultou a materialidade do crime”, diz Carneiro. 

A indústria insiste que o alvo de ações mais efetivas deve ser os marketplaces. “O marketplace faz parte do negócio. Não tem como dizer que não. Quando se compra um telefone, o pagamento é para o marketplace, seja boleto, cartão de crédito. E hoje, os seis ou sete maiores marketplaces têm anúncios de aparelhos irregulares”, explica o diretor de dispositivos móveis da Abinee. 

O presidente da entidade ressalta que o avanço do contrabando é ameaça direta às fábricas instaladas no país. “Existe um risco efetivo de fechamento de fábricas no Brasil. Estamos falando de 25% do mercado. O contrabando já é o segundo lugar em marketshare no Brasil. Então é natural que as empresas avaliem se ainda é viável manter fabricação aqui. Se as autoridades não tomarem medidas mais drásticas, severas, os investimentos no Brasil serão colocados em risco”, afirma Barbato.