Inteligência artificial é destaque na Distributech 2024
O Setor Elétrico - 20/03/2024

Não se fala em outra coisa no setor elétrico: inteligência artificial, data driven, big data, machine learning etc. Essas e outras tecnologias disruptivas deixaram de ser apenas tendência para se tornarem produtos e serviços prontos e aplicáveis em diversos setores da economia, incluindo o mercado de energia, entregando praticidade, dinamicidade e eficiência. Quem passeou pelos corredores da Distributech 2024, evento internacional do setor de distribuição, que aconteceu recentemente nos Estados Unidos, viu isso de perto. A Revista O Setor Elétrico esteve presente no congresso e traz alguns destaques a seguir. 

Realizada de 27 a 29 de fevereiro, em Orlando, nos EUA, a Distributech é uma das principais e maiores feiras de energia do mundo. Para se ter uma ideia, foram 650 expositores e mais de 17 mil visitantes, oriundos de 67 países, reunidos para discutir o futuro da distribuição de energia. Futuro este que já é realidade em muitas empresas e regiões e foi amplamente debatido nos auditórios e área de exibição do evento. 

De fato, a inteligência artificial foi a grande protagonista da Distributech. Dos cinco palestrantes mais importantes e aguardados do evento, os chamados keynote speakers, quatro deles falaram diretamente sobre o tema. Em mensagens claras e diretas, todos afirmaram que a IA é um caminho sem volta e que a sociedade dependerá dela daqui para a frente. Destaque no painel de abertura da Distributech 2024, o futurista Zack Kass, ex-executivo de Go-To Market da OpenAI, instituição responsável pela criação do ChatGPT, afirmou que “a IA foi a última tecnologia que os humanos inventaram por conta própria”, chamando a atenção de todos para a relevância do tema nos dias atuais.

De acordo com o especialista, o mundo está passando pela mais profunda revolução industrial da história da humanidade, saindo da construção de sistemas que pensam em linha reta, para a construção de tecnologias que se comportam exatamente como o nosso cérebro, em paralelo. Para o futurista, a inteligência artificial se tornará uma utility no futuro, assim como água e a energia elétrica. A eletricidade, a propósito, será o insumo fundamental para o ambiente de desenvolvimento da IA. Kass afirmou ainda que a quantidade de energia necessária para a IA é equivalente a campos solares do tamanho do Arizona e do Texas, que estão entre os 6 maiores estados do país, o que representará um desafio extra relacionado à capacidade de armazenamento e de alimentação de energia para esses computadores. 

Assim como Zack Kass, o executivo responsável por energia na Amazon Web Services, Hussein Shel, afirmou que a IA generativa capturou a imaginação de muitas indústrias e está preparada para trazer a próxima onda de avanços tecnológicos. Para ele, a Inteligência Artificial Generativa, ou GenAI, próximo passo na evolução da IA, capaz de criar texto, imagens e áudios originais, tem imenso potencial para interação humana e tecnológica, dando poder às  empresas que souberem se  aproveitar disso. 

Não é novidade que big techs como Amazon, Google, Meta e outras, avançam rapidamente na compreensão e implantação dessas novas tecnologias. A GenAI, por exemplo, é parte integrante da Amazon.com há bons anos, auxiliando na escolha da rota ideal para movimentar produtos ou otimizar a cadeia de abastecimento. Mas Hussein Shel antecipa que, para a indústria de energia em particular, existem quatro categorias de casos de uso para GenAI: manutenção e segurança; experiência do cliente; operações; e funções cruzadas. 

Embora ainda haja resistência, mesmo os mais conservadores não concordam que a transformação tecnológica no setor elétrico já é real e visível a olho nu. Aos participantes da Distributech, essa percepção ficou ainda mais clara, à medida em que visitavam o parque de exposição do evento, onde era notável a sensível transferência da exibição de hardware para o software. A grande quantidade de telas de Leds, computadores e de efeitos visuais, em detrimento de equipamentos e dispositivos, revelava sistemas complexos de automação, monitoramento, proteção, controle, manutenção e tantas outras áreas dentro dos sistemas de distribuição e de transmissão de energia. 

A IBM, inclusive, aproveitou a Distributech para revelar detalhes de um estudo, que mostrou que 74% das empresas de energia e de serviços públicos pesquisadas, implementaram, ou já estão explorando, o uso de IA em suas operações. Dentro do setor, entre os profissionais de TI pesquisados, 33% estão focando projetos de IA na aquisição de RH/talentos, e 27% estão voltados para monitoramento e governança de IA. As conclusões são do estudo Global AI Adoption Index 2023 da IBM, com base em entrevistas com 2.342 profissionais de TI, em empresas localizadas em 20 países.

Presença brasileira

O evento contou com a presença de várias delegações de grandes players do setor elétrico brasileiro, que  foram ao evento como expositores ou mesmo como visitantes. Vale destacar, que havia na área de exposição, um espaço dedicado ao Brasil, em que 22 empresas expuseram suas soluções, em um ambiente facilitado pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e investimentos (ApexBrasil). 

Delegação brasileira – legenda: Delegação brasileira organizada
pelo US Commercial Service, da Embaixada Americana no Brasil,
da qual a revista OSE fez parte.

Com um estande no espaço, a HVEX, que atua no mercado brasileiro na área de tecnologia para monitoramento de ativos, avaliou positivamente a participação na feira. “Havia profissionais de muitos países, o que para a gente foi muito interessante no sentido de expandirmos nossas aplicações para além do Brasil e Estados Unidos. A qualidade dos expositores foi muito boa também, o que eleva a nossa qualidade de produtos, nos ajudando a mirar nos bons concorrentes”, avaliou o CEO da empresa, Guilherme Ferrari. O executivo enalteceu ainda o apoio da Abinee, que facilitou o processo. “Temos estimativas de fechar negócios com algumas empresas canadenses, americanas, Guatemala, Colômbia e Peru”, conclui.

A empresa IFS, que possui unidade no Brasil, e atua na área de distribuição de energia, também esteve presente.”A meta é participar dos principais eventos do setor elétrico a fim de apresentar as tecnologias desenvolvidas pela empresa”, explica Marcelo Danza, head de vendas da empresa para o Brasil. Antenada às grandes tendências do momento, a IFS apresentou sua solução para gestão de ativos, a qual, a partir do input de informações sobre a operação da utility, realiza análises e faz recomendações com a ajuda de algoritmos próprios, desenvolvidos com inteligência artificial e machine learning.

A Aveva, empresa que já atuava nos setores de geração e transmissão, também  levou à Distributech suas soluções para distribuição de energia. A novidade destacada foi o PI Data Infrastructure, sistema híbrido composto por sensores e aplicação em nuvem, que utilizando de inteligência artificial e aprendizagem de máquina, permite a realização de análises preditivas e prescritivas para tomadas de decisão, gerando valor para as companhias de energia. “Já temos, atualmente, projetos com grandes empresas do setor elétrico, como ONS, Copel e Neoenergia, agora com o upgrade recém-aplicado ao sistema, será possível atender ao segmento de distribuição e contribuir para a modernização deste mercado”, afirmou o vice-presidente Global de Vendas, Javier Barella.

Realizada anualmente em diferentes regiões dos Estados Unidos, a próxima edição da Distributech já tem data e local definidos: será entre os dias 24 e 27 de março de 2025, em Dallas, no Texas.